Prólogo

3.3K 312 529
                                    

       Quatro anos antes.

       - Eu gosto quando seus pais têm coisas de adultos para resolver durante a noite e você vem dormir aqui em casa comigo – Thomas confessou baixinho, enquanto se focava em tentar vencer mais uma das incontáveis lutas Pokemóns as quais os dois garotos já haviam batalhado naquela noite – Mamãe comprou o filme novo das Tartarugas Ninjas para nós assistirmos! – contou animado. – Aposto que Leonardo e Raphael estão com tudo!

       - Meus pais não saem para resolver coisas de adultos durante a noite, Thom. – Dylan declarou sério, pausando o jogo através de seu controle sem fio e fazendo com que a imagem das personagens ficasse congelada na tela enquanto ele se acomodava na cama, sentando-se de frente para o amigo que vestia seu moletom enorme e vermelho do Homem de Ferro – Eles saem para transar.

       O'Brien viu as bochechas de Thomas assumirem um rosado vivo diante sua declaração que, a seu ver, era lindo, e ficava ainda mais lindo em seu amigo, enquanto Dylan observava-o, o menor tentava inutilmente tampar os ouvidos com as mãos pequeninas e até mesmo um tanto que delicadas, querendo evitar qualquer outra asneira que pudesse sair novamente da boca de seu amigo.

       - Nós não podemos falar sobre isso, Dyl! – o garoto retrucou assustado, sentindo as bochechas ameaçarem explodir em vergonha – Não podemos!

       - E porque não, Thom? – o mais velho quis saber enquanto levava ambas as mãos em direção aos braços do amigo e forçava-o a parar de tampar os ouvidos. – Não há nada demais sobre isso, nós já temos treze anos! Somos adolescentes.

       - Pré-adolescentes – resmungou Thomas – E eu ainda tenho doze. – murmurou emburrado.

       - Tanto faz, é normal as pessoas transarem quando são adultas – o garoto de cabelos escuros deu de ombros. – Mamãe me disse que não há nada demais nisso.

       - Pare com isso, Dylan! – o mais novo pediu envergonhado – Pare!

       - Tudo bem, me desculpe Thomas – O'Brien desculpou-se animado antes de deixar um beijinho sobre uma das bochechas avermelhadas do amigo e pular para fora da cama do mesmo, indo em direção à TV enorme instalada no quarto do garoto e trocando o que jogavam anteriormente pelo filme das Tartarugas Ninjas mencionado pelo mais novo. – Aposto que o Leonardo vai acabar com todos os vilões do novo filme! – declarou animado enquanto corria de volta para a cama com o controle remoto em mãos.

       - Raphael é quem vai! – Thomas defendeu sua tartaruga ninja preferida.

       - Leo é o líder – o maior resmungou.

       - Raphael é quem é – retrucou emburrado.

       - Raphael nunca será melhor que o Leo. – declarou convicto, e então, ambos calaram-se irritados um com o outro, ao som da música tão conhecida por eles que indicava o inicio do filme – Me desculpe por brigar com você. – Dylan pediu baixinho após alguns minutos em silêncio, vendo a abertura do desenho desaparecer aos poucos da tela.

       - Me desculpe por brigar com você também – Sangster pediu no mesmo tom e enlaçou seus dedos pequenos aos do outro garoto, como costumavam fazer sempre que assistiam seus animes, filmes e desenhos favoritos juntos.

       Cerca de meia hora mais tarde o garoto de cabelos morenos e bem cuidados começava a se sentir impaciente, rodando de um lado para o outro da cama de lençol do Batman, dando e desdando a mão para Thomas, sentando-se e deitando-se novamente ao lado do amigo, e ignorando completamente o fato de que um de seus filmes preferidos em toda a vida estava passando na TV a alguns metros de si. Dylan não conseguia parar de pensar no que havia lhe acontecido na escola hoje mais cedo, e o silêncio perturbador vindo de Thomas parecia fazer com que a lembrança do que acontecera durante o intervalo das aulas se tornasse ainda mais vívida. Ele se lembrava muito bem de como estava completamente alheio ao mundo à sua volta em uma das mesas do refeitório enquanto devorava um bolinho que lhe fora preparado com muito amor pela mãe quando sentiu uma mão delicada tocar-lhe um dos ombros, lhe chamando a atenção. Era Taylor, uma garota bonita, dois anos mais velha que Dylan, tinha cabelos macios, compridos e loiros, olhos de um castanho bonito que qualquer um em sã consciência julgaria como encantadores, mas na opinião de O'Brien, eram apenas parecidos como os de Thomas, seu vizinho a quem o garoto considerava também como melhor amigo. Naquela manhã, não houve muito diálogo entre eles antes que a garota se sentasse ao lado de Dylan na mesa do refeitório e o beijasse nos lábios. Dylan transformou-se numa mistura de confusão e desespero ao que Taylor não lhe dava tempo algum para entender o que acontecia ali. Ele não sabia como reagir, não sabia se deveria colocar a língua dentro da boca da garota da mesma forma que ela fazia com ele ou se deveria apenas ficar ali e deixar que ela fizesse o que queria. O garoto estava confuso, e tudo ficou ainda pior quando ela se separou de seus lábios e saiu para longe dali, dando risinhos envergonhados na direção de O'Brien.

