Capítulo 24★

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O careca pançudo diz coisas sem nexo, ou que pelo menos, não se encaixam em minha cabeça. A lousa, toda enfeitada de números e fórmulas, me deixa enjoada. O faladeiro aleatório, sobre futebol e sobre séries, me deixa ainda mais perdida, e com dor de cabeça.

É um saco Ária não estar na mesma sala que a minha. Às vezes quero surtar com isso. Mas, em certos momentos agradeço, pois com certeza, o interrogatório que ela faria se eu não tivesse chegado atrasada, vai se prolongar para mais mil perguntas no intervalo. Legal, ótimo!

Encosto minha cabeça na parede, e prolongo meus olhos para a janela, onde algumas crianças no jardim de infância, balançam e sobem e descem na gangorra.

A terra marrom me faz lembrar a cena de meus olhos tão próximos dos de Thiago, e aquele desesperador momento. Subo centímetros das minhas pupilas e fito o céu azul, como nunca esteve. Me lembro das esferas de Rafael, e o quão fiquei decepcionada em ser apenas sua amiga.

O sinal batuca e remexe em minha cabeça, prolongando minhas dores.

Puxo meu caderno debaixo da mesa, o jogo dentro da mochila e a apoio em um de meus ombros.

Pareço uma morta-viva vagando pelos corredores de mesas que formam minha classe.
São apenas dez alunos que restam sair, mas parecem mil e duzentos.

Caminho me arrastando até a porta, quando Ária pula em mim.

- Finalmente te achei! - ela diz eufórica. - Por que você não respondeu minhas mensagens?

- Caiu a NET de casa.

- Por que não me ligou?

- Sem crédito.

- Por que chegou atrasada?

- Perdi o ônibus.

- Por que tá com essa cara?

- Que cara?

- Essa, de zumbi do The Walking Dead. Parece que te bateram de tijolo na cara, garota. Ânimo!

Mesmo quando estou nos piores dos dias, Ária consegue me arrancar risos.

- Ok, ok, você venceu. Bandeira branca! - ergo meus braços.

Ela empurra meu ombro e ri.

- Vêm, vamos comer. Às vezes cara feia é fome. - ela puxa meu punho, me levando até a cantina.

[...]

- Sério?! Caraca, o Thiago fez isso mesmo?!

- Fez. - afirmo mordendo um pedaço de minha esfirra.

- Que... Louco! - ela se enrola. - Quer dizer, sei lá também. Ele devia estar bêbado.

- Desconfio do mesmo.

- E depois do parque?

- Depois, o Alan me deixou em casa, ficou um super climão entre eu e ele e graças aos céus, minha mãe ainda não tinha voltado pra casa.

- Que sorte. O João não ameaçou nada?!

- E ele é louco?

- Não. - ela soltou uma risada nasal.

Abocanhei um pedaço de meu lanche.

- Cara, pelo pouco de convivência que tive com o Rafael, ele não me pareceu tão idiota. - ela parecia sincera em seu relato.

A olhei curiosamente.

- Assim, como assim só amigos?! O tanto de que coisas que aconteceu com vocês em um dia, não aconteceu comigo em dois anos de namoro com o Mário. Briga por ciúmes, dizer que você é especial, que ele se sente mais autêntico com você, beijo, essas trocas de olhares repentinas, esse constante apego. Se isso não é amor, eu paro de comer Nutella.

Blue Stars ★ |R.L|Where stories live. Discover now