capítulo II

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Nevava em Nova Iorque quando o sol, tão tímido como um primeiro sorriso, saía por trás da neblina e dava seu primeiro sinal de vida nas frestas da persiana do quarto, as persianas tão brancas quanto as paredes. Era tudo tão claro naquele quarto, e ele odiava. Ele odiava como aquele travesseiro era exageradamente macio e bagunçava mais ainda seus cabelos. Odiava o quão quente o quarto conseguia ser, embora a temperatura do lado de fora denunciasse o exagero de vários casacos durante o dia. Ele odiava aquele peso em cima do seu próprio corpo, aqueles edredons pesados e o quanto ele precisava de um cigarro, mas nem a janela do quarto ele podia abrir.

A verdade era que tudo naquele quarto o deixava exausto demais.

Os olhos pousaram sobre o relógio digital que estava no criado-mudo, ao lado da cama, e oito horas da manhã era a hora exata, que ele tinha para fingir que daria uma volta ou voltaria para a casa, porque o corpo de Oliver, seu namorado, era demais para que ele pudesse suportar durante o restante do dia.

Harry bem se lembrava de quando o amava, mas não se lembrava quando o conformismo e a rotina os havia prendido, e agora via Oliver como uma companhia insuportável. As brigas eram constantes. Um copo fora do lugar, uma xícara suja sobre a pia, uma meia sobre a cama, a toalha molhada deixada na cadeira da cozinha. Uma camisa amassada demais para o jantar de ambos, a música alta demais, estudos demais, e aquela falta de casa, do conforto, do abraço da mãe e da distância de Oliver.

Cinco anos de namoro e Harry não sabia mais o que fazer com o sentimento que ele sabia que não existia mais. Ele já não amava mais Oliver, mas sabia que era covardia demais deixá-lo agora. Não agora quando o ruivo dormia como uma pedra em seus braços.

Talvez mais tarde. Agora ele só precisava de um café forte e seu fiel cigarro.

"Oliver..." ele murmurou com o rosto afundado nos fios cor de fogo do namorado. Eles eram tão macios. Harry se lembrava quando havia se apaixonado pelos fios enrolados e avermelhados, também se lembrava das noites em que contava as sardas do rosto pálido e o quanto era apaixonado pelos olhos azulados e agora tudo o que ele mais queria era estar no conforto da sua cama e não estar abraçado a um corpo que mais parecia um mero desconhecido em sua vida. "Oliver, eu vou buscar café", e, com a resposta que recebeu, Harry deixou a cama, buscando sua calça no chão e o moletom que estava sobre a cadeira ao lado da cama. A skinny rasgada não o protegia do frio, mas agora ele pouco se importava. O moletom preto cobriu seu corpo ao que calçava as botas cor de marfim no meio do caminho e deixava o quarto do namorado para trás.

Ele sabia que não voltaria.

O cigarro foi achado no bolso da calça e, quando o mesmo foi aos lábios e finalmente acesso, um suspiro pesado deixou os lábios de Harry. Ele havia se tornado um tanto patético ao se tornar viciado na única coisa que tanto detestava, mas era o cigarro que o ajudava a lidar com aquela ansiedade por um término de namoro que nunca vinha.

Ele seguiu até a cozinha e da cozinha para porta a fora do apartamento de Oliver.

Assim como ele sabia que não voltaria, ele também sabia que Oliver não o esperaria mais.

"Então, você está terminando comigo? Depois de cinco anos, você resolve que não dá mais?"

As palavras de Oliver ainda ecoavam em sua cabeça, da noite passada, como se fosse uma música antiga impregnada e incapaz de esquecer. Harry queria ter voltado atrás, caso recebesse algum sinal de Oliver, de que ainda valia a pena investir naquela relação, mas tanto ele quanto o ex-namorado sabiam que não restava mais rastro de qualquer amor dentro daquela bolha que havia se tornado uma mera tortura. Ele sabia que Oliver já não tolerava mais o seu vício em cigarro e odiava todas as vezes em que ele se rendia à bebida.

O mundo é um moinho | larryWhere stories live. Discover now