Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a
rainha dos salões.
Tornou-se deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em
disponibilidade.
Era rica e famosa.
Duas opulências, que se realçavam como a flor em vaso de alabastro; dois
esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante.
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte
como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que
produzira seu fulgor?
Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a
conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do
dia.
Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade,
sem os comentos malévolos de que usam vestí-la os noveleiros.
Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina
Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os
escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa
emancipação feminina.
Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um
instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse.
Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era desconhecida, a
julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a
velha parenta.
A convicção geral era que o futuro da moça dependia exclusivamente de suas
inclinações ou de seu capricho; e por isso todas as adorações se iam prostrar aos próprios
pés do ídolo.
Assaltada por uma turba de pretendentes que a disputavam como o prêmio da vitória,
Aurélia, com a sagacidade admirável em sua idade, avaliou da situação difícil em que se
achava, e os perigos que a ameaçavam.
Daí provinha talvez a expressão cheia de desdém e um certo ar provocador, que
eriçavam a sua beleza aliás tão correta e cinzelada para a meiga e serena expansão d'alma.
Se o lindo semblante não se impregnasse constantemente, ainda nos momentos de
cisma e distração, dessa tinta de sarcasmo, ninguém veria nela a verdadeira fisionomia de
Aurélia, e sim uma máscara de alguma profunda decepção.
Como acreditar que a natureza houvesse traçado linhas tão puras e límpidas daquele
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Senhora- José de Alencar
RomanceOBRA DE DOMÍNIO PUBLICO *NÃO SOU A ESCRITORA DA OBRA, ESTOU APENAS REESCREVENDO PARA O APLICATIVO CLÁSSICO DA LITERATURA BRASILEIRA