Desconfiança

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"Você confia de mais em alguém?  Cuidado, os humanos costumam decepcionar."

Era manhã de sábado, estava eu na varanda do meu quarto olhando os poucos carros que passavam na frente daquele apartamento, olhei para o céu e fechei os olhos e escuto de repente o som da TV ligando, abri os olhos assustado, e olhei para a TV, andei até ela e à desliguei, fiquei olhando, e sentei no sofá, e uns dois segundos depois de eu sentar ouço alguém batendo na minha porta chamando "Gael", era a voz de Milena, levantei e abri a porta, olhei para o rosto dela, ela sorriu pra mim e perguntou:

- Posso entrar?

Eu me afastei para ela poder entrar e disse:

- Mas é claro, entre e fique avontade...

Ela entrou, sorriu pra mim timidamente, e sentou no sofá,  liguei a TV, e sentei ao lado dela, pude ver as lágrimas encherem os olhos dela, e me espantei, fiquei um pouco feliz em saber que a Milena estava naquele momento, sem ter vergonha de chorar.

Perguntei à ela oque houve e ela tentando sorrir disse:

- Sabe, eu e a Morgana sempre estamos juntas, mas isso é agora...  Nossa mãe morreu depois do parto, foi um "milagre"...

Eu meio que sem saber o que falar abracei ela e disse:

- Me desculpe é a única coisa que posso fazer, lhe abraçar,  estou sem palavras...

Ela sorrindo com os olhos cheios de lágrimas disse:

- Não precisa,  poder desabafar com você já me deixa um pouco feliz...  Depois de minha mãe morrer eu continuei com meu pai, mas a Morgana foi enviada para casa da avó, esse talvez seja o motivo de ela ser tão antipática ... Maltrataram bastante ela...

Eu comecei a querer chorar também,  aquilo me comoveu, eu perguntei:

- E como fizeram pra hoje estarem juntas?

Ela abaixou a cabeça e perguntou:

- Promete não contar para ninguém?

Eu acenei com gesto de sim com a cabeça  e ela continuou:

- Meu pai tentou me estuprar quando eu tinha 14 anos, ele tava bêbado, minha madrasta era boazinha, mas naquela hora com medo de apanhar ficou só vendo e chorando, foi quando tentei correr para a cozinha, e ele conseguiu puxar minha calça ficando exposta minha calcinha, mesmo assim continuei e peguei uma faca, ele puxou minha calcinha e enfiei a faca na garganta dele, comecei a chorar, minha mão tava cheia de sangue, mas era a única forma, não foi culpa minha...

Ela chorando de mais, continuei abraçando ela, e ela tentando parar de chorar continuou:

- Minha madrasta mandou eu fugir e comprou o quarto 17 do apartamento em Villagie, esse "grande" apartamento,  fiquei sabendo que depois disso ela foi morta em um assalto à mão armada. . .
Depois disso fui atrás da Morgana,  consegui trazer ela pra cá e até hoje moramos juntas.  Como eu ganho dinheiro? Uma mulher me deixa trabalhar junto com minha irmã em uma floricultura. . .
As vezes o dinheiro não dá para pagar as dívidas do quarto então eu dou o meu corpo em troca de mais um mês no apartamento, não sou uma prostituta,  mas é isso ou morar de baixo de uma ponte com minha irmã.

Eu soltei ela e eu chorando, ela sorriu pra mim e perguntou se podia ser minha amiga, e eu respondi:

- É claro, por favor se precisar de dinheiro me pede por favor, não faça mais isso...

Ela sorriu e deu um beijo em meu rosto e disse que já ia embora, eu sorri, andei até a porta e abri para ela, abracei-à e ela me deu um beijo na boca, ficamos quase um minuto, foi quando ela se afastou e pediu desculpas, eu disse que não era nada e ela saiu, eu tranquei a porta e deitei na cama, eram 17:30 e eu tirei um cochilo.

Correndo estou,  estou ofegante,  acho que alguém tá vindo atrás de mim, a árvore é toda preta e sem folhas, sento um pouco e escuto passos, me hesito e corro mais, meu coração acelerado, não sei mais  o que faço, foi quando ouvi uma voz, desconfiei que fosse a Milena... Virei para olhar e estava lá,  Milena e Morgana cheia de sangue, falando "Fuja, Fuja" ... Eu confuso corri ainda mais rápido que o normal,  e escorreguei caindo perto de um lago, meu rosto cheio de lama, olho para cima e vejo a Samy, sorrindo para mim.

Foi quando acordei assustado, confuso, que merda de pesadelo foi aquele...  Meu celular toca, pego ele e vejo que é a Samy, antendo e digo:

- Alô?

A Samy responde:

- Alô Gael, tá tudo bem com você?

Eu dou um sorriso e respondo:

- Melhor agora, e com você?

E a Samy diz:

- Tambem e ficarei melhor ainda se você abrir a porta para mim entrar...

Eu me levanto rapidinho e digo:

- como assim?

Abri a porta e olho ela sorrindo pra mim, ela desliga o telefone e diz:

- Vai me convidar para entrar?

Eu dou um sorriso e me afasto um pouco da porta para ela entrar.

Tranco a porta e vejo ela sentada na minha cama, fiquei um pouco contente,  ela já estava um pouco mais íntima...

Sentei do lado dela e perguntei:

- E aí?

Ela sorriu e colocou os cabelos por trás da orelha, olhando para baixo. Que visão linda aquela, cheguei um pouco mais perto dela e abracei, ela agarrou em mim e me beijou,  comecei a tirar a camisa dela, e ela tirou a minha, ela me empurrou na cama e disse:

- Quer ser meu namorado?

Eu não iria dizer não naquela hora e disse:

- Q-Quero

E mais um noite aconteceu aquilo, foi ótimo,  ela sabia como fazer,  ela sabia me acalmar, ela era linda e perfeita.

Depois de acontecer tudo, acabamos 02:20 e fomos dormir, conversando baixo...

Estou feliz de mais, morando só,  tenho a Samy como namorada, uma vizinha ótima e a outra nem tanto, agradeço muito ao meu pai e à minha mãe por tá fazendo minha vida valer a pena.

Mas não me deixo levar, as vezes desconfio que a felicidade é apenas uma pegadinha da vida, na qual nos leva à tristeza de novo.

As gêmeas do 17 Onde histórias criam vida. Descubra agora