33 | escolhas

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Ashley subia os degraus tentando ao máximo não fazer nenhum ruído; apesar da escada possuir uma aparência nova, o ferro parecia frouxo e cada passo dado em cima do objeto fazia seu coração tremer. Sua respiração estava pesada, os pulmões trabalhavam arduamente procurando não causar nenhum tipo de problema devido a adrenalina enorme que pulsava em seu corpo. Ela estava com medo. Mais do que deveria, pensou. Não tinha certeza sobre a localização de Benjamin, mas certamente aquela janela aberta lhe levaria a algum lugar. Pausou os movimentos assim que se encontrou na mesma direção da brecha, um espaço relativamente curto separava o corpo da agente da pequena base que havia logo abaixo do peitoril. Inspirou algumas vezes até impulsionar o corpo de uma só vez, saltando rapidamente. Desequilibrou-se durante alguns segundos, mas com agilidade espalmou as duas mãos sobre a parede de tijolos; rezou mentalmente para que ninguém a tivesse escutado.

Depois de aguardar minutos, começou a arrastar os pés de forma lenta até que pudesse ficar próxima o bastante para olhar o interior do cômodo. Havia uma cama velha e um armário surrado pelo tempo; além da porta que deveria dar acesso ao quarto, outra se encontrava no lado oposto - o que certamente seria um banheiro. Recuou novamente, encostando a testa na parede, tentando controlar a respiração. Era agora ou nunca. Precisava entrar. Rotacionou o pé até que esse pudesse ficar numa posição confortável para lhe dar apoio, segurou firmemente na lateral da janela e ergueu a perna esquerda impulsionando todo o seu corpo até que encontrou o chão. Não houve tanto barulho, mas ao girar a cabeça observando atentamente onde havia entrado encontrou um par de olhos azuis esperançosos lhe encarando. Levou a mão a boca numa tentativa inútil de controlar a felicidade em que ficara ao ter Benjamin em seu campo de visão. Ele estava amarrado, os braços e as pernas; sua aparência estava péssima e sentiu uma raiva fulminante lhe invadir o corpo ao notar as olheiras profundas, a boca seca e o estado assustado em que o garoto estava.

— Tia Ashley? — sua voz saiu fraca, medrosa, com receio.

— Oi meu amor — a agente sussurrou, engatinhando lentamente até por a mão sobre os cabelos molhados do menino. — Eu vou tirar você daqui.

— Cadê o papai? — questionou, os olhos ainda cheios d'água. Ashley sentiu o coração apertar.

— Ele está lá fora, esperando você — sem perder tempo, a mulher retirou de sua bota um canivete e começou a livrá-lo das cordas. — Eu preciso que você ouça com atenção, Ben. Promete que vai fazer o que eu disser?

Ele assentiu num movimento rápido.

— O papai está numa rua afastada daqui — ia dizendo, enquanto cortava as amarraduras. Deu uma breve olhada para a porta do quarto. — Você vai sair pela janela e descer as escadas, quero que seja rápido. Depois vai correr muito, assim que sair do beco vá pela esquerda e continue correndo.

— Ele me esperando? — ele se livrou dos nós e se pôs de pé com certa dificuldade.

— Isso — foi imediata, guiando o corpo do garoto até a abertura. Conseguiu erguê-lo pelos braços e o pôs exatamente onde esteve minutos antes. — Segure firme e não tenha medo. Você não pode ter medo agora, ok? Você precisa pular até a escada, Ben. Você consegue. Você é um garoto forte.

— Mas eu tô com medo — choramingou segurando firmemente o braço da agente.

— Vai ficar tudo bem — ela prometeu, depositando um beijo rápido em sua testa. Aos poucos, Benjamin foi soltando-a e espalmando as mãos contra a parede de tijolos. — Seu pai vai está te esperando, mas você tem que ser corajoso. Igual a ele.

Foi então, que tudo aconteceu numa fração de segundos. Ouviu a porta sendo aberta de forma violenta e a única coisa que teve tempo em fazer, fora gritar algumas palavras de coragem para o menino. Um dos capangas veio para cima de Ashley, pegando-a pelos braços e jogando todo o seu corpo contra o armário velho que enfeitava o ambiente. Ela sentiu toda a sua coluna sendo estraçalhada, mas não ousou desistir; desvencilhou-se com rapidez dos escombros e foi para cima do homem infinitas vezes maior o atingindo de forma certeira no maxilar. Antes que ele pudesse se recuperar, retirou sua arma do cós da calça atingindo a nuca do homem, assistindo-o desabar sobre a cama. Não teve tempo para se vangloriar, já que mais dois homens do mesmo porte invadiram o quarto com revolveres sendo apontados para a loira. Eles trajavam um capuz preto, mas isso não mais importava; precisava saber se havia conseguido salvar Benjamin.

AGENTE 027Onde histórias criam vida. Descubra agora