A Trophy Father's, A Trophy Son

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A porta se abriu, a enfermeira estava acompanhada de três pessoas, um rapaz alto e magrelo com os mesmos olhos de Way, uma senhora loira e um senhor gordinho. Iero tinha uma certeza; aqueles eram os parentes de Gerard.

- Ah, Sr. Iero, acabei me esquecendo que estava aqui. – disse a enfermeira.
- Está tudo bem, - olhou para baixo assim que a senhora loira o encarou. – acho que vou tomar um café.
Se levantou e deixou o quarto sem dizer mais nada, começou a correr e parou de repente; estava em pânico. Apoiou as mãos nos joelhos, respirou fundo e correu até o quarto de Bert. Bateu na porta e o mesmo o mandou entrar.
- Frank! – disse com um sorriso feliz no rosto – Bem, sobre você ter encontrado Gerard e eu, obrigado.
- Disponha. Creio que você faria o mesmo por mim... Faria? – sorriu, brincalhão.
- Acho que sim. – os dois riram.
Era até reconfortante, depois de tudo o que aconteceu, se distraírem um pouco, rir e pensar em outras coisas. O menor percebeu que McCracken perguntaria algo, pois estava mexendo as mãos nervosamente e olhando pra parede.
- Pode perguntar. – disse  encarando-o.
- Hmm, bem, Way está bem? Já acordou? Ele deve estar se culpando pelo que aconteceu, Mikey veio? E Donald? Donna?
- Hey, calma, achei que era uma pergunta. Ele não acordou, mas hoje três pessoas vieram o ver, acho que são seus pais e talvez seu irmão, eles tem os mesmo olhos.
- Por acaso, este último, é magro? – diz Bert mordendo o lábio inferior.
- Sim! Como você sabe?
- É o Mikey!
- Irmão do Gerard?
- Sim, mas que pergunta idiota!
Iero começou a rir. Gerard tem um irmão? Como alguém aguentou aquele ser mau humorado a infância inteira? Se lembrou da foto de quando Gerard era criança, sentado no colo do Papai Noel; era tão fofo, sorria tanto e hoje só sabe mandar nos outros - E a mulher loira é a mãe dele? E o barriga de cerveja?
- Barriga de cerveja? Bom, sim, sim, são Donald e Donna. Não os vejo há muito tempo.
- Eles não pareciam tão abalados ou tristes.
- Esta não é a primeira vez... Acho que devo te contar uma história. Jura pela sua vida que vai guardar segredo?
- Sim.
- Está bem, tudo começou quando estávamos no colegial...
****
- Tchau, mãe. – Gerard se despedia de sua mãe, correndo para pegar o ônibus.
- Tchau, filho. Volte cedo.
O garoto conseguiu pegar o ônibus por pouco, entrou e se sentou no primeiro banco, onde Cindy, popular da turma, estava sentada ao seu lado, o olhou com desdém e seguiu para o fundo do ônibus com suas amigas. Way colocou seus fones, estava tocando "Helena" do Misfits, e se lembrou de sua avó, que também se chamava Helena, e de sua última conversa...
 

Uma semana atrás...
- Vó, você teria algum preconceito se eu gostasse de garotos?
- Meu neto, porque eu faria algo assim? Você é meu neto! Sempre vou te amar, mesmo que goste de homens ou mulheres, não me importo com isso, acho que ninguém deveria se importar. Só – acariciou a cabeça do maior - não deixe que seus pais saibam disso, pelos menos por ora.
- Tá. Te amo. – disse abraçado a velha e doce senhora à sua frente.

O ônibus chegou na escola e todos saem do mesmo como se fossem uma boiada. Gerard é o último. A escola não era tão velha, mas haviam rachaduras nas paredes e a tinta estava um pouco desbotada, tirando isso, era perfeita; tinha amplas salas, banheiros, tudo era amplo, até as pegadinhas que os outros faziam consigo. Calma, Gerard, são só mais alguns meses, disse para si mesmo. Caminhou até seu armário e pegou seu material, de novo era aula de química, mais precisamente de Frank.
Quando estava à caminho da sala foi parado pelo namorado de Cindy e seus amigos.
- E aí, Branca de Neve? Não quer ir ali me chupar um pouco? Hmm... Frank, isso me come... – quando acabou de falar, ele e seu bandinho deram risadas tão altas que poderiam ser ouvidas da rua.
- M-me deixem em paz!
Saiu correndo e as lágrimas já ameaçavam a cair. Como eles sabiam de Frank? Foi até a sala de aula e nada de química, nada de Frank; seu diretor e seus pais estavam ali, olhando com nojo para ele. Voltou a correr e não olhou para trás, seus pais estavam logo atrás dele. Perto do ponto de ônibus Way acabou tropeçando nos pés e caiu. Seus pais o alcançaram.
- Você – disse Donna com nojo - gosta de HOMENS? – deu um tapa em seu rosto - não criei filho nenhum para ficar se fodendo com homens, ainda mais se forem professores.
- O que você tem a nos dizer, Gerard Way? – Donald estava tão vermelho que poderia ser comparado à uma pimenta.
- EU SOU GAY! – gritou, batendo com os pés no chão.
Dessa vez, o Sr. Way deu um soco em seu rosto, mas foi com tanta força que Gerard caiu no chão  novamente. Ele começou a chorar mais ainda e a soluçar.
- Não aceito um filho gay! Arrume suas coisas e vá para onde quiser, não te considero mais meu filho. – se virou, dando o braço à Donna para irem embora.- Ah, e afinal, seu lindo e querido professor de química, bem, ele está por aí. O denunciamos e a polícia está à sua procura.
E foi embora, deixando um Gerard confuso e com o coração partido para trás.
****

