Octavia

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"Nenhuma arte salvou tantas vidas quanto a arte de ficar em silêncio".

Domênico Massareto



Tinha tudo planejado, diria para todos que era dor de barriga, por isso havia sumido no dia da festa da piscina. Mas tudo foi pro ralo, por água abaixo, desceu pela descarga, pelo cano e etc...

A Mel sabia que minha pessoa não estava bem, por isso sempre que a olhava ela me encarava com aquela cara de "o que houve?"

Mas como eu diria algo assim para eles? Nem mesmo Theo acreditou quando me ouviu contar. Há algo muito errado no ar.

Naquele dia mamãe me ligou pedindo ajuda. Ela queria que nos mudássemos, que fôssemos morar no Egito. Acho que você não entendeu muito bem, vou repetir.

NO EGITO!

Como uma mãe faz isso com a própria filha? A filha que ela nunca cuida? Tudo bem eles quererem andar por ai descobrindo aqueles trecos antigos porque " isso é tudo parte da nossa história filhinha!"

Mas eles me envolveram nisso, me colocaram em uma situação que eu não quero estar presente. Não agora que tenho amigos por aqui, quero mudar as coisas, quero ficar cada vez mais próxima deles e conquistar um lugar só meu em seus corações. Isso é querer demais? Ter amigos é querer demais?

Encaro o espelho do meu quarto pensando na bobeira que farei. Não tenho outra solução, e do jeito que sei que eles são, estarei morta no fim do dia. É só uma ligação.

É só dizer: mamãe eu não vou a lugar nenhum.

Talvez ela compreenda. É a minha primeira tentativa.

Toco em seu nome na minha lista de contatos, deslizo para o lado e a chamada dá-se inicio.

Tu...tu...tu...

Não atende...

Droga, droguinhaaaa!

— O? Tô entrando...

Theo desvia de mim no chão e se senta em minha cama com as mãos apoiadas na cabeça.

— Não atendem...

Jogo o celular nele.

Estou me sentindo muito mais irritada que o normal e isso não é bom, quer dizer, qual namorado suporta uma crise dessas? O que Theo está pensando neste exato momento?

— Talvez estejam ocupados... O... se você for, vai passar mais tempo com eles certo?

Balanço a cabeça negativamente.

— Não... eles não ficarão comigo, me deixarão em algum lugar como sempre fazem, não há espaço para mim ali Theo, você me entende? Não quero ir para lá.

Ele abre os braços para mim e eu aceito de bom grado me deitando ao seu lado.

— Eu estou aqui O, não se preocupe...

— Mas não estará lá, não é mesmo?

Ele não me responde, permanece quieto em seus próprios pensamentos.

— Talvez... talvez dê certo. E se eles realmente quiserem fazer parte disso? Esse negócio de estar perto de você? Você não quer mesmo ir para lá?

Sinto uma pontada de dor me invadir.

— Você quer que eu vá não é mesmo?

Ele me encara e fecha os olhos engolido seco.

Artistique-se (COMPLETO)Where stories live. Discover now