       - O que é que você tem hoje em? – Thomas perguntou impaciente, pausando o filme ao que já se sentia irritado com o amigo mais velho que não parava quieto em seu lugar nem por um segundo sequer.

       - Eu não sei, Thom, me desculpe – Dylan pediu envergonhado por ser aquele a atrapalhar ao filme enquanto se sentava de pernas cruzadas ao lado do garoto, sendo acompanhado por Thomas em suas ações – É só que me aconteceu algo estranho na escola hoje.

       - Que horas? – o menor perguntou confuso – Nós passamos a manhã toda juntos.

       - No intervalo, enquanto você fazia o trabalho de Inglês com Will e Ky Hong. – Dylan contou e pareceu pensar em algo por alguns segundos – Thomas, alguém já te beijou?

       - Sim, meus pais e minhas irmãs são cheios de demonstrar carinho com beijos – o garoto fez um careta desgostosa para a lembrança das irmãs pequenas babando por todas as suas bochechas – Além de você é claro. – ele deu de ombros.

       - Não! – Dylan retrucou alto – Não assim – baixou o tom de voz ao que percebera estar um tanto que equivocado – Na boca, Thom. Alguém já te beijou na boca?

       - O que? – o mais novo perguntou surpreso – É claro que não Dyl! Porque alguém me beijaria na boca?

       - Eu não sei – suspirou derrotado – Taylor me beijou na boca.

       - E porque ela fez isso? – a voz do moreno soou ao menos duas vezes mais fina que o normal ao que ele não era capaz de conter a surpresa que sentia diante o que o melhor amigo lhe contava.

       - Eu não sei! Ela não me disse! – o outro resmungou.

       - Isso é tão estranho – Thomas franziu o nariz ao que tentava imaginar seu amigo sendo beijado por Taylor.

       - Mas é um estranho bom – Dylan defendeu.

       - Você gostou? – o menor perguntou curioso.

       - Eu não sei, foi confuso – o menino declarou, sentindo-se tímido pela primeira vez em um longo tempo. Era desconfortável para ele falar sobre aquilo.

       - Para mim isso tudo era só coisa de filmes! – declarou animado. – Você teve uma experiência de filmes, Dylan! – constatou feliz.

       - É, eu tive – sorriu envergonhado, mostrando as covinhas tímidas para o amigo – Eu quero tentar com você, Thom. – confessou depois de alguns segundos de total silêncio entre eles.

       - Você o que? – a boca do mais novo se abriu de imediato, em choque pelo que o outro acabara de lhe dizer.

       - Eu quero tentar com você – repetiu – O beijo. Na boca. – o mais velho explicou pausadamente. – Tem algum problema para você? – perguntou medroso do que Thomas poderia vir a responder, em sua cabeça, não parecia errado querer beijar Sangster nos lábios, afinal, eram amigos. Para Dylan, não parecia errado querer beijar Thomas e dividir aquele novo sentimento com ele.

       - Não, mas.. mas – o garoto de cabelos castanhos claros gaguejou, tossindo de leve para que pudesse se recompor da surpresa antes de voltar a falar – Mas as pessoas nos filmes só se beijam quando gostam umas das outras.

       - Eu gosto de você – o mais velho deu de ombros, despreocupado – Eu posso tentar ou não?

       - Me beijar? – quis saber.

       - Sim.

       - Na boca? – insistiu.

       - É Thomas! – Dylan declarou – Na boca – contou enquanto se aproximava do outro – Eu posso tentar ou não?

       - Po-pode – concordou e então, O'Brien deixou que seus lábios se juntassem aos do amigo enquanto sua língua repetia o que Taylor fizera com ele mais cedo. Por alguns segundos, Sangster ficou imóvel, então, algum tempo depois, Dylan pode sentir movimentos tímidos da língua de Thomas indo de encontro à sua enquanto suas mãos juntavam-se nos cabelos de O'Brien, ele sorriu em meio ao beijo ao que finalmente descobriu que quando se é beijado de volta, todas aquelas sensações estranhas e confusas durante o beijo tornam-se ainda mais intensas e melhores.


The D.U.F.F. //DylmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora