Octavia

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"Somos tímidos espectadores onde deveríamos ser ágeis atores". 

— Augusto Cury


Como as pessoas esperam que seja a vida de uma garota?

As vezes me pergunto sobre isso, porque teoricamente, eu sou uma. Bem... acho que sou. Se não arrumar o quarto, andar com qualquer roupa, gritar feito louca ao ouvir uma música for coisas de garotas, então definitivamente, eu sou uma.

Deveriam existir dois tipos de classificações para se ser uma garota.

Primeira: andar por aí jogando meu charme incrivelmente atraente para todos os idiotas (aqueles que possuem um carrão e acham que qualquer uma daria em cima, afinal, porque não querer um cara que tem um carro!?), jogar pom poms pro alto e gritar "eu sou muito gata!", usar saias curtas, porque quanto menor, maior a fama.

Segunda: não andar por aí, porque definitivamente eu tenho meus lápis e papeis ( o quarto é muito mais preferível, ninguém vai entrar, é só meu, ninguém vai ficar me olhando pensando "essa criatura é um ser humano?" e o mais importante "ela não é meio esquisita?"), jogar um foda-se pro ar para os pom poms e gritar "hoje começou a terceira temporada do anime!", usar calças jeans e aquelas calcinhas gigantes que são estranhamente confortáveis,porque quanto maior elas forem, menor a fama.

Esses tipos são definitivamente o resumo da nossa escola. Eu poderia fica por aqui citando trocentas formas diferentes de se descobrir isso, mas não. Basta olhar para todos, fica claro que ninguém quer nada a mais nada a menos que trocar saliva no intervalo entre as aulas.

— O? Você está ai? Tô entrando...

Deitada sobre um monte de papéis, é assim que estou, mas é preferível não imaginar a cena. Não faça isso por favor.

- Qual furacão passou por aqui? - Theo se senta na cama amassando com a bunda meus desenhos - meu Deus O, você ainda ta viva?

Levanto a cabeça para ele, em seguida aponto para os papéis amassados.

— Sai daí.

Em resposta ele levanta e arruma a bagunça, meus desenhos estão todos jogados por todos os lados do quarto. É isso o que acontece quando seus pais não ligam para você a mais de duas semanas. Um pequeno zunido vem do meu ouvido me dizendo que ouvir música a noite toda não foi uma boa.

— Valeu.

Ele sorri com aquelas covinhas, Theo está cada vez maior. Quando estudávamos juntos no fundamental eu é que era a maior, quase dois palmos mais alta. Mas agora, ele me passa por quase duas cabeças.

Só há uma explicação e ela é óbvia.

Ele comeu fermento nos últimos anos.

— Sabe... — me deito de costas — acho que como melhor amigo é seu dever comprar comida para mim.

Ele ri se fazendo de desentendido. Para um pouco enquanto observa meus desenhos e então lá está aquela cara de quem diz: "porque não mostra isso pra todo mundo?"

— Eu compro comida — ele diz de repente passando os dedos sobre os contornos de um dos desenhos, ainda em pé como uma estátua ele me encara — mas só se você mostrar seus desenhos para a professora.

Eu sabia. Levanto a sobrancelha.

— Éééééééé... não.

— O! Eles são demais!

— Isto — aponto para os desenhos— não é nada demais e eu não quero mostrá-los.

Enfim ele entende, sua face suaviza, põe os desenhos sobre a escrivaninha e então se deita ao meu lado.

Artistique-se (COMPLETO)Where stories live. Discover now