Despedidas

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Ao abrir os olhos de manhã desejei mais uma vez que fosse tudo apenas mais um pesadelo. Daqueles que você passa a mão na cabeça para esquecer, mas eu poderia me descabelar que não mudaria o fato de ser meu ultimo dia em Sarasota, Flórida , não podia acreditar que amanhã estaria em Olympia capital de Seattle muito pouco conhecida (é claro). E muito mais frio que minha cidade amada.
Levantei e fiz todo minha rotina que já esperava que seria totalmente diferente amanhã, tudo no amanhã me incomodava. Escovei os dentes, os cabelos e troquei de roupa. Uma saia e uma blusinha era o suficiente para a escola. Fazia um calor absurdo que amanhã, novamente, não faria parte da minha rotina.
Desci as escadas para a cozinha e sentei jogando todo meu peso na cadeira. Meu pai estava fazendo ovos com bacon ( coisa que ele amava comer de manhã, eca) e minha tia estava sentada lendo o jornal. Tudo parecia igual aos outros dias, mas eu sabia que não era mais um dia normal na casa dos Hamilton.
Tia Linda olhou para mim pelos óculos de grife e disse:

- Minha menina! Não faça essa cara, você deveria muito curtir o dia de hoje!

Minha Tia era uma mulher admirável, com seus 38 anos, pele tão branca como a minha (só que mais bronzeada é claro), seus cabelos louros queimados pelo intenso sol da Flórida ficavam lindos curtinho. E seus olhos castanhos eram cheios de expressão e eu a amava por isso. Ela se lembrava muito com o meu pai, uma vez que eram gemêos, mas papai tinha os olhos mais claros que o da tia Linda. Ele era realmente bonito. Minha tia era a unica mulher na diretoria de sua empresa. E administrava o setor de Marketing. Uma profissão que eu aprendi a amar com ela. Muito respeitada no trabalho e em casa, nunca pensou em montar uma família e muitas vezez eu imaginava que era por minha causa.

- Bom dia Tia, a senhora está Linda hoje. - rimos com o trocadilho do nome, como eu fazia todas as manhãs.

- Espero que esteja empolgada meu amor, fiz panquecas para comemorar. - geralmente eu amava as panquecas do papai, mas hoje não era um dia para elogiá-lo.

-Então o senhor está me dizendo que estamos comemorando minha partida? -disse com um tom de ironia que meu pai odiava.

- Emma Hamilton. Te proibo de falar comigo assim. Te amo mais que minha vida, você sabe, mas está na hora de passar um tempo com sua mãe.

-Sim pai. - foi minha ultima fala.

Eu nasci em Olympia, mas não lembro de muita coisa de lá, sei que quando tinha 5 anos meu pai separou da minha mãe e me trouxe para morar com ele. Nunca entendi o que gerou a separação deles. Afinal, minha tia sempre me conta que eles eram ( e ainda são) muito apaixonados um pelo outro. " O casal mais lindo que já tive a honra de conhecer", minha tia tinha me dito incontáveis vezes antes de eu dormir. Sempre achei que ela dizia isso para me reconfortar. Nunca mais tive contato com minha mãe. Nunca saberia dizer como ela se parece.

-vou para a aula, não quero me atrasar no meu ultimo dia. - sai da mesa e fui em direção a porta da frente ainda pensando em minha mãe. Abri e fechei a porta então me lembrei da mochila. Entrei em casa e ouvi meu pai e tia Linda conversando.

-Fernando, tem certeza que isso é o melhor para Emma? E os segredos que a envolve desde seu nascimento? Ela vai acabar descobrindo tudo! - minha tia sussurrava para meu pai.

-Linda, logo mais ela fará 18 anos. Ela precisa começar a entender. E a Alice é a única que pode ajudá-la. -Meu pai sussurrava com urgência na voz

-mas aquela mulher está ficando louca.... Lado. -minha tia tinha dito alguma coisa que eu não entendi, mas meu pai continuou.

- e por mais esse motivo Emma precisa voltar a Olympia. Está decidido. Lembre-se que lá temos os Lammanas. -meu pai disse o nome como se encerra-se a conversa.
Peguei minha mochila na sala e corri silenciosamente para fora de casa.

Fui correndo para um parque próximo de casa e sentei a beira de um laguinho. Sempre ia lá para pensar e relaxar, meu celular tocou diversas vezes o toque da música "Rude" da banda Magic. Estava viciada nessa música tanto que coloquei como o toque de meu celular. Era a Beylin e o Charlie me ligando. Meus dois melhores amigos. Beylin era a tipica garota que todos amavam seus cabelos loiros e olhos azuis. Aquela beleza comum que vemos em todas as meninas ricas e decidimos que era o padrão da beleza. Muito meiga e sempre estava ao meu lado para me apoiar. Charlie era o menino "gay" mais incrível do mundo. E amava que seu nome fosse híbrido ( feminino e masculino) ele mais do que ninguém sempre me conheceu e apoiou, até mais do que a Beylin, tia Linda e o papai. Ele parecia conhecer o meu interior mais que eu!
Sabia que não poderia me esconder pra sempre e corri para a escola. Chegando no portão praticamente atrasada, vi o Charlie e a Beylin me esperando. Abracei os dois e segurei o choro. Seria nosso último dia junto. Fomos para sala e ao entrar reconheci a Clarissa no fundo da sala  toda feliz. Claro que estaria feliz, aquela nojenta teria cartão de passe livre para tentar ficar com o Trevor.

-olha.. Quem apareceu. Achei que já tinha fugido para a cidade natal, caipira. - é claro que ela não me deixaria em paz.

- você é realmente loira né Clarissa? Olympia não tem nada de caipira. -respondi me sentando.

-mas é basicamente uma cidade extinta! E por você ter saido de lá deve apenas haver berração não é?
-Silêncio! Emma você já chegou atrasada em seu ultimo dia. E Clarissa vejo que precisa estudar mais geografia. -a professora nos repreendeu e voltou a dar aula.
Passei o resto do dia evitando a Clarissa, não iria deixá-la estragar meu último dia. No intervalo eu avistei Trevor que veio em minha direção.

-Então é hoje não é? Seu último dia aqui? - ele disse daquele jeito meio indiferente e estranhei.

-sim, depois que eu sair da aula vou pegar o voo para Olympia. -Disse com a mesma indiferença.

-ah, claro. Sim então... Bom te conhecer Emma.- ele nao poderia ter sido mais seco. Nem parece que até semana passada estava tentando me "pegar".
-Sim Trevor... Até um dia.- me virei e sai, acho que no fim ele merecia alguém como a Clarissa.
No fim das aulas foi um chororo interminavel de meus amigos e eu, mas meu pai me buscou de carro para eu pegar minha mala e ir para o aeroporto.
Antes de sair do carro olhei para o retrovisor e vi meu longos cabelos castanhos claros e meus olhos castanhos claros beirando ao verde. Minha boca quase  que em formato de coração era extremamente vermelha. Eu quase nunca passava batom, gostava da sua naturalidade. Desci do carro e corri para não perder o avião, dei um longo abraço no papai, choramos e eu entrei para o voo que iria de encontro com o meu castigo. Enfim em mais ou menos 2horas e meia estaria aos cuidados da mulher que me abandonou quando ainda era uma criança.

AcordandoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora