HEY ANGEL - H|S [PARADA]

08 .ele era o meu anjo?

Você já sentiu como se todos os vasos sanguíneos de sua pele estivesse congelando? Não? Deixe-me contar que essa sensação é horrível. É como cair em um estreito poço com paredes geladas e escuras. O pânico lentamente vai, aos poucos, se apoderando de você, e você, assustado, se encolhe bem no fundo dessa parede como um filhote de coelho perdido, tentando fazer algum ponto de calor. Desperto-me e sinto um estranho medo de abrir os olhos

Quebrada. Essa era a única palava se encaixava perfeitamente em meu estado. Todo o meu corpo doía, quase podia sentir os ossos se partindo em minha pele, meus joelhos e braço ardiam como uma lenha posta no fogo. Junto o resto de minha coragem e abro os olhos incomodada com a escuridão e me arrependo no minuto seguinte, vendo ele de cabeça baixa

A sombra estava aqui

Estava no mesmo quarto que passei a noite passada, essa lembrança faz com que meu estômago queira se embrulhar nele próprio

“Não grite, por favor.” ele pede lentamente parecendo estar cansado. Eu queria sair daqui, correr e me esconder em alguma cratera mais próxima, porém isso era praticamente impossível visto que, eu nem podia mexer o pescoço direito. Observo ele se levantar e vir até mim “Vou te por sentada tudo, bem? Eu cuidei um pouco de seus machucados, logo não irão mais doer tanto assim. Eu preciso te mostrar uma coisa.”

Ponderei de mesmo estando quase inválida, de me levantar e sair daqui em uma velocidade luz mas desisto dessa ideia após perceber que mesmo se eu conseguisse mexer as minhas pernas, provavelmente ele me alcançaria logo depois que eu passasse da porta do quarto

Solto um suspiro acenando com a cabeça em concordância. Ele pega em meu ombros e com a outra mão puxa delicadamente meu braço me puxando pra cima. Solto um gemido sofrido quando uma dor fina passa pela minha coluna

“Desculpa.” ele para, provavelmente com receio de voltar à falar “É necessário ficar calma, você pode fazer isso?”

“O que você vai fazer?” pergunto alarmada deixando o fio de medo transparecer em minha voz. Eu realmente tinha visto asas? Isso era praticamente impossível, correção, isso é impossível. Talvez eu tenha visto a sombra de algo e confundido com outra totalmente diferente

“Só… observe. ” com isso ele se afasta de mim e fica à minha frente, apenas o suficiente para ver o seu corpo completo. Ele solta um suspiro pesado e seus olhos são fechados quase que de imediato. Tudo parecia estar normal, até que do espaço vazio, consigo visualizar mãos longas e brancas se formarem à minha frente. Abro a boca para perguntar o que merda acabará de acontecer quando forma-se o seu torço mostrando a T-shirt cinza, logo suas longas pernas eram visíveis juntamente com a calça de couro preto. Meus olhos a essa altura estava tão arregalado que tinha medo que ele alargasse mais e acabasse por sair para fora da órbita. Mesmo que tenha presenciado as partes dos seus membros formarem antes, eles jamais me prepariam para o que estava por vir

Como um sopro feito nas cinzas, o seu rosto é visível bem a frente de meus olhos e eu, sentindo medo que a sua figura se dissipasse diante de mim, prendo rapidamente minha respiração. Seu rosto podia ser descrevido como algo frágil porém de postura firme e marcante, seus traços aplicados e treinados se emolduravam perfeitamente em seu rosto que parecia ter-se  esculpido primeiro em uma porcelana para depois construir em carne a obra final. Seus lindos cabelos caiam em vários cachos pelos seus ombros lhe dando uma aparência juvenil e, quando seus verdes olhos se abrem consigo enxergar todo o sofrimento e martírio por trás deles como, se bem a minha frente, eu estivesse vendo o começo de um grande precipício sem fim

“Eu deveria proteger você.” a sua rouca voz rasga o silêncio, podia sentir a dor em suas palavras como a ponta de uma grande lâmina afiada “Eu deveria está por perto quando qualquer coisa de mal estivesse pra acontecer.” ele levanta o olhar do chão e me encara fazendo uma careta “Eu deveria espantar todas as trevas e manter você sã e intacta.” ele fecha as suas mãos em punho e tenho medo do que ele possa fazer “Mas eu sou fraco. Eu não consigo fazer nenhuma dessas merdas porque eu sou como uma maçã podre. Eu sou fraco.” ele para e sinto o meu coração se encolher em meu peito