Dama de Vermelho

XXIII - Um dia após o outro

"Uma longa jornada começa sempre por um passo"

Antes de dormir, liguei para Ryan e conversamos um pouco contando o dia um do outro.
Ele me contou sobre a conversa com Regina e com os filhos.

Ainda estava um pouco sentida por ser o motivo do divórcio, mas parte de mim estava aliviada por isso. Já que era para me entregar a esse novo sentimento, que seja exclusividade minha.

Contei a ele sobre o almoço gostoso com minha tia e as horas foram passando. Mesmo ainda tendo muita coisa para contar, o cansaço nos venceu e quisemos desligar.

Combinamos de almoçar juntos no dia seguinte e fomos dormir.

Eu acordei bem animada, claro!

Tomei um café reforçado e aproveitei a brisa matinal para correr. Quando o sol ficou apino decidi voltar passando pela praça observando as pessoas conversando com filhos ou brincando com cães.

Vi uma família brincando com um menino lindinho. Ele devia ter uns 2 ou 3 anos e usava um pequeno boné para protegê-lo do sol. A imagem me encantou. Pensei se um dia eu poderia formar uma família assim.

Meu pensamento se seguiu ao almoço que teria em algumas horas. Minha vida poderia mudar a partir dele. Como disse Luck, eu teria que correr atrás da minha felicidade.

E foi correndo para longe da praça em direção a minha casa, mas sem prestar atenção no caminho de volta. Minha cabeça estava agora na roupa que eu vestiria para ficar linda para Ryan.

Entrei em casa suada e já avisei minha tia que não almoçaria em casa com ela.

- Vai almoçar com o seu médico gato? - perguntou rindo

- A senhora me conhece bem mesmo!

Tomei um banho digno de rainha, bem demorado. Lavei o cabelo, me depilei e finalizei com um creme de corpo cheiroso.
Escolhi um vestido que não usava a muito tempo. Longo e branco, com delicadas flores coloridas sob o colo e na barra, as alças de fitinhas de cetim rosé.
Essa peça era da minha mãe quando tinha minha idade, ela guardou e me deu um ano antes de morrer. Na época era muito grande e eu pisava na beirada, por isso o guardei tanto tempo. Agora ele fica tão bonito em mim quanto devia ficar nela.

Separei uma bolsa pequena verde-água e sentei na penteadeira para arrumar o cabelo. Passei um ativador de cachos e amassei as mechas para fazer um enrolado natural.

Optei apenas por rímel e um gloss rosa para a maquiagem. Calcei uma rasteirinha com brilho, peguei a bolsa, o celular e tranquei o quarto ao sair.

- Tia já estou saindo!

Ela virou-se para mim e me olhou com o olhar de admiração.

- Esse vestido era... da sua mãe!

Senti sua voz falhando no final da frase, ela iria chorar.

- Era sim. Ela me deu a alguns anos.

- Você está linda Myrella. - disse me abraçando - Esse rapaz deve ser muito especial!

Sorri pensando em minha mãe dizendo estas palavras e depois em Ryan, que estava me ligando naquele exato momento.

- Alô? - atendi

- Bom dia anjo! Estou na frente da sua casa.

- Está bem. Já estou indo.

Desliguei e olhei para minha tia.

- Vá se divertir menina!

Beijei-a e sai. Ryan estava de costas para casa, usando uma calça bege e uma camisa polo branca.
Aproximei-me devagar e enlacei meus braços em sua cintura.

- Oi anjo!

- Bom dia doutor!

Ele virou para beijar minha bochecha só entao reparou na minha roupa.

- Você está... linda!

- Obrigado!

- Está com fome?

- Sim. - De comida e de você.

- Eu tambem estou, - Fome de mim tambem? - então vamos.

Ele abriu a porta do carro para mim e correu para o lado do motorista.

O restaurante que ele escolheu era a beira mar. Escolhemos uma mesa no segundo andar com vista para a praia.

Ryan pediu um prato de frutos do mar e risoto. Eu optei pelo mesmo risoto mas com salada céasar.

Ele ficava o tempo todo me olhando encantado e eu ficando sem jeito.

- Pare de me olhar assim Ryan!

- Assim como?

- Com cara de bobo!

- Um bobo apaixonado! - disse pegando minha mão

Sorri sentindo minha bochecha corar e um arrepio correr pelo meu corpo.

- Ryan preciso de sua ajuda em uma coisa. - mudei de assunto antes que eu ficasse mais nervosa
- No que?

- Eu estava falando com uns amigos e eles sugeriram contratar um detetive. Eu gostei da ideia mas não quero qualquer um no caso.

- No caso das suas fotos?

- Fotos da Mya - corrigi-o

- Isso. Eu conheço um ex-policial que está trabalhando como detetive. É de confiança. Posso ligar para ele se você quiser.

- Quero sim se não for te atrapalhar.

- Claro que não!

Ficamos um tempo em silêncio até ele voltar a falar.

- Eu volto a trabalhar no fim de semana. O que me dá três dias para arrumar um apartamento.

- Não viu nada ainda?

- Nada que me agrade.

- Vai ficar no hotel então?

- Provavelmente sim.

- Bom é que assim eu sei onde te encontrar. - brinquei

- Sabe que é só chamar que eu venho correndo!

Corei denovo. Se ele ficar o almoço todo me elogiando assim, vou passar a ser vendida como pimentão.

O almoço chegou e comemos em silêncio. As vezes Ryan comentava algo sobre a comida ou o dia bonito e eu concordava sem estender muito o assunto.

"Myrella Fernandes o que está acontecendo com você?"

Sempre fui a mulher onipotente, segura e confiante. Mas é só ficar poucos segundos com Ryan que minha confiança se esvai e viaja para o espaço.

Antes de tudo isso, quando eu lidava com o Dr. Brandt, um cliente, era diferente. Não passava pela minha cabeça mísera ligação amorosa com ele ou com qualquer outro.

Agora com a minha vida de pernas para o ar, percebi que meu coração também está ao avesso.

A aproximação dele, o sorriso e o olhar provocam arrepios em todo o meu corpo. Era difícil respirar quando estava perto, o ar faltava aos meus pulmões.

Minha tia tem razão, ele está mexendo comigo. E drasticamente.

Difícil agora é encarar a realidade diante dos meus olhos.

- Ryan tenho que te falar uma coisa. - tomei coragem

- Fale meu anjo.

- Acho que estou pronta para dar mais um passo.

- Como assim? - ele franziu o cenho sem entender

- Eu aceito namorar com você Ryan!