Daitai Funny

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O outono chegava ao fim, despedindo-se com brava relutância. As tardes, cada vez mais curtas, ainda tinham aquele tom dourado do renovar das árvores e o clima não era tão frio quanto se podia esperar. Sinais que indicavam um inverno rigoroso a caminho.

Tal apatia se espelhava na rotina do expediente. Os dias no batalhão do corpo de bombeiros estavam calmos. Taiga era grato por isso. Significava que ninguém se feria ou corria risco de vida.

Como normalmente acontecia, eram chamados para dar palestras em escolas do Ensino Fundamental, encantando as crianças que ouviam os relatos heróicos com sede insaciável. Nascia assim o "Quando crescer quero ser bombeiro", que nem sempre se concretizava.

Taiga achava a iniciativa brilhante, embora nunca participasse. Tornava-se tímido quando o assunto eram palestras, odiava falar em público. Mesmo que a plateia fosse formada de crianças entre sete e oito anos. Acabava todo enrolado no discurso e fazia um papelão.

Então deixava a tarefa para os colegas mais experientes e que gostavam de desempenhar o papel de professor por um dia. E por isso seu time de resgate foi acionado quando ouviram o alerta de acidente. Um dos feios.

Enquanto o veículo ganhava as ruas e a atenção das pessoas com a sirene estridente, o rádio transmitia maiores informações sobre o ocorrido. Um ônibus interurbano se envolvera em um acidente com mais dois veículos. Por sorte não era horário de pico, ou haveria muito mais vitimas.

Assim que chegaram lá, encontraram duas equipes de paramédicos, oferecendo os primeiros socorros. Logo descobriram porque foram chamados: um dos veículos tinha sido tão amassado que seu motorista estava preso nas ferragens. Gasolina vazava por uma brecha na lataria. Teriam que cortar o aço com todo o cuidado possível, pois a menor faísca podia precipitar uma tragédia.

Especialista na situação, Kagami tomou a frente. Sabia todo o procedimento a ser seguido.

O motorista parecia bem assustado, um senhor de meia idade que também apresentava um corte na testa. O maior ferimento era a perna presa sob o painel, esmagada. Apesar disso, estava consciente e lúcido. Respondeu todas as suas perguntas, que deveriam ser feitas conforme o protocolo internacional de resgate.

Abrir a lataria era um processo que exigia paciência e refinamento. Características que dificilmente se esperava encontrar em alguém como Taiga, um cabeça-quente agitado e bravio, mas que, em momentos como aquele, se transformava. Vestia totalmente a postura profissional, abstraia o mundo ao redor. Então existia apenas ele e a pessoa a ser resgatada.

Não permitiu que a luta contra o tempo apressasse seus movimentos. O erro não era admissível quando a conseqüência podia custar a vida de um ser humano.

Sua perseverança e tenacidade foram recompensadas. Taiga conseguiu liberar aço o suficiente para os paramédicos se aproximarem com a maca e darem seqüência no mais básico para salvar o acidentado. A expectativa de todos era tanta que o tempo parecia em suspensão. Respiraram com alívio, pois o jovem bombeiro dera conta do recado.

Evitaram o pior. Não pôde deixar de ficar feliz quando sentiu Suzuki, seu colega de trabalho, acertar-lhe um tapinha no ombro, cumprimentando o sucesso. Passou as costas de uma mão pela testa, limpando o suor que grudava os fios ruivos contra a pele. Agora seu corpo recebia uma descarga de adrenalina que agira direto nos músculos doloridos de tensão.

Os olhos avermelhados vagaram sem rumo pelo aglomerado de pessoas que assistiam a cena. Era sempre assim, curiosos atraídos pelo mórbido, posicionados atrás da faixa de isolamento, e se recusavam a partir até que tudo acabasse.

Daitai Love (AoKaga)Where stories live. Discover now