Capítulo 35: Esqueça comigo | + AVISOS

1.2K 113 21
                                    

   O parque que havia perto da Mercúrio era lindo. Havia alguns brinquedos de madeira onde as crianças se divertiam (inclusive uns velhos balanços, que até adultos, em suma nostalgia, arriscavam-se em se balançar). Não era tão verde como os pais gostariam, mas, em plena metrópole, século 21 e tecnologia, aquilo era o máximo de natureza que os pequenos iriam conhecer ali. Uma grande árvore estava ao lado de um singelo lago que possuía alguns marrecos nadando e procurando por comida. Igor nunca se imaginou ali, nem fazendo aquilo. Cláudia, no entanto, parecia se adequar perfeitamente ao local. Ele podia vê-la em muitas cenas futuras levando pedaços de pães para os marrecos, balançando os filhos...

Ela era como aquele parque, uma beleza diferente, quase inadequada para uma cidade grande, e ao mesmo tudo que um horizonte de prédios necessita. No meio de tanto concreto, uma flor simples que muda completamente tudo a sua volta.

Embora tivesse tanto beleza ali – até mesmo Igor ali –, Cláudia só conseguia pensar em Lena. Ela teria conseguido pegar o testamento? Eles já estavam caminhando há um pouco mais de quinze minutos, sem exprimirem uma só palavra. Cláudia não tinha pensado no plano em tantos detalhes, não sabia como encarar Igor sem sentir a raiva penetrando seus olhos. Fingir deixá-lo se explicar. Ela não queria explicações, não queria mais mentiras.

Percebeu os intensos olhos de âmbar em cima de si. Ela havia dado mais alguns passos, mas Igor não a acompanhara dessa vez. Ele estava em pé, com as mãos entrelaçadas atrás de si. Sua postura era firme, e seu semblante impotente. Cláudia sentiu seu coração acelerar. Não podia deixar-se levar. Depois de tudo que fizera... Quantas mulheres mais ele teria enganado? Ele merecia pagar por aquilo.

Ele iria pagar.

Todavia, olhando ele ali, com aquele semblante tão culpado e envergonhado, Cláudia não pôde sentir nada além de compaixão.

Respirou fundo.

–Quer se sentar? – ela indagou, apontando para a grama.

Igor a olhou como se tivesse sugerido que ele dançasse Macarena, pelado e com uma melancia no pescoço. Era apenas grama.

–Me sinto melhor em pé – informou depois de alguns segundos.

Cláudia sentiu que aquilo era importante, por mais detalhe que fosse. Então ela se sentou.

Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso.

–Eu não. Estou cansada – ela o olhou, desafiadoramente. – Venha, ande logo! Sente. Não vai doer – ela estendeu a mão para ele.

Igor olhou de um lado para o outro como se fosse o maior absurdo que cometeria. Mesmo assim o fez. Desengonçado, e um pouco desconfiado, ele abaixou-se devagar até sentir a grama sob a mão, que descia junto com o traseiro.

–Isso.

–Cláudia, antes de tu...

–Shhh... – ela o interrompeu. – Vamos apenas parar e observar um pouco. Você está sempre tão agitado no horário de trabalho.

–Obser...? Bem, você também.

–Então vamos nos acalmar um pouco – ela se deitou sob a confortante sombra dos galhos da árvore. Àquele horário não havia tantas pessoas por perto, mesmo assim Igor se recusava a se deitar no chão.

–Não viemos conversar? – ele perguntou.

–Sim, mas primeiro vamos ficar em silêncio um pouco.

–Eu não posso demorar. Deixei coisas importantes e pensei que...

–Danilo, aquelas coisas ainda estarão lá quando você voltar. O escritório não vai fugir e ninguém vai entrar sem sua autorização.

A Impostora (Livro 1)Where stories live. Discover now