1- O beijo

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Se você ainda está aqui, é porque ainda não perdeu totalmente a paciência comigo. Mantenha-se assim... Vou explicar com todos os detalhes como aquele beijo foi para mim naquela época, com todas as minhas experiências de um garoto imaturo. Só espero que meu filho nunca encontre este livro, eu era obstinado, mas vamos lá...

***

Quando aquele garoto me beijou, talvez eu tenha correspondido, mas foi algo totalmente involuntário. Se você não acredita, não me importo, pois sou realmente heterossexual e, se alguém me beija, eu reajo de acordo.

Tudo bem, admito que o beijo foi bem gostoso, especialmente por ser diferente de beijar uma garota delicada. Foi mais... interessante, para dizer o mínimo.

Após recuperar o fôlego ainda pela manhã, dirigi-me ao banheiro, me preparando para mais um dia monótono. Enquanto a água do chuveiro levava embora o suor, permanecia a culpa e a consciência pesada, como em todos os dias em que acordei pensando naquele garoto.

Tornou-se uma rotina, e detesto rotinas. Confesso que estava extremamente confuso. Pela primeira vez na vida, minha sexualidade estava em dúvida. Se eu me sentia tão seguro como um heterossexual, por que diabos eu estava pensando tanto em um cara? Isso significa que sou homossexual?

Não quero ser rotulado como gay!

Não conseguia parar de pensar no que meus amigos diriam se descobrissem. E minha irmãzinha? Meu Deus, ela ficaria devastada se soubesse disso. Eu não sou assim, e é isso!

Era o que eu tentava me convencer.

Henrique era o nome dele, e eu o conhecia bem. Ele cursava Engenharia Civil na mesma faculdade que eu e, há alguns anos, frequentava a mesma turma de natação. Contudo, quando ele se assumiu publicamente para os pais e amigos, decidi sair da turma. Não queria estar perto dele, especialmente imaginando-o me olhando de sunga no vestiário. Não fui o único a sair; alguns colegas também o fizeram, exceto o Marcos, meu melhor amigo. Mas a questão é dele.

Marcos se irritou com a minha atitude, me convidou para voltar a fazer natação, argumentando que o cara era bissexual, o que não o tornava um maníaco. Mesmo assim, eu recusei.

Henrique era visivelmente mais fraco do que eu - vamos admitir que não sou apenas bonito, mas também muito forte. Isso significa que poderia ter reagido fisicamente quando ele me beijou, mas não o fiz, e não conseguia imaginar-me fazendo isso.

Tudo começou quando o professor de História da Técnica II nos pegou de surpresa com um trabalho sobre as técnicas dos monumentos gregos. Eu, estudante de Engenharia Civil, já sabia que seria um desafio e o trabalho não decepcionou nesse aspecto. Mas, vamos pular essa parte técnica. O que realmente importa é que o professor, conhecido por seu mau humor, decidiu sortear as duplas, talvez na esperança de animar uma aula que costumava ser monótona.

Quem adivinhar a minha dupla vai ganhar um doce!

Até então, eu mal havia trocado dez palavras com o garoto em questão. Ele não era do meu círculo de amizades, assim como eu não fazia parte do dele. Sempre que nos cruzávamos, sentia-se uma tensão no ar, especialmente por conta do incidente anterior na turma de natação. Ele era dedicado aos estudos, com aquela típica expressão de playboy que encantava as garotas, e ao mesmo tempo, uma inocência que despertava o desejo de proteger... Tenho que admitir que ele não era feio, isso é certo.

Ele até que é bonito, não que eu fique reparando, na verdade, nunca havia prestado muita atenção nele, nunca me interessei... Até aquele fatídico momento. Por insistência dele, decidimos fazer o trabalho na sua casa. Talvez ele se achasse superior demais para ir ao meu apartamento de classe média, não sei ao certo, mas acabei aceitando. Não queria ter aquele cara presunçoso na minha casa de qualquer jeito.

