8 Capítulo- O Aniversário - Sexta-feira

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Senti os primeiros raios de sol entrar pela janela. Enquanto passava a mão sobre o criado mudo tentando silenciar o barulho infernal que insistia em tocar sem parar. O despertador. Nem precisava olhar a hora, sempre colocava a criatura para me incomodar às oito da madrugada. Até hoje não havia nada que me deixasse mais irritada do que ter que acordar cedo. Mas, como hoje era um dia especial, levantei mais animada do que o normal, afinal hoje era sábado e aniversário de minha mãe. Como a hora de pegar o bolo havia sido marcada para ás 16h00, resolvi aproveitar o tempo para terminar de fazer alguns preparativos finais. Afinal seria uma festa surpresa. Estava admirada por Susan não ter me ligado, já que ela parecia sempre querer estar à frente do despertador. Peguei o celular enquanto colocava o CD de Evanescense no meu display. Dei um leve sorriso ao ver que não havia nada, nem mensagem de minha mãe e nem de Susan. A noite deve ter sido boa. Pensei enquanto ouvia a mensagem irritante de fora de área ou desligado. Após três tentativas fracassadas, deixei uma mensagem na caixa postal. Odiava fazer isso, até porque, ela nunca via os recados da caixa postal. Achei estranho Susan não ter me ligado de manhã como fazia todos os dias, me acordar cedo era quase que um ritual para ela. E não atender ao telefone era novidade, já que ela dormia com ele embaixo do travesseiro. Alguma coisa estava errada, ou ela havia passado tempo demais paquerando na internet a ponto de perder a hora. Mesmo sendo uma possibilidade remota, não podia descartar. Enquanto cantava My Immortal, senti uma rajada forte de vento invadir meu quarto. Olhei rapidamente para janela não me lembrava de ter á deixado aberta. A cortina voou violentamente, derrubando um porta retrato que ficavam sobre minha cômoda ao lado da janela.

- Há não! Que vento doido! Espero que não chova de novo, apesar que com o calor que tem feito não seria novidade despencar um temporal! Resmunguei pelo quarto indo até a cômoda.

Assim que peguei o porta retrato, fiquei por alguns segundos observando-o. Era eu e minha mãe em um dos verões que passávamos em uma ilha em Santa Catarina. Eu tinha 10 anos, e havia sido um verão inesquecível, apesar de meu pai não estar presente. Mas isso não importava muito, já que ele nunca estava presente em nada que fazíamos, esse foi um dos motivos da separação deles. Assim que coloquei o porta retrato no lugar, vi quando um pequeno papel voou para debaixo da minha cama. Abaixei-me ao lado da cama pegando-o.

Bom dia linda! Me liga!

Espero que tenha salvo meu número.

Mas caso tenha esquecido anotei novamente.

(9669-666x)

Assim que acabei de ler o que estava escrito quase despenquei no chão. Como Breno conseguiu colocar esse bilhete em meu quarto sem entrar aqui pelo jeito tradicional, que no caso seria pela porta da frente. Encarei a janela por alguns segundos intrigada. Tinha certeza que havia fechado a janela, como faço de costume todas as noites. Mas, observando a cortina voar de um lado para o outro, levada pelo vento, sinto um calafrio. A possibilidade de ter sido envolvida pelo cansaço e ter esquecido de fechar a janela, pode ter acontecido. Ou tem alguma coisa muito estranha acontecendo que a minha lerdeza não esteja captando. Apesar de que, mesmo que a tivesse deixado aberta, ele não conseguiria escalar meu quarto no segundo andar há não ser claro que ele não fosse totalmente humano, o que não acredito claro. Voltei o olhar para o papel enquanto discava o numero em meu celular. Mesmo contra a vontade de certa forma, resolvi ligar para saber notícias de Susan. Já que ela não havia atendido minhas ligações. Após o terceiro toque...

- Alô! Caty não é uma boa hora, te ligo depois? Disse a voz grosa do outro lado.

- Caty? Desde quando nos tornamos íntimos que não me lembro? Falei segura.

