Um Dia Como Outro Qualquer

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Há muitos modos de conhecer pessoas. No colégio, em uma festa, em uma lanchonete ou talvez, quem sabe, em um parque.

Todo esse tempo que estou aqui vi muitas e muitas pessoas se conhecerem em lugares como esses. Lugares que se pensa em paz e tranquilidade. São nesses lugares que se encontram as melhores pessoas. Pessoas que buscam um tempo de sua vida para viver.

Não digo viver como se não houvesse amanhã, isso nunca. Digo: viva cada dia melhor que o outro, viva para que exista um amanhã. É para isso e por isso que deve-se viver. Não teria sentido viver somente o hoje, pois o amanhã chegará. Viva as emoções, os momentos, a vida.

É isso, eu digo: Viva! E espero que viva.

Sonhe e espero que sonhe.

Ame e espero, mais que tudo, que ame.

Seja um desses casais que se escondem atrás de árvores, uma dessas crianças que abraça sempre que pode seus pais, que sorri mesmo para as pequenas coisas, que se arrisca a fazer coisas novas. Seja tudo e viva tudo.

Seja como este rapaz que aqui se encontra. Sentado inquieto, com as mãos tremendo e suando. Pronto para aprontar algo novo. Sua perna não para de tremer. Está usando calça jeans e camisa, arrumado demais para um dia qualquer no parque. A menos que não seja um dia qualquer.

E sim! Eu tinha certeza, não era um dia qualquer.

Uma mulher de seus vinte e poucos anos anda em sua direção. Alegre e calma. Usa um vestido solto e leve para um tempo como este. Quando avista o rapaz (creio ser mais adequado chamá-lo de homem, já que um rapaz feito não é mais um rapaz, é um homem) sorri e seus olhos castanhos são levemente apertados por suas bochechas. Caminha apressada para junto dele.

"Oi." Diz quando se aproxima dele.

"Estou feliz que tenha vindo." Ele sorri e parece mais nervoso ainda.

"O que foi?" Pergunta ela após uns minutos de silêncio. O homem não para de olhá-la sorridente. "Tem algo em meu rosto?" Ela pergunta colocando levemente sua mão ao rosto.

"Não, não é nada." Diz. "É que... que vovocê" Gagueja. "Você é tão linda." Ele leva sua mão ao rosto dela e toca delicadamente com as pontas dos dedos suas bochechas, já coradas pelo elogio."Tem uma coisa que eu nunca te contei." Continua. "Quando eu te vi pela primeira vez,naquela festa de amigos, eu pensei: nossa!"

Ela ri.

"E não foi um: nossa mas que gata! Estava mais para: nossa o que essa garota está vestindo!" Ele sorri, um sorriso doce e gentil. "Você estava usando um daqueles vestidos compridos de baile e uma máscara brilhante."

"Eu achei que era uma festa à fantasia." Queixa-se.

"Tenho que agradecer muito por aquele dia, se não fosse pelo trouxa que te disse para usar aquele vestido nunca teria te notado tão rapido."

"Talvez." Diz.

"Foi quando tivemos nosso primeiro encontro que finalmente me toquei."

"Foi é?" Ela continua sorrindo. "E o que pensou naquela hora?"

"Caramba, não posso deixar essa mulher escapar." Ele aponta para um lado do parque. "Ali, foi onde demos nosso primeiro beijo." Ele começa a se ajoelhar. "E quero que seja aqui onde daremos o próximo passo, se você aceitar é claro."

Oh o último biscoito do pacote, a última figurinha do álbum! Ele vai pedi-la em casamento!

De dentro de seu bolso retira uma pequena, mas delicada caixa. Ao abri-la recita as seguintes palavras:

"Livia, você aceita ser a tampinha da minha garrafa? A última peça do meu quebra-cabeça?"

Sério? Como assim? Ele disse isso mesmo? Garrafinha, quebra-cabeça? E onde fica o típico e comum: quer se casar comigo?

Ok. A mulher ficou sem fala, seu sorriso se esvaiu. Ela arregalou os olhos e abertou bem os lábios. Seus olhos começam a lacrimejar. E deu um passo para trás. E...

Não acredito que ela vai fazer isso. Não acredito!

E ela faz...

Sai correndo o mais rápido que pode. E deixa lá seu futuro-ex-noivo ajoelhado e incrédulo. Com uma expressão preste a desmoronar.

Não demora muito e levanta-se, senta-se e é aí que seu mundo cai. O homem volta a ser aquele rapaz que há pouco o havia deixado, com o rosto virado para baixo chora, chora e chora. Entregando-se a tristeza e a raiva.

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