- ...e foi aí que eu surgi. Eu estava no ponto de ônibus, mas eles nem sequer me notaram. Gerard estava chorando tanto, que fiquei com vontade de adotá-lo, parecia tão indefeso. Meus pais aceitaram que eu era gay, e também  o aceitaram.
- E-eu não sabia disso.
- Não se preocupe, ele nunca disse à ninguém. E agora, depois de tantos anos, eles estão aqui. Não sabemos como Mikey reagiu porque ele era muito apegado à Way. Mas ainda tem mais, a vez em que Gerard quase morreu...
****

- A polícia encontrou o professor de química, Sr. Iero que estava foragido. Foi feita uma troca de tiros e ele morreu no local... – dizia uma repórter na televisão que estava a venda em uma loja.
O mundo de Gerard havia caído, o chão sobre seus pés desaparecido, sua luz se apagara. Voltou para a residência dos McCracken e se trancou no banheiro. Procurou suas lâminas há muito  tempo guardadas, abaixou a tampa do vaso e se cortou. Um corte rápido, grande e fundo e o sangue começou a fluir.
Dois cortes.
Três cortes.
Quatro...
E batidas são ouvidas na porta do banheiro, com um movimento rápido se encostou na porta.
- Gee, o que foi? Você chegou correndo e se trancou aí, está passando mal? – Era Bert.
- E-está tudo b-bem. – disse com voz trêmula e embargada pelo choro.
- Você está chorando? – perguntou, preocupado.
- N-não... – sua visão estava ficando embaçada e a poça de sangue no chão ia aumentando.
- Então abra a... – sua voz falhou quando percebeu que havia sangue saindo debaixo da porta; os cortes eram tão fundos que o sangue escorria com tanta velocidade, que além de formar uma poça cheia começou a escorrer por debaixo da porta.
- Ai meu Deus! – exclamou Bert do outro lado- Way, abra a porta! Cara, você não voltou a se cortar, voltou? MÃE, PAI, O GERARD SE TRANCOU! –gritava soluçando.
- O que? Hey, Gee, meu anjinho, vamos, abra a porta.
- N-não... – sua voz já não estava tão forte. Sua visão foi escurecendo e as vozes das pessoas do lado de fora iam sumindo. Então, tudo ficou escuro.
****

- Acho que não preciso dizer o que aconteceu depois. – McCracken se remexia desconfortável.
- Ele quase mo...  – a voz de Frank falhou só de pensar em Way num caixão, sem vida, sem...
Começara a chorar e nem se dera conta.
- Hey, isso foi há muito tempo, okay? Não se preocupe, ele tem você, você é a luz dele, por favor, nunca se apague.
- Como? – perguntou confuso.
- Você tem uma luz por trás de seus olhos, Gerard enxerga isso nos outros, é sua qualidade e sua fraqueza. Só me prometa que nunca o deixará!
- Não, nunca. Espero que ele faça o mesmo.
O olhar dos dois se voltaram para a enfermeira que acabara de entrar.
- Oh, desculpem, mas o Sr. McCracken tem que descansar.
- Sim, já vou. Até mais, Bert.
- Até, se Gerard acordar, se desculpe por mim.
- Okay.
****

Iero foi para a cafeteria e tomou um café. Após, foi a uma das poltronas e se sentou. Estava tão cansado que adormeceu. Pouco tempo depois, foi acordado por um garoto magrelo de óculos, com um olhar sem emoção.

- Oi, sou Mikey Way, irmão de Gerard, e você, o que faz aqui?
****

- Papai, cadê o Gee? – perguntava Mikey, que na época tinha apenas 6 anos de idade.
Donald  paralisou; havia esquecido completamente que o pequeno era muito apegado  ao maior, pensou rápido e respondeu.
- Ele morreu.
- Q-que? Gee morreu? – nesta altura o garoto já estava esperneando e chorando, se jogou nos pés de seu pai  e pediu para que Way voltasse.
- Já chega! – disse já sem paciência, pois ver o pequenino ali, chorando e sofrendo por uma morta falsa, era grande demais para si – Ele nunca mais vai voltar para essa casa, agora suba para seu quarto, Mikey Way.
- E-eu te odeio! – subiu correndo as escadas e se trancou no quarto. Ficou ali, durante um longo período, chorando e pedindo que Gerard voltasse.
-... Gee... Por favor, volta pra casa... Volta pra mim.
****

I never told you what I do for a livingOnde histórias criam vida. Descubra agora