capítulo III

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"I'm hurting, baby, I'm broken down, I need your loving, loving, I need it now. When I'm without you, I'm something weak; you got me begging, begging, I'm on my knees..."

Harry cantarolava enquanto saía do avião como se aquilo fosse capaz de levar toda aquela dor embora. Não era algo físico, já havia passado de exaustão há tempos, era aquela dor de um coração um tanto impossível de ser remendado, e, ao contrário de todas as pessoas que ele havia conhecido durante a faculdade, ele era realmente do tipo que ia contra a maré. Harry era um apaixonado fissurado por canções de amores, mesmo que nenhuma delas retratasse seu estado de espírito, e não era como se aquela música fosse diferente. Nada combinava com a dor do término (mais que necessário), mas era algo que trazia vida ao sorriso em seu rosto.

Longas horas de viagem foram necessárias para que ele tivesse a certeza de que havia feito a escolha certa. Ter deixado Oliver fora sua prioridade desde o começo e estar com a mala sendo arrastada pelo chão, no portão de desembarque, já lhe trazia aquele conforto de estar em casa. Mal havia pousado em sua cidade natal e já podia sentir todo aquele ar diferente. Estava gelado, mas não tanto quanto Nova Iorque, e alguns usufruíam até da regata, mesmo que ele ainda carregasse o casaco pesado em mãos, ele não iria se livrar da camisa de manga longa.

A música ainda tocava no fone de ouvido e ecoava em sua mente quando os olhos pousaram sobre o melhor amigo do outro lado do vidro do salão de desembarque. Harry não havia notado, mas só soube que havia parado de andar quando alguém esbarrou em si e quase o levou ao chão junto com a sua bolsa, que estava em um de seus ombros.

Fazia exatos cinco anos que ele não via Zayn. Cinco anos que ele havia deixado Zayn e Niall para trás, que ele havia deixado seus amigos de infância e ele havia dito que voltaria com um diploma em mãos, casado e com uma família tão feliz quanto a própria. Os dois eram crentes que Harry se casaria primeiro; um romântico à moda antiga como ele era, era de se esperar que, uma hora ou outra, realmente apareceria com uma família como aquelas em uma propaganda de margarina.

Ele chegava a se culpar por nunca ter cumprido o que parecia ser um juramento. Durante todo o voo, ele chegou a se culpar pelo namoro não ter dado certo, ele se culpou por todas as vezes em que Oliver gritava e dizia que nada dava certo porque Harry não se esforçava para que o namoro fuincionasse. Oliver odiava as ligações que Harry fazia, sempre o chamava de "neném da mamãe" e imaturo. Dizia que ele nunca havia crescido, e agora ali, do outro lado do vidro, com Zayn sorrindo, Harry sabia que a culpa nunca era sua, e, o engraçado era que Zayn o entendia. Zayn não o culpava também.

Os segundos em que ele passou se perdendo no sorriso do melhor amigo, parecia uma enternidade. Zayn tinha os olhos tão negros como quando a noite caía e só as estrelas iluminavam a cidade. Os olhos do melhor amigo eram como um rio extremamente fundo e tão seguro. Assim como seu abraço. Harry podia ter experimentado diversos tipos de abraço, mas ele sabia que nada seria como o do mais velho, e agora, ali prestes a encontrar a pessoa que acreditou em si durante tanto tempo, ele sabia que jamais se arrependeria de não ter cumprido metade de suas metas.

Ele atravessou a sala com certa pressa, com aquela pressa que ele sequer tinha notado, com aquela pressa de curar uma saudade que parecia se acumular. Com uma pressa de quem tinha perdido a força para tirar o ar dos pulmões e agora precisava do seu oxigênio mais do que urgentemente. Aquela urgência de uma garganta sufocada de mágoas prestes a desabafar quando lhe pedissem. Aquela urgência que não tinha tamanho e que só foi sanada no instante em que ele teve a cintura envolvida pelos braços do melhor amigo.

"Bem vindo de volta, Hazz." Zayn murmurou contra o seu pescoço, enquanto os olhos de Harry se fechavam pela sensação que era ser preenchido de novo; não, ele não tinha o coração colado em seus diversos pedacinhos, mas ele tinha o peito aquecido agora. Ele tinha aquela sensação de que nada o abalaria e que as coisas melhorariam no instante em que Zayn sorrisse. Ele sabia que estava seguro quando sentiu os dedos lhe apertarem com aquela força extremamente carinhosa de quem pedia silenciosamente "não vai mais embora", de quem pedia um colo no momento mais difícil. Podia parecer contraditório, mas naquele instante Harry se sentia bem mais forte do que quando saíra do avião.

Zayn era realmente o seu porto seguro.



xxx



Com a mala de Harry já dentro do carro e com o amigo seguro no banco passageiro, foi a vez de Zayn se sentir aliviado. Agora ele podia manter os olhos no mais novo sem que precisasse usar de ligações as escondidas porque Oliver as detestava. Não iriam precisar de Skype ou de feriado curto para se verem e debaterem o quanto Harry precisava voltar para casa.

"Onde você quer ir primeiro?" Zayn perguntou no instante em que entrou no carro.

Harry já estava confortável no banco, com a cabeça encostada na janela, enquanto seus cachos eram amassados pelo vidro. Ele chegou a suspirar deixando o vidro todo embaçado, enquanto os olhos estavam vidrados na movimentação do aeroporto pequeno que sua cidade lhes proporcionava. Ele observava as pessoas perdidas em seu tempo, observava cada mísero gesto que denunciava seus atrasos. Algumas pessoas eram meros borrões, enquanto outras se destacavam naquele tempo morno, algumas corriam e outras sorriam como se estar naquela cidadezinha pequena fosse o momento mais incrível de suas vidas.

E era.

Era o momento mais incrível da vida do dono dos olhos esverdeados. Era o momento mais propício para que ele pudesse relaxar sem precisar colocar todos os seus sentimentos em guarda, sem que ele precisasse esconder o quão exausto estava e o quanto estava magoado. Harry se permitiu chorar enquanto encontrava todas as palavras para dizer exatamente onde queria ir. Ele se viu sufocado em toda a mágoa que agora ele se livrava aos poucos. As lágrimas molhavam seu rosto como se fosse a única coisa que ele podia fazer naquele instante; ele sequer havia notado o quão machucado estava até se sentar no banco passageiro do melhor amigo. Harry se permitiu chorar por todas as noites em que Oliver estava em casa e ele fingia um sorriso para mentir que o relacionamento deles era maravilhoso. Ele se permitiu chorar por todas as vezes em que sua mãe ligava e ele mentia que tudo estava ótimo e que a saudade de casa era pouca. Ele se deixou chorar por todas as vezes em que algo lembrava Zayn ou Niall e ele não tinha a chance de compartilhar nada com os melhores amigos.

Ele sentiu a mão de Zayn tocar seu joelho no mesmo momento em que ele pensou que jamais se livraria de todo aquele peso em seus ombros. Zayn o ajudaria carregar o mundo agora.

Estava tudo bem.

"Casa. Eu quero ir para casa."




O mundo é um moinho | larryWhere stories live. Discover now