Capitulo 3

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Depressa corria a notícia por toda a cidade. De porta em porta, de janela em janela. Crianças gritavam-na pelas ruas:
- Mataram Teobaldo! E foi Romeu!
Várias pessoas se reuniram e levaram o cadáver para a casa de Capuleto. Ali houve cenas desesperadoras, gritos e pranto das mulheres, promessas de vingança, dos homens.
Todo aquele ruído não chegava ao recôndito jardim, à sacada, ao quarto em que Julieta se recolhera com seus pensamentos, à espera da noite que devia trazer-lhe Romeu. Foi a ama quem lhe deu a notícia: a morte de Teobaldo e o desterro de Romeu, por ordem do príncipe.
Julieta ficou em desassossego terrível. Por um lado, poderia querer a quem matara seu primo, ao inimigo de sua família? Porém, por outro lado, poderia odiar seu esposo? Amava-o, amava-o profundamente, com toda a sua alma... E aquela realidade acabou por sobrepor-se a qualquer outra consideração.
À noite, Romeu escalou o muro do jardim, como da outra vez, mas não para ficar lá embaixo. Saltou também para a sacada.
Frei Lourenço, confessor de Romeu, conhecia-o desde criança. Casara-o com Julieta, e dessa vez - mais uma vez!
- foi seu muro de lamentações, seu consolo na atribulação. E, além disso, engenhoso artífice de uma solução.
Romeu tinha de abandonar Verona. Mas o frade era homem de boas idéias, um desses homens de Deus que não só têm a palavra sempre pronta, como também desejam fazer dela realidade, pondo toda a boa vontade em jogo para sanar os danos do erro e do mal. Mas, nos negócios humanas, sobretudo quando neles interfere a paixão, surgem imponderáveis que escapam a qualquer previsão. Estava resolvido que no momento oportuno Frei Lourenço faria saber aos Capuleti e aos Montecchi o casamento de Romeu e Julieta. Que faria com que o marido voltasse de Verona, que arranjaria um entendimento entre as duas famílias...
Pois bem: o primeiro obstáculo foi ter messere Capuleto decidido dar sua filha em casamento ao conde Paris, um nobre amigo da casa, que aspirava à mão da jovem havia muito tempo. Uma cena desagradável passou-se entre Julieta e seus pais. Ela recusava casar-se. Sabia muito bem que a razão para tal recusa estava acima de quantos argumentos pudessem usar seus progenitores. Eles, porém, ignorando o vínculo que a unia a outro homem, queriam dissuadi-la, a mãe através da persuasão, o pai pela violência. Até a ama, terceira figura daqueles amores, falava também agora a favor do casamento com Paris. De novo, Frei Lourenço foi consolo e ajuda. Julieta foi ter com êle, desesperada. Também dessa vez arranjou êle um recurso. Mais complicado, pois cada vez mais as coisas se emaranhavam, pela obstinação, pela cegueira, pelo erro e pela paixão, e era preciso recorrer a artifícios maiores para combatê-los.
Chegado o dia previsto para o casamento de Julieta e Paris, a casa de Capuleto estava movimentada, com o alvoroço de criados, aias e pajens. Mudavam-se móveis, tapetes eram colocados, preparavam-se flores, ramalhetes. Chegavam manjares de todo o tipo. A dona da casa estava em todos os pormenores. Messere Capuleto ia de um lado para o outro, e gritava, gesticulava, animava uns, repreendia outros, estimulava todos, entre gracejos e risos. Sua voz era ouvida por toda a parte: "Atividade! Atividade! Atividade!"

Romeu E JulietaWhere stories live. Discover now