Octavia

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"No céu o olhar de minha amada flutuaria pelo éter, tão brilhante que os pássaros começariam a cantar, pensando que era dia."

Romeu.


Acordar de manhã não era nada bonito, não como nos comerciais que passam na TV. Vou te dizer como é: baba escorrendo para todos os lados, cabelo como um ninho de passarinho misturado com cola e frizz, cara de morto-vivo, dor nas costelas como se meus dezessete anos fossem na verdade cento e cinquenta e oito. É assim que é.

Agora adicione um sofá velho, onde a almofada sumiu para o além e só restaram os pedaços duros da madeira. Coloca aí também na lista gigante água. Muita. Água.

Acordo terrivelmente gelada e noto que acabei dormindo no sofá. Tento me mover, mas o torcicolo não deixa, ai meu pescoço! Me viro no sofá e acabo caindo no chão (a leve e sempre bem-vinda crise do "cai de novo da cama" só que dessa vez, do sofá). Sinto meu corpo gelar e me levanto apressada sentindo a água descer pelo meu rosto. Eu dormi na tábua da Rose quando o Titanic afundou por acaso?

Então descubro que a)estou no meu dormitório e não no mar o que me leva a crer que b) eu não derrubei a Rose da pequena tábua e a afoguei sem querer e que c) algo estava muito, MUITO ERRADO.

— O que foi que eu fiz?! — grito desesperadamente ao ver o meu quarto, ou melhor, a minha nova piscina.

Água pra tudo quanto é lado. Meus desenhos que estavam no chão agora boiavam na superfície. Olho para os lados e ouço o barulho da culpada torneira.

Oh meu Deus!

Corro sentindo a água bater na minha canela. Abro a porta com dificuldade e levo minha mão até a torneira do banheiro, sinto meu pé deslizar no chão e então em vez de agarrar a torneira, agarro o ar. E lá vou eu pro chão. Pra ser burra é simples, seja como eu.

Me levanto sentindo o torcicolo me relembrar da noite mal dormida. Agarro a maldita da torneira e a fecho. Sinto meus ossos doerem.

— O! Ta acordada? To entrando....

— Não abre a portaaaaaaaa — de uma hora para a outra, viro o Flash, em um piscar de olhos estou do outro lado do cômodo segurando a porta para que Theo não a abra.

— O? Porque você tá gritando desde manhã? Espera... você acordou cedo de manhã?! O que aconteceu? — ele pergunta quase gritando no corredor.

Do outro lado da porta reviro os olhos, quero rir, mas não posso! Meu quarto virou um rio!

— Theo... — choramingo para meu melhor amigo— a torneira... eu juro que não fiz por querer, eu só dormi do nada e... e então acordei hoje toda dolorida achando que essa era a pior parte, sonhei com umas coisas esquisitas...

— O? Respire fundo — respiro duas vezes seguidas, sentindo meu corpo relaxar, bato a cabeça na porta — pronto?

— Pronto — sussurro.

— Okay... agora me explica o que aconteceu? — ele sussurra de volta.

— Eu dormi e deixei a torneira aberta sem querer — sussurro de volta com a cara colada na porta — Theo...

— Você quer dizer que deixou a torneira aberta por doze horas seguidas? E porque estamos sussurrando?

Balanço a cabeça. Eu estou sussurrando? Coço a garganta e digo em voz normal:

Artistique-se (COMPLETO)Where stories live. Discover now