O Sol

12 1 0
                                    


Acordo e percebo que não estou em casa. Passa alguns segundos até eu me lembrar onde estou. Levanto da cama e tomo banho, me troco e saio do quarto. Está tudo escuro, o sol não deve ter nascido ainda. Caminho descalça pelo corredor, tentando fazer o mínimo de barulho. Chego a sala e sento no sofá.
Nesse momento observo a situação a qual me encontro. Não consigo segurar as lagrimas, que escorrerem uma atras da outra.
— Não chore - ouço uma voz mais que conhecida dizer. Viro-me e o vejo lá sorrindo como se não houvesse problemas.
— Papai - digo e ele se senta ao meu lado. Ele me ajeita em seus braços, como se eu não passasse de uma criança.
— Tudo vai se resolver - ele diz.
— Não sei se eu acredito mais nessa frase - digo.
— Mira você precisa acreditar - ele diz.
— Mas como? - pergunto - Condenei minha filha a dor e sofrimento.
— Como pode falar isso? - ele diz.
— A guerra pode durar anos - digo - se ela chegar a nascer, terá de viver escondida fugindo de conflitos. Era exatamente isso que eu estava evitando.
— Falando assim me sinto mal por ter colocando você e Peeta no mundo - ele diz - Me preocupei demais com o momento, que havia esquecido o que vocês passariam.
— Pai nasci em um lugar muito diferente disso aqui - digo - Não sei pra onde foi aquela Panem, mas sei que a culpa não é sua, nem da mamãe.
— Mira lembra-se de quando eles invadiram nossa casa no 12? - ele pergunta. Eu aceno em afirmativo - Aquele foi um dos momentos mais assustadores da minha vida. O momento onde tudo o que eu prezava podia ser tirado de mim. O momento em que podia perder as ultimas pessoas que eu amava. Eu aceitaria ser novamente tele-sequestrado, para vocês terem a vida que tinham antes daquele dia.
— Se o senhor fosse novamente tele-sequestado esqueceria quem somos - digo - Não valeria a pena.
— Mira o veneno das teleguiadas é forte - ele diz - Mas o amor é mais forte que ele.
— Passaria por essa tortura novamente? - pergunto - Você tiraria sua paz mental, pra nos dar paz física?
— Mira eu faço qualquer coisa pro bem de vocês - ele diz.
— Agora eu sei o que essas palavras realmente significam - digo - Vou fazer o impossível pra mante-la a salvo.
— Você vai ser uma grande mãe, você sabe - ele diz.
— Obrigada - digo - tive ótimos exemplos.
— Eu te amo mais que tudo minha garotinha - ele diz.
As lagrimas voltam a escorrer.
— Eu também te amo papai - digo.
— Em breve isso aqui vai voltar a ser a nossa Panem - ele diz.
— Mas e se ele voltar? - pergunto.
— É só termos todos os Snow's sob controle - ele diz.
— Mas não há apenas Snow's - digo - A sede de poder faz as pessoas pensarem de forma egoísta, e a cometerem os mesmos atos que os Snow's cometeram ao longo dos anos.
— Isso é algo que não podemos mudar - ele diz - é um dos muitos defeitos do ser humano.
— Nossa triste realidade - digo.
— Você devia voltar a dormir - ele diz - Tem de descansar para a noite.
— Não estou no clima pra festas - digo.
— Você é um tributo é obrigada a estar lá - ele diz.
— Se ele quer que eu vomite em cima dos convidados - digo.
— Mira você não faria isso de novo - meu pai diz.
— É um risco - digo - Isso que da pegar mulheres gravidas como tributo.
— Tudo bem - meu pai solta uma risada.
— Papai - digo.
— O que querida? - ele me pergunta.
— Poderia fazer cookies? - pergunto.
— Não sei se eles vão disponibilizar a cozinha - meu pai diz.
— Nem se eu falasse que é desejo? - pergunto.
— Nesse caso eles fariam - ele diz.
— Mas tem de ser os seus - digo.
— Pra afastar seus medos? - ele pergunta.
Quando eu era pequena, meu pai fazia cookies de chocolate e desenhava um sol em cada cookie. Ele dizia que onde eu tivesse meu sol, estaria segura.
— Da sua boca soa menos infantil - eu digo.
— Ter medo não é algo infantil - ele diz.
— Mas a história do biscoito é - digo.
— Sabe que eu me referia a um sol simbólico? - ele pergunta.
— Sei - digo - mas estou com fome e com medo. É unir o útil ao agradável.
— Verei o que posso fazer - ele diz e beija minha testa. Ele se levanta e vai rumo ao quarto dos Avox. Logo a luz da sala se acende. Não demora muito pra eu sentir o cheiro do biscoito de chocolate do meu pai.
Ele volta a sala com uma bandeja nas mãos. Na bandeja há vários cookies todos desenhados com o sol.
— Me siga - ele diz e é o que eu faço.
Ele me leva pra mesma sacada que estive anos atras com Peeta. Uma Avox aparece e lhe entrega dois cobertores, mesmo sem poder falar com ela, ele agradece com um sorriso. Ele põe um dos cobertores sobre meus ombros, e põe o outro no chão então nos sentamos sobre ele.
— Aqui - ele diz me entregando os cookies - Bem na hora.
— Na hora de que? - pergunto.
— Olhe - ele diz apontando pro horizonte.
— O sol está nascendo - digo. Pego um dos biscoitos e o como. É como se eu tivesse 5 anos novamente e meu pai pudesse sumir com todas minhas preocupações.
Ponho minha cabeça sobre o ombro dele e ele me abraça.
Ficamos em silencio por um logo tempo, talvez até por um hora.
— Pai você é meu sol - digo.

The ChanceWhere stories live. Discover now