Capitulo 4

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Foi a ama quem deu o alarma. Tinha ido despertar Julieta e saiu do quarto dando gritos lancinantes. Correram os pais, vários criados: Julieta estava deitada sobre a alta cama de dossel. Vestia suas galas de noiva. Seu rosto, que o alvíssimo tule branco emoldurava, mostrava-se pálido, inanimado, de uma beleza glacial, como se fosse de nácar ou de mármore. A mãe aproximou-se, e viu que a jovem não respirava. Tinha perdido o calor da vida.
O enterro foi no dia seguinte. Toda Verona estava consternada. Acumulavam-se os males sobre a casa dos Ca-puleti. Primeiro Teobaldo, agora Julieta!
Apenas uma pessoa na cidade sabia que, em realidade, Julieta não morrera: Frei Lourenço. Êle próprio preparara uma beberagem, que a moça tomara, trêmula e esperançosa, na noite da véspera do casamento. Esperava o frade mantê-la como morta durante quarenta e oito horas, no panteão dos Capuleti. O tempo exato para poder avisar Romeu, a fim de que êle viesse, e a levasse para Mântua.
Entretanto, e mais uma vez, o destino ia transtornar aqueles planos. Frei Lourenço mandou outro frade a Mântua, onde estava Romeu, com uma carta em que lhe explicava seu plano, e a urgência de seu regresso. Mas a carta não chegou ao seu destino, porque numa pequena aldeia de passagem prenderam o mensageiro durante vários dias, suspeitando que êle pudesse levar o contágio da peste que ali grassava. Voltou, pois, o frade ao convento, trazendo a carta, sem a ter entregue ao destinatário.
Entretanto, já um criado de Romeu lhe dera a notícia da morte de Julieta. E o amoroso, sem pensar em mais nada, pôs-se a caminho de Verona. Chegou, quando já avançada ia a noite.
No cemitério, Romeu caminhava entre as sombras densas, cortadas, às vezes, por vagas formas brancas, que eram arestas, superfícies de lápides, braços de cruzes, colunas cravadas na terra.
Uma massa de pedra destacava-se, com maior relevo: o mausoléu dos Capuleti.
Romeu dispunha-se a levantar a pedra que cobria a porta do subterrâneo, mas deteve-se, bruscamente. Algo movia-se, ali perto. Um vulto saía de trás de um cipreste.
- Montecchio sacrílego! Detém teus passos! Queres vingar-te para além da morte?
Era Paris, o noivo frustrado de Julieta. Tinha estado rondando, como um cão, o cadáver daquela que deveria ter sido sua esposa.

Romeu E JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora