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Dinah e eu nem nos incomodamos em desligar o telefone.

- Preciso trocar de roupa - falei.

- Eu também - disse ela.

- Camila: Twister! No armário dos jogos! - falei em seguida.

Corri para o andar de cima, as meias escorregando no chão de madeira da cozinha, e entrei no quarto aos tropeços. Escancarei a porta do armário e comecei a escolher fervorosamente uma das camisetas jogadas no chão, numa esperança vã de que naquela pilha houvesse uma incrível e perfeita camisa bonita, com uma cor legal, sem nenhum vinco, e que dissesse "Sou forte, sou valente, mas também ouvinte e surpreendentemente boa com uma paixão verdadeira e duradoura por torcidas e suas líderes". Infelizmente, tal camisa não existia. Sem demora me decidi por uma camiseta suja, mas legal, preta e de estampa personalizada, por baixo de um suéter preto com gola V. Tirei os jeans de "assistir Ryan Goslin  com Camila e Dinah" e rapidamente coloquei meu jeans escuro, rasgado no joelho, mais bonito.

Aproximei meu queixo do peito e cheirei. Corri para o banheiro e freneticamente passei desodorante debaixo do braço mesmo assim. Olhei para o meu reflexo no espelho. Parecia bom, tirando meu cabelo meio assimétrico. Como de costume, passei os dedos entre minhas mechas para arrumá-las. Corri de volta para o quarto, peguei o casaco de inverno no chão, calcei o AllStar e corri para o andar de baixo com o sapato meio calçado.

- Todo mundo pronto? Eu estou! Vamos! - gritei.

Quando cheguei lá embaixo, Camila ainda estava sentada no meio do sofá assistindo ao filme do Ryan Goslin.

- Camila. Twister. Casaco. Carro. - Virei-me de costas e gritei para o andar de cima. - Dinah, cadê você?

- Tem um casaco extra? - perguntou ela.

- Não, vista o seu! - gritei.

- Mas eu só trouxe uma jaqueta! - gritou ela de volta.

- Ande logo! - Por alguma razão, Camila ainda não tinha pausado o filme. - Camila - repeti. - Twister. Casaco. Carro.

Ela pausou o filme e se virou para me olhar.

- Lauren, como você acha que é o inferno?

- Essa parece uma pergunta que poderia ser respondida no carro!

- Porque, pra mim, inferno é passar a eternidade numa Waffle House cheia de líderes de torcida.

- Ah, por favor - falei. - Não seja idiota.

Camila se levantou, o sofá ainda entre nós.

- Você está dizendo que deveríamos sair na pior nevasca em cinquenta anos e dirigir trinta quilômetros para ficar com um monte de garotas desconhecidas cuja ideia de diversão é jogar um jogo cuja caixa diz que foi feito para crianças de seis anos, e EU sou a idiota?

Virei a cabeça na direção da escada.

- Dinah! Rápido!

- Estou tentando! - gritou ela de volta. - Mas preciso equilibrar a necessidade de ir rápido com a necessidade de ficar magnífica!

Dei a volta no sofá e coloquei o braço ao redor de Camila. Sorri para ela. Éramos amigas havia bastante tempo. Eu a conhecia bem. Sabia que ela odiava líderes de torcida. Sabia que odiava o frio. Sabia que odiava sair do sofá quando estava vendo filmes do Ryan Goslin.

Mas Camila amava as batatas rösti da Waffle House.

- Há duas coisas às quais você não consegue resistir - disse a ela. - A primeira é Ryan Goslin

- Verdade - respondeu Camila. - Qual é a segunda?

- Batatas rösti - falei. As douradas e deliciosas batatas rösti da Waffle House.

Ela não olhou para mim, não exatamente. Olhou através de mim, através das paredes da casa, através da neve, e os olhos se apertavam conforme ela encarava a distância. Estava pensando naquelas batatas.

- Pode pedir as grelhadas com cebola e cobertas com queijo - falei.

Ela piscou forte e sacudiu a cabeça.

- Meu Deus, sou sempre tapeada pelo amor por batatas rösti! Mas não quero ficar presa lá a noite toda.

- Uma hora, a não ser que esteja se divertindo - prometi.

Ela assentiu. Enquanto Camila colocava o casaco, abri o armário dos jogos e peguei uma caixa de Twister com as bordas amassadas.

Quando me virei, Dinah estava na minha frente.

- Ai, meu Deus! - exclamei. Ela havia encontrado alguma coisa terrível em algum canto obscuro do armário da minha mãe: estava vestindo um macacão violeta bufante e justo nos tornozelos e um chapéu com abas sobre as orelhas.

- Você parece um lenhador gay com fetiche por bebês adultos - comentei.

- Cala a boca, sua tapada - respondeu Dinah simplesmente. - É uma roupa sexy de esqui. Diz: "Estou vindo das montanhas após um longo dia salvando vidas com a patrulha de esquis."

- Na verdade, diz "Só porque eu não fui a primeira astronauta mulher, não quer dizer que não posso usar a roupa dela" - falou Camila e riu.

- Jesus, está bem, vou trocar de roupa - falou Dinah.

- NÃO TEMOS TEMPO! - gritei.

- Você devia pôr botas - disse Camila, olhando para meu AllStar.

- NÃO HÁ TEMPO! - repeti aos berros.

Empurrei as duas até a garagem, e logo estávamos dentro de Carla, a SUV Honda branca dos meus pais. Oito minutos haviam se passado desde que Normani desligara. Nossa vantagem provavelmente tinha evaporado. Eram 23h42. Em uma noite normal, levava mais ou menos vinte minutos para chegar à Waffle House.

Aquela não seria uma noite normal.


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O Milagre da Torcida de Natal ❄ CAMRENNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