A residência dele tinha uma aura clássica e sofisticada. Ele comentou que sua mãe era arquiteta e seu pai, o engenheiro responsável por tudo. Isso me deixou um pouco desconfortável; achei desnecessário ele me dar essas informações quando eu sequer perguntei, mas logo percebi que ele falava por nervosismo. Não faço ideia do que poderia estar o deixando assim.

As câmeras naquela casa pareciam seguir cada um dos meus passos, e eu me senti como se fosse um criminoso, embora nunca tivesse cometido um delito sequer.

- Vamos fazer o trabalho no meu quarto - ele sugeriu de forma simpática, mas, sinceramente, eu ainda não estava curtindo muito a ideia de estar ali com ele. Depois de muita pesquisa e planejamento - tenho que admitir que o garoto sabia exatamente o que estava fazendo -, decidimos fazer uma pausa para conversar.

Descobri que ele, assim como eu, era um grande fã de videogames e de Naruto! Isso fez ele subir vários pontos no meu conceito. Ele era apaixonado pelo Itachi, enquanto eu era mais ligado no Shikamaru, mas mesmo assim conseguimos ter um bom papo. Não mencionei meu vício por séries de romance para ele.

Decidimos jogar um pouco de GTA e ele me deu algumas dicas para as missões, até que o assunto mulheres surgiu. Sabia que ele era bissexual e provavelmente gostava de mulheres também. No começo, ele pareceu um pouco desconfortável e eu também estava, mas conforme a conversa fluía, nos tornamos mais íntimos.

- A Rafaela da Engenharia Ambiental é muito atraente! - Ele comentou, desenhando uma silhueta que realmente refletia seu corpo esculpido.

- Eu sei, e ela também é incrível na cama, mas é muito grudenta, deu trabalho pra ela desapegar! - Comentei.

- Você já ficou com ela? Nossa! - Ele arregalou os olhos completamente surpreso.

- É claro, meu irmão! As meninas de arquitetura também! O segredo com as promíscuas carentes é deixar claro que é você quem está no controle, não deixar elas decidirem, elas fazem muito doce, acham que homens gostam desse tipo de enrolação. Você só tem que beijar, se ela gostar, deixa ela querendo mais, faz ciúme e só depois que elas estiverem totalmente interessadas, aí você ataca!

- O segredo está no beijo com atitude? - Ele parecia gravar em sua mente tudo o que eu falava com um sorriso estranho.

- Exatamente! Tem que pegar e beijar com vontade...

Não consegui terminar a frase, nem raciocinar direito, quando sua língua invadiu minha boca fazendo pressão no pescoço com as mãos, eu perdi completamente minha linha de raciocínio, meu corpo arrepiou inteiro. Parecia querer dominar minha língua, sugando-a, e quando ele virou a cabeça, por reflexo, eu virei para o lado oposto.

O garoto tinha um gosto viciante e um cheiro ainda melhor, meu corpo se animou e quando minha mão ia adentrar sua camisa, ele interrompeu o beijo.

Quando abri os olhos e olhei para aquele ser petulante com ódio, percebi que ele tinha os olhos apertados, o rosto franzido e as mãos na frente do rosto como alguém se protegendo de algo. Notei também que minha mão, que estava pronta para acertá-lo, pendeu para baixo. Desisti de bater nele.

Xinguei uma vez.

Duas.

Respirei fundo e finalmente consegui raciocinar.

- O que você fez? - Cuspi indignado enquanto saía do quarto dele, pisando duro, e bati a porta com toda a força que tinha.

Acho que até fumaça saía da minha cabeça, como num desenho animado, de tanta raiva que sentia.

O cara me beijou, mas sua própria fragilidade me impediu de bater nele, o que normalmente - pelo menos para mim - seria o contrário.

Sei que posso parecer como algumas adolescentes, odiava ele, mas quando anoiteceu, sonhei com o Henrique, e não parei mais de sonhar.

Não sei se vocês vão entender meu raciocínio, mas eu precisava ficar com alguma garota! Era, para mim, uma questão de necessidade.

Um Hétero Quase ConvictoOnde histórias criam vida. Descubra agora