Cap. 2.: Perdão, Misericórdia e Amor

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Nerina era considerada jovem para qualquer espécie de elfo. Nasceu nas cavernas, no subterrâneo como qualquer outro Drow. Nerina nunca soube por que recebeu esse nome e como qualquer outro Drow jovem, aprendeu desde cedo que os filhos quase nunca são desejados. Geralmente nascem a parte de algum casamento para atender objetivos especiais e status social ou como consequência de algum relacionamento. Por sorte, Nerina nasceu num berço de ouro: uma nobre Drow.

Para entender o peso disso é primeiro necessário entender que a sociedade Drow é matriarcal. Os drows homens acabam unindo-se ao exército, defendendo os territórios e fronteiras do clã enquanto as drows mulheres ocupam cargos políticos e de liderança. Por isso, no seu tempo entre sua espécie, foi visível que a gravidez muitas vezes foi como um investimento: a mãe carrega uma criança na barriga, esperando que nasça uma menina, e que retorne no futuro o ano inteiro que a criança passou dentro dela. Um ano inteiro que ela poderia estar subindo posições, adquirindo riquezas, declarando guerras para descansar e expelir uma menina. Os maridos que não conseguem dar filhas mulheres muitas vezes são desprezados pelas esposas e, em alguns casos, trocados com a ajuda do clero até que surja uma menina.

Mesmo assim, uma menina não era suficiente, ela precisava carregar sangue nobre. Os nascimentos de nobres apareciam em um em cada 20 nascimentos drow e eles significavam duas coisas: o poder do sangue e o poder do arcanismo em um só.

Se um homem nascesse com essa nobreza, tudo bem, alcançava o mesmo nível de respeito das demais mulheres drow. Mas uma mulher drow com sangue nobre? Aí é muito mais que uma promessa, é confirmação.

Nerina nasceu com essa sorte.

Nasceu em Castelo-de-Bronze, uma cidade Drow localizada em alguma parte do Norte de Obladi.

Como uma cidade subterrânea, nenhum Drow sentia falta do céu. O sol machucava seus olhos e os cegava, a grande vantagem dos alto-elfos sobre eles. Castelo-de-Bronze um dia foi uma caverna que foi expandida e esculpida a tornar-se uma grande cidade do tamanho de uma vila grande, pouco mais do tamanho de Marble Hornets. O minério de cobre e ferro eram o principal ganha-pão da cidade no seu comércio com outras cidades drow e podiam-se ver as minas em poços mais fundos, onde ficavam os escravos minerando o metal para seus mestres. Havia dez casas nobres morando em Castelo-de-Bronze e todas se reuniam em um conselho localizado no fórum da cidade, um castelo feito de pedra num salão cor de cobre, fazendo jus ao nome da cidade.

O clã dela habitava aquela montanha perdida na Parede do Mundo há milhares de anos, a história pouco importava para Nerina. Imensamente longa e entediante. O que precisava saber é que aquela região ao norte era uma das três montanhas habitadas por Drows em todo Reino da Rosa. Não precisava pensar muito para entender por que.

Os Altos Elfos e demais subespécies desprezavam os elfos negros, banidos por Corellon da superfície, foram forçados a viver nas cavernas e construir suas cidades nelas. Apenas moviam-se para superfície nas noites, para que pudessem cortar as gargantas daqueles que renegaram a luz do sol para seu povo. Em Obladi, quando o Rei-Demônio governava na era das trevas com punho de ferro e expandia seus domínios para o mundo inteiro, a sociedade Drow passava sua melhor época. A superfície não lhes era negada. Podiam formar exércitos, saquear e escravizar todos que pudessem, desde que, claro, prestassem tributo ao Rei-Demônio. Contavam doze grandes cidades subterrâneas em todo território de Obladi apenas formadas por Drows, mas eles não precisavam mais se esconder e não era incomum que alguns construíssem retiros na superfície. Tudo corria bem até a chegada de Kirk e o selamento do Rei-Demônio.

Em menos de 500 anos, os homens, os anões e os elfos de Obladi destruíram e pilharam nove cidades inteiras de Drows, fazendo seu povo recuar para além de Vserminaya, além da Parede do Mundo. Vivendo com Vermes de Gelo e fazendo pactos com Dragões Brancos, cavando próximo do centro da terra para que as três últimas cidades drows de Obladi não congelassem no frio. Daquela época, apenas algumas anciãs restavam, netas e filhas dos antigos dominadores, carregando a memória dos dias de glória e os nomes dos que os baniram para aquelas fortalezas subterrâneas onde seu povo sobrevivia.

O Leão e a ElfaWhere stories live. Discover now