- Por que não é uma boa hora? Perguntei embalada pelas batidas aceleradas de meu coração. Uma sensação ruim deixou o clima tenso.

- Aconteceu alguma coisa? Perguntei apreensiva.

- Sim. Susan desapareceu! Não a encontramos em nenhum lugar. Disse ele quase que sussurrando. Senti como se um balde de água gelada tivesse caído sobre mim. Sabia que tinha alguma coisa errada. Desde que nos conhecemos, Susan nunca ficou um dia se quer sem me ligar de manhã para me perturbar.

- Estou indo para aí agora. Falei procurando minha bolsa embaixo de algumas roupas que havia jogado no sofá.

- Ok. Mas tome cuidado. Disse ele apreensivo. Suspirei fundo intrigada.

- Cuidado com o que? Perguntei enquanto descia as escadas correndo.

- Estamos achando que Susan está com o professor de vocês, parece que ele anda meio surtado. E depois do que aconteceu no curso, ele pode querer ir atrás de você também. Parei em frente à porta antes de abri-la. Senti uma tonteira balançar meu corpo. Levei à mão a parede tentando me equilibrar enquanto as lembranças de suas palavras pareciam um arrastão em minha mente.

- Não era para você estar aqui, mandei você sair, agora é tarde demais. Preciso cumprir a promessa que fiz á ele. É a sua vida ou a minha.

Respirei fundo abrindo a porta. O vento forte me empurrou para dentro como se quisesse me impedir de sair de casa.

Para aumentar meu nervosismo não encontrava a chave do carro. Precisava fazer uma limpeza em minha bolsa urgente. Pensei enquanto pegando a chave entre papéis e livros.

Saí correndo de casa dando apenas uma volta na chave ao fechar a porta. Acionei o alarme do carro correndo em sua direção.

Naquele instante do outro lado da rua na casa da frente, estava Lorena, irrigando suas flores, como fazia de costume toda manhã.

O alarme do carro despertou sua atenção.

- Olá Caty, está com pressa hoje... Esta chegando sua hora.

Sua voz assim como suas palavras estavam diferentes, mas nada neste dia poderia me deixar mais intrigada do que já estava.

Dando a ré no carro parei ao seu lado por um instante cumprimentando-a. Apesar de esquisita era uma boa vizinha.

- Oi, bom dia Lorena. Sim, estou com pressa, preciso resolver algo urgente.

Enquanto conversava com ela, direcionei meu olhar para a janela do quarto que ficava no segundo andar, percebendo uma sombra por trás da cortina, algo estranho e nada comum já que ela morava sozinha. Não costumava ter amigos, e muito menos visitas. Desde que ela veio morar aqui, desconfiamos que ela pudesse sofrer de algum trauma, depressão talvez, mas, uma vez quando perguntei na tentativa de descobrir ela deixou bem claro que não gostava de falar de sua vida. O que achei bem estranho, mas preferi não insistir.

Voltando meu olhar para o relógio notei que já havia demorado mais do que queria, engatando a marcha em meu carro, voltei o olhar novamente para Lorena despedindo-me com um pequeno sorriso no canto da boca, um pouco forçado diria. Com uma expressão séria e sombria, ela se manteve ali parada olhando para mim, fria e catatônica. Sem dar muita importância a sua esquisitice, me despedi rapidamente acelerando o carro.

-Tchau Lorena e bom dia. Falei enquanto terminava de manobrar o carro.

- Adeus. - Disse ela. Olhando para o vazio.

Mesmo achando estranho seu comportamento, segui sem dar importância.

-Ela não devia estar nos seus melhores dias. –Sussurrei. Olhando pelo retrovisor do carro, e notando que ela ainda estava lá. Parada igual uma estátua olhando fixamente para mim.

Confesso que sua reação me deixou meio assustada, mas nada comparável a aflição que estava com o desaparecimento de Susan. Acelerei o carro pensando onde minha amiga poderia estar. Torcendo para que estivesse bem.



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