1. A famosa Lydia

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10 meses passaram e eu cada vez mais me arrependo do esforço que não fiz para aproveitar os momentos com eles. Como é que uma rapariga que perde os pais com 16 anos sobrevive? Não sei, agora com 17 anos penso que a única hipótese de sobreviver é não deixar de sorrir. Mesmo que seja difícil sorrio, alguém se pode apaixonar pelo meu sorriso.

Apenas num fim de tarde chuvoso no frio novembro o meu mundo desmoronou-se. Pergunto-me o que terá acontecido? Será que o meu pai vinha distraído e perdeu o controlo do carro? Ou será que a culpa foi mesmo do outro condutor que não teve um único ferimento? Seja como for não está cá, perto de mim. 

Fiquei à guarda da minha tia até aos 18 anos mas como ela está sempre a viajar em trabalho é como se estivesse por minha conta.

Todas as segundas vou ao cemitério. Com o inicio das aulas vai ser a mesma coisa só que vou lá antes das aulas. Como sempre deixo uma orquídea azul na campa deles. Era a flor preferida da minha mãe. São raras de se encontrar por aqui mas compensa.

-Foste ao cemitério? - perguntou Allison, a minha melhor amiga. Totalmente o oposto de mim, atinada e com a cabeça no lugar enquanto eu estou perdida no deserto da vida.

-Fui, é sempre a mesma coisa, sabes como é. - respondi com normalidade.

-Tenho duas novidades para ti. - disse Allison animada.

-Diz hoje porque amanhã já é tarde. - respondi olhando-a com cara de "despacha-te, não tenho a tua vida".

-Ouvi dizer que há um professor de matemática novo e é lindinho pelos vistos. A outra é que o teu namorado anda à tua procura. - contou Allison.

-Essa do professor, otimo. Essa do Isaac, horrível. - respondi enquanto comecei a andar.

-Horrível porquê Lydia? - perguntou indignada.

-Ele não é meu namorado, é a diversão do momento. Mas se continua com isso até diversão deixa de ser. - respondi procurando na multidão pelo Isaac.

Encontrei-o com o namorado da Allison, Jackson. 

-Isaac, precisamos de falar. - disse chateada.

-O que foi? - perguntou curioso.

-Então isto é assim, nós não namorámos. Ambos sabemos que não há sentimentos aqui à mistura por isso não me procures como se eu te pertencesse. Esclarecidos? - perguntei-lhe meia ameaçadora.

-Está bem, mas a nossa sala está livre. - disse Isaac com olhos de cachorrinho.

Quando ele se referia a "a nossa sala" era onde nós costumamos dar uns amassos. Nada de importante, sem sentimentos. Não sou de sentimentos, tenho um cubo de gelo em vez de um coração como as pessoas normais. Nunca tive um namorado e não me arrependo. A vida é para sermos livres e não dependermos de ninguém, é por isso que não namoro com ninguém. Mas lá por não namorar não quer dizer que não aproveite, o Isaac é o exemplo disso.

-Já tiveste os teus minutos de carinho da parte do Isaac. Agora quando é que vais deixar-te apaixonar? - perguntou Allison mesmo já sabendo a resposta.

-Nunca. - respondi sem pensar duas vezes.

-Quando te apaixonares eu faço uma festa. - ironizou Allison.

-Faz uma festa na mesma sem que isso aconteça. - gargalhei um pouco.

Muda o ano mas o meu lugar nas aulas é sempre o mesmo, fila de trás ao lado da janela.

Enquanto tirava os fones fui atingida por um papel de Allison.

"É ESTE O STOR JEITOSO! ATÉ DÁ VONTADE DE ESTUDAR!"

Comecei a rir alto por causa da expressão de felicidade dela.

-A conversa está boa aí atrás? - perguntou o jeitoso.

-Por acaso nem está má. Quer se juntar a nós? - perguntei com o mesmo nível de sarcasmo.

-Tenho aula para dar, se não fosse o meu trabalho juntava-me com certeza. Já agora, qual é o teu nome? - perguntou descontraído.

-Lydia Martin. 

-Então tu é que és a Lydia. A famosa Lydia. - disse um pouco mais baixo tentando passar despercebido com o que disse.

O que quis ele dizer com "a famosa Lydia"? Eu sou bastante conhecida aqui na escola, ainda mais depois do acidente dos meus pais. Mas ele é novo, o que será que já sabe?

-Vamos começar a aula finalmente. Eu sou o Mr. Stilinski e vou ser o vosso professor de matemática este ano. - introduziu a conversa que todos os professores têm no início do ano, regras de comportamento e blá, blá, blá.

Final da aula, finalmente. Mesmo com um professor jeitoso e com um estilo descontraído ninguém gosta de estar enfiado numa sala com pessoas falsas que tentam ser tuas amigas por conveniência. 

Vou tirar a história da "famosa Lydia" a limpo. 

-Mr. Stilinski, preciso de lhe perguntar uma coisa. 

-Diz Lydia. - respondeu arregaçando as mangas da camisa, ficou ainda mais charmoso.

-Quando me apresentei disse algo do género como "a famosa Lydia". Pode explicar-me de onde veio isso? - perguntei curiosa.

-Eu disse isso? - perguntou inocentemente mas de inocente não tem nada.

-Disse! Eu ouvi bem! - exclamei para que percebesse.

-Primeiramente falas baixo e direito porque sou teu professor! - reclamou de volta.

-Então explique-me. - pedi quase implorando.

-Eu disse isso porque me falaram de ti como é óbvio. É o meu primeiro ano a dar aulas sou estagiário agora mas ainda à um ano estava provavelmente de ressaca por causa de uma festa da faculdade. Toda a gente sabe quem tu és Lydia, pelos bons e maus motivos. Ou então só sabem o teu nome e não sabem quem tu és, como era o meu caso. - explicou-se.

-Coisas boas e más? - perguntei com mil coisas a explodir na minha cabeça.

-Toda a gente tem qualidades e defeitos. - respondeu Mr. Stilinski.

-Já a dar dores de cabeça aos professores, meu anjo? - interrompeu Isaac.

-E tu que não aparecesses não é Isaac? - perguntei sem esperar resposta enquanto Mr. Stilinski foi embora deixando-me com perguntas por fazer.

-Tinhas dito para vir ter contigo, lembraste? - disse Isaac.

-Mas agora não dá. Até depois. - disse deixando Isaac pendurado. Depois compenso-o. Ou não. Depende se me lembrar. Mas agora estou com a cabeça em outro lado.

Gosto da popularidade mas isto não é sobre popularidade. Isto é sobre dizerem coisas más sobre mim. Eu quero saber o que é. Será a morte dos meus pais? Eu vou descobrir, eu sou a Lydia Martin eu consigo tudo o que quero. Pelos vistos sou "a famosa Lydia"

Teenage Dream || Stydia || CompletaWhere stories live. Discover now