Prólogo

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Ele

Eu tenho um segredo.

Não se preocupe, não é um grande segredo daqueles que prejudicam a vida das pessoas. É um pequeno segredo, que apenas prejudica a minha vida.

Sabe quando você acha que sua vida é uma mentira?

Eu não acho que minha vida seja uma mentira.

Eu sei que ela é uma mentira.

Por que guardo esse segredo?

Nunca tive coragem de enfrentar as pessoas que esperam coisas de mim e dizer à elas que, eu não sou o que elas esperam. Que eu sou muito mais do que isso, que tenho minhas próprias vontades e desejos, que gostaria de virar a mesa e mudar tudo, que gostaria de ser outra coisa, conviver com outras pessoas e fazer coisas diferentes.

Eu sou um covarde.

Eu sei disso e agora você sabe disso, mas e daí? Isso muda alguma coisa? Deixei de ser um covarde só porquê, agora, você sabe disso?

Não.

Provavelmente amanhã você já se esqueceu que te contei isso e continuará com sua vida, fazendo tudo o que deseja, vivendo intensamente suas próprias escolhas, enquanto eu tenho que fingir que amo minha vida e continuar com minha covardia.

Tudo é uma questão de aparências, as pessoas vivem suas vidas com uma máscara. ─ Acho que já li isso em algum lugar. ─ Eu não queria viver assim, mas como eu disse antes, eu sou um maldito covarde.

Sou tão covarde, que estou aqui, parado, com o nariz grudado no vidro frio da janela panorâmica da minha sala, no trigésimo andar, no Edifício Itália, e não tenho a coragem necessária para dar aquele passo à frente e me libertar de tudo que me oprime. Voar até lá embaixo e me esborrachar no chão, deixando para sempre a marca impressa da minha covardia no concreto.

Será que a mancha de sangue deixada pelo impacto do meu corpo atingindo o chão, desapareceria em quanto tempo? Será que as pessoas desviariam da mancha, com medo de sujar seus sapatos na covardia alheia? Será que elas perceberiam que aquela mancha representaria o fim de uma vida de merda, de fingimento e de desespero?

Provavelmente não. Provavelmente elas estariam muito ocupadas com suas próprias covardias, seus próprios problemas e suas próprias vidas e estratégias de sobrevivência.

É duro você se dar conta de que, na verdade, ninguém dá uma merda para a sua vida. Sabe aquela conversa de: "é para o seu bem. Tudo o que fiz, foi por amar você, etc etc"? Você sabe que isso não é verdade, certo? É só um jeito que as pessoas encontraram para controlar a vida das outras. Isso de: "eu sei o que é melhor para você", é apenas alguém querendo te controlar. Acredite. Vivo e respiro com esse tipo de pessoa, e sou muito covarde para dar um basta nisso.

É demais uma pessoa querer apenas se sentir feliz por alguns minutos de um dia cansativo? É demais uma pessoa querer chegar em casa após aguentar sua secretária idiota e ter alguém com quem conversar, alguém com quem desabafar que não esteja enchendo seus ouvidos com futilidades como sapatos e cores de renda? Que merda é uma renda, afinal?

Então coloco a máscara de bom moço, que qualquer coisa lhe agrada e internamente desejo que eu tivesse a coragem para mudar tudo, ou ao menos, pular lá embaixo e acabar com isso.

Eu tenho um segredo.

Ela

Eu tenho um segredo.

Se você comparar meu segredo com grandes segredos, verá que o meu segredo é bem idiota.

E o motivo pelo qual eu guardo esse segredo é ainda mais idiota.

Mas o que eu posso fazer? Não tenho oportunidade para mudar de vida, de profissão, de amigos e de família. Então, para quê ficar falando em voz alta, algo que você nunca vai alcançar? Magoar aquelas pessoas que convivem com você e verdadeiramente te amam, apenas para não guardar segredos?

Alguns dizem que segredos são corrosivos, que machucam aqueles que os guardam e aqueles que são prejudicados por eles. Mas, às vezes, a melhor coisa a fazer é guardar um segredo. Então, fico aqui parada, com o nariz grudado no vidro frio da janela panorâmica da ante-sala, no trigésimo andar, no Edifício Itália, olhando as pessoas lá embaixo ─ que daqui de cima parecem formiguinhas ─ e penso: "Será que todas essas pessoas também guardam segredos?"

Espero que sim, porque seria realmente solitário se eu fosse a única pessoa no mundo a guardar um segredo. E por carregar segredos, todos somos obrigados a carregar também uma máscara. Ás vezes fico analisando as pessoas e fico imaginando como ela seria se deixasse sua máscara cair.

Você já imaginou um mundo onde todos pudessem ser e fazer aquilo que quisessem sem usar máscaras? Imagino que o mundo seria um caos completo, porque enquanto uns iriam querer amar, cantar, dançar, rir, se divertir; outros quereriam matar, guerrear, odiar e destruir. Não sei dizer se as coisas seriam melhores ou piores.

Enquanto isso não acontece, vivo a minha vida usando uma máscara. Finjo que amo minha vida, minha solidão, meu trabalho, mas no fundo odeio tudo isso. É demais uma pessoa querer apenas se sentir feliz por alguns minutos de um dia cansativo? É demais uma pessoa querer chegar em casa após aguentar seu chefe idiota e ter alguém com quem conversar, com quem desabafar que não esteja enchendo seus ouvidos com fofoca de novela?

Então, coloco a máscara de boa moça, aquela que está feliz com tudo, que aceita tudo e que enxuga a louça ─ mesmo com os pés doendo ─ com um sorriso no rosto.

Eu tenho um segredo.

<<<< Olá pessoal. 

Essa é uma nova história. Esse prólogo é só pra vc ter uma ideia dos nossos heróis,  o que eles estão sentindo no momento. O resto da história será toda a partir de seus e-mails um para o outro. Não terá nenhum capítulo escrito, apenas e-mails e mensagens de texto. Esse sem dúvida é mais um desafio, que estou propondo a mim mesma. Espero que vcs gostem.

Não esqueçam de comentar e votar é muito importante.

Beijinhos, 

Monica>>>>


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