02. Rejeição

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Corri rapidamente sem olhar para trás. Todos viram aquilo, como pude deixar acontecer tal coisa ? -Que droga Andie! -Me tranquei dentro do banheiro sem previsão de saída, apoiei minhas mãos na porta e respirei fundo. -Talvez nem todo mundo tenha visto, talvez eles pensarão que eu peguei o molho rapidamente na versão flash e joguei nela. -Penso tentando me convencer de que tudo ficaria bem. 

Mas quem eu estou tentando enganar ? É claro que viram tudo, eu sou muito displicente. Como vou dizer: "Ah Evie, esqueci de falar que posso fazer coisas se moverem sem tocar nelas, olha que máximo ! E algum dia vou fazer você levitar até a Indonésia."

Fiquei a mais de uma hora dentro do banheiro me condenando por ter feito aquilo, melhor sair e averiguar a área para não correr o risco de ser vista por alguém, parece que toda escola viu o meu "show de mágica".

Resolvo sair do banheiro e ir para os corredores vazios. Ou estou com muita má sorte, ou a Evie está controlando esse sinal. Bem na hora que eu ia saindo essa coisinha irritante toca fazendo as pessoas saIrem de suas salas.  Corro para fora e para minha surpresa, a garota está me esperando com um grupinho de pessoas, até o Pedro está lá, agora eu desejo profundamente me transformar em um avestruz e enfiar minha cabeça em um buraco. (universo se você ouviu isso, saiba que não falei sério).

-Finalmente Carrie a estranha apareceu. -Evie ri de mim batendo palmas ironicamente.

__Olha isso não me surpreende, eu sabia que você tinha algo estranho. Agora tudo faz sentido, como não pude pensar nisso antes ? -Ela diz se aproximando de mim e de repente toda escola já está olhando, não posso me deixar passar por essa humilhação de novo.

-Pensar em que, Evie ? -Cruzo os braços e a encaro com o olhar mais ameaçador possível.

-Você tem pacto com o "coisa ruim". -Fala ela com a maior certeza do mundo.

-Como é que é ? -Dou um sorriso debochado. -Foi a essa conclusão que você chegou ?

-Só pode ser isso. Você não fala com ninguém, as pessoas tem medo de você e você veste roupas estranhas que parecem ser compradas naquelas lojas satânicas.

-Por que está fazendo isso ? Só me diz o que eu fiz pra merecer que minha própria irmã me destruísse. -Falo me impedindo de chorar na frente dela.

-Não vem com esse papinho de irmã, esse não é ponto. Todo mundo viu o que você fez com aquele molho, você fez ele "explodir" sem tocar nele. -Ela fala fazendo aspas imaginários com os dedos e todos ficam com cara de: estamos esperando uma explicação.

-Não vou perder meu tempo com você. -Saio andando mas ela puxa meu braço.

-Espere aqui, a mamãe já está chegando para tirar todos os seus demônios. -Todos começam a rir e eu tento me soltar mas ela está me segurando com muita força.

-Aquele é o carro dela, acabou de chegar. -A cena estava se repetindo de novo, todos rindo de mim, eu estava sendo motivo de zoação apenas por ser humilhada pela minha irmã.

-Me larga Evie. -Falo puxando meu braço e tentando sair  mas ela me puxa para trás pelos meus cabelos. Naquele momento não tinha mais nada de amor fraternal, ela puxou meu braço novamente me levando até a nossa mãe e a multidão começou a seguir. Evie parou e segurou meu braço com mais força, olhei bem em seus olhos e a expressão dela mudou totalmente, agora havia medo mas eu não estava nem ai.

-Eu disse para você me soltar. -Falo calma.

-Você não tem moral comigo, sua esquisita perdedora, fraca ! -Ela diz com a voz falhando.

Ela tenta me levar novamente mas dessa vez eu paro e a encaro.

-O que você está fazendo ? -Pergunta ela assustada. Apenas a encaro e seguro sua mão que apertava meu braço com muita força.

Senti o formigamento de novo.

Não sei o que aconteceu comigo, quando acordo da transe vejo a Evie a quase seis metros caida no chão. Não consigo me lembrar muito bem o que aconteceu, mas é como se uma energia saisse de meu corpo fazendo a Evie se afastar rapidamente de mim, como se tivesse levado um choque muito forte e voado para longe, e a energia se intensificou por conta da raiva que eu estava sentindo naquele momento.

-Evie ! -Corro para ver se ela está bem.

-Sai de perto dela. -Fala minha mãe se pondo na minha frente.

-Mãe, eu não quis fazer isso, não sei como aconteceu. -Ela pega o celular da bolsa e disca o número da polícia. -O que está fazendo ? -Ela não me escuta.

-É, colégio estadual de Nameless heaven. Uma tentativa de homicídio. -O que ? Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, minha mãe chamou a polícia pra mim.

-Não, eu não quis fazer isso mãe, por favor acredita em mim. -Começo a chorar loucamente igual uma criança mas ela me encara firme.

-Não me chame de mãe. Amaldiçoado seja o dia em que adotamos você, sempre soube que chegaria na família e vacilaria na primeira oportunidade. Mas contra minha menina não. -Ela abraça Evie com desespero. 

Naquele momento parecia que alguém havia destruído o chão sob meus pés e eu estava caindo em um abismo sem fim.

Caio de joelhos e logo começa a chover, as pessoas vão indo embora e Pedro fica imóvel me olhando mas logo vai embora como os outros. A ambulância chega junto a policia. Eles me levantam e me algemam, depois sou levada direto a delegacia.

Fizeram uma série de perguntas irritantes. Eu tinha vários motivos para ter raiva da Evie, mas nunca tive a intenção de machucar ninguém, deixei isso bem claro para eles, mas parece que não acreditavam em nada do que eu dissesse. 

Coloquei a roupa laranja e feia de presidiária e fui levada a um reformatório.

Não conseguia pensar em mais nada, as lágrimas desciam pelo meu rosto sem eu fazer nenhum tipo de expressão.

Fui levada até o quarto, ou melhor,  a cela que eu iria dividir com outras três garotas. Todas me encararam feio mas não me importei, apenas me joguei na cama dura e desconfortável tentando dormir para esquecer tudo que aconteceu.

(...)

Vários dias se passaram, continuei na minha, não falando com ninguém apenas fazendo o meu papel de boa menina. As energias não se manifestaram mais, e sim, tentei ver se eu era realmente diferente, mas parece que eu continuava sendo a esquisita, mas agora, presa.

__Ei, você, Moore.-Uma policial se aproxima da cela abrindo-a. __ Meus parabéns, parece que alguém ama você ! Pagaram a fiança.

Sai da cela confusa sendo levada pela policial. Quem poderia ter pago ? Eu conheço a minha mãe, ou melhor, a Laila, ela nunca iria me tirar daqui, e eu não conhecia parentes e nem era próxima de ninguém.

Me vesti com as roupas que havia chegado e prendi meu cabelo em um coque.

Abriram os portões para que eu pudesse sair, vi apenas um carro preto e muito bonito. Estava muito frio, meu hálito logo se transformou em fumaça. Alisei meus braços magros e observei o carro de longe.

Senti alguém se aproximar por trás mas não olhei, apenas fiquei imóvel e a pessoa colocou um casaco sobre meus ombros. 

Finalmente tomei coragem e olhei para trás.

-Pedro ?




A filha da Lua {VERSÃO DESATUALIZADA}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora