22. speech

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speech(noun): something that is spoken; an utterance, remark, or declaration

CAPÍTULO 22

Todos os sons estavam amplificados. A conversa de circunstância do outro lado da mesa, entre um familiar idoso de Olivia com a avó de Louis, parecia acontecer mesmo junto ao meu ouvido, berrando a histórias de guerra que o senhor passara há anos atrás. O barulho dos pratos de vidro que, com muito pouco cuidado, estavam a ser recolhidos pelos empregados, que a noiva contratara, estalava no meu cérebro como pipocas num micro-ondas. A banda clássica que a avó de Olivia escolhera tocava uma das peças de Beethoven em tons agudos desnecessários, inconvenientes. Tudo estava mais alto que o normal e eu não gostava disso.

Com a cerimónia terminada e o resto de uma noite de festa ainda por começar, sentia-me a afundar-me na cadeira enfeitada da mesa principal. Sentira-me perfeitamente normal e assídua em todas as conversas e curtos diálogos que ambas as famílias me proponham. Contudo, e agora que todos se decidiram rodear à volta dos pratos de comida com conversas alegres e muito pouco atraentes para alguém sensível ao som, começava a achar que talvez não fosse a melhor ideia ter-me enfiado numa festa destas.

Olivia estava radiante e Louis apenas a largou quando tinha de satisfazer as suas necessidades na casa-de-banho, e ainda assim, teve dificuldade. Nunca os tinha visto tão felizes.

- Estás bem?

Sabia que era ele muito antes de ter pronunciado aquelas palavras. A sua aura é tão pesada quanto palpável e sinto-a a aproximar-se de mim a longos metros de distância. Com as várias horas que passaram desde que o padre considerou os noivos oficialmente casados, a noite caíra com uma estranha temperatura elevada. Por consequente, reparei que Harry retirara o seu casaco e estava com o tecido ligeiramente colado ao tronco. Um cheiro intenso a desodorizante invadiu as minhas narinas. O cabelo azul, outrora espetado agilmente no ar, estava colado à sua testa.

- Estão todos a falar muito alto. - Admiti.

Ele assentiu e puxou a cadeira almofadada, sentando-se ao meu lado.

- Estamos num casamento, Blue. É normal.

Encolhi os ombros.

- Mas compreendo o que queres dizer. - Ele continuou. - Depois de um tempo acabas por te habituar.

- Eu não acho que algum dia me vou habituar a ver desenhos coloridos cada vez que alguém me dirige a palavra.

Harry comprimiu os lábios, em compreensão, e levou-os de seguida ao copo de vidro recheado de champanhe. Bebericou quase o líquido todo numa tragada apenas. Pelo canto do olho, observei a mãe de Louis aproximar-se da mesa numa tentativa falhada de correr em saltos altos. Contornou-a, apoiando-se nas cadeiras que a rodeavam e chamou a atenção do rapaz de cabelo encaracolado.

- Harry, querido, o teu discurso começa daqui a meia hora. Tem-lo escrito, certo? – Ele assentiu, elevando o copo em saudação. – E, de seguida, o teu irmão dançará com a Olivia e tu com a Blue.

O meu coração explodiu de alegria ao ouvi-la tratá-lo como se fosse realmente seu filho. Para ela, o Louis era seu irmão e não tinham exceções no carinho. Era reconfortante saber que, ainda que ele não o entenda, era amado por toda aquela família como se lá pertencesse desde nascença.

Os olhos de Johannah cruzaram-se com os meus, conseguia sentir a emoção transbordar. Levantei-me, sentindo-me minúscula debaixo do seu olhar intenso e isso bastou para a mulher me abraçar com força. Afagou as minhas costas e depois de longos segundos, mirou-me à distância dos braços.

WORN JEANSWhere stories live. Discover now