A Beleza de Cada Dia

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Se passaram alguns meses desde minha última estada na montanha. Desde que aprendi a reconhecer as ilusões e perceber o sofrimento à minha volta, e eu mudei completamente. Me tornei uma pessoa melhor. Mais tranquilo, mais calmo. Achei engraçado o fato de ao aceitar os sofrimentos, eu me sentia menos triste. Aceitar o sofrimento me fazia forte, me fazia sentir confiante e sereno. Claro que por várias vezes os sofrimentos me derrubavam, eu me irritava como todo mundo, mas eu me acalmava muito mais rápido. Sentia que minha tolerância e resistência ao estresse era muito maior do que a da maioria das pessoas.

Continuava tendo altos e baixos. Dias de raiva e tristeza. Dias em que tudo parecia difícil de mais para se encarar. E também dias incríveis, me divertia aproveitava com as pessoas que mais gostava o tempo que podia. Estava dosando meus momentos com muito mais sabedoria. Não me iludia e por isso não me angustiava com expectativas. Vivia cada momento intensamente, fazia planos futuros, e projetos diversos. Me empolgava e as vezes me frustrava. Mas meus planos e projetos não possuíam a doce e perigosa ilusão.

Sonhava com mudanças profissionais. Sonhava com viagens, passeios. Sonhava com tantas coisas na vida pessoal também. Fazia planos e me disciplinava para alcançar estes planos. Mas em nenhum momento eu me iludia achando que seria feliz e iria alcançar algo nesses sonhos. Para mim os sonhos e projetos eram apenas escolher que tipo de caminho eu queria seguir minha caminhada. Também não me preocupava tanto em como os outros estariam me avaliando, me enxergando se alcançasse esses sonhos. Os sonhos eram pra mim. Eram um caminho que eu queria, eram desafios que eu queria completar. Não queria convencer ninguém, não queria causar inveja em ninguém.

Também passei a dar muito mais valor nos detalhes de cada dia. A consciência de que a dor sempre vem, nos faz dar valor nos pequenos momentos. Uma piada ao telefone, um por dos sol mais bonito que o normal. Uma noite bem dormida. Estava valorizando a beleza de cada dia, a beleza de cada momento em que o sofrimento não estava intenso.

Me sentia forte e sábio. Tranquilo ao enfrentar problemas e dificuldades quaisquer. Me sentia frio para tomar decisões, e assim, mais calmo e tranquilo, eu evitava problemas maiores, evitava tomar decisões erradas.

Já o ego era um desafio difícil. Todo dia, todo o tempo eu me deparava com ele. A meditação me deixava mais esperto, me fazia me policiar, me auto criticar mais. Assim eu quase sempre percebia o ego agindo em mim, podia perceber quando dizia algo dominado pelo ego. Quando minhas ações eram movidas pelo o que os outros vão pensar? Era uma batalha constante. Sabia que não era uma batalha para ser vencida. Eu não iria me livrar do ego, e normalmente só o percebia depois que já tinha sucumbido à ele. Mas sabia que era assim mesmo. Sabia que muitas vezes só me restava refletir sobre o que eu já tinha errado, já tinha feito.

Estava mais maduro com o ego, mais maduro com meus sofrimentos. E assim eu me sentia em paz. Mesmo nos momentos mais tensos, mais sofridos, mais estressantes. Eu estava em paz. Acho que essa paz interior era justamente o fruto de entender como as dores e tristezas agem, entender como não deixar nosso corpo ser tão afetado. A paz podia existir, mesmo na dor.

Fiz várias mudanças na minha vida. As mudanças que eu queria fazer. Do jeito que eu queria fazer. Sem ilusão, sem achar que seria feliz. A tranquilidade me fazia mais eficiente, melhor no trabalho, mais organizado, e mais disciplinado comigo mesmo. E assim eu conseguia seguir nos caminhos que desejava, do jeito que eu queria. Se era para enfrentar os sofrimentos, iria enfrenta-los do meu jeito, no meu ritmo.

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Topo do Monte dos InsanosWhere stories live. Discover now