Capítulo 14: Porque o amor sempre nos leva a fazer coisas estúpidas.

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– Me diga agora que você está brincando. – Gotham parecia derrotado.
– Estou. Não estou. Não sei ao certo...
– Como assim, você não me ama Brya?
– É complicado.
– Acho que posso tentar entender.
Gotham agora estava a centímetros de Brya e sua toalha estava caindo. Ela a puxou para cima e se sentou.
– Bem, na viagem eu conheci Dylan, mas o meu sentimento não mudou por você. Aos poucos eu o via em tudo o que você fazia. Mas eu ainda te amava, muito. Não sabia o que estava sentindo, está tudo tão confuso.
– Por que, eu só quero saber por que, você disse que não me amava.
– Porque uma vez eu li que se você ama duas pessoas, não ama nenhuma. Pois se amasse a primeira não existiria espaço para uma segunda. E se tem uma segunda... Bem, o termo se explica sozinho.
– Brya, isso não é nada de semântico ou literal ou algo sobre espaço. Isso é real, estamos falando de sentimentos. Você me ama? Você não me respondeu quando a perguntei.
Gotham estava sentado á seu lado agora e estava muito próximo a ela e ela podia sentir sua respiração.
– Sim – Ela tentou falar alto, mas tudo o que saiu foi um sussurro.
Eles se abraçaram e Vermo entrou no dormitório na mesma hora.
– Desculpe, eu não queria atrapalhar. – Vermo parecia constrangido.
– Gotham já estava de saída. – Brya sorriu torto.
Gotham se levantou e sorriu para ela. A menina virou o rosto, sabia que não deveria ter falado nada. Sabia agora que Gotham alimentaria outra vez alguma esperança ao invés de simplesmente desistirem.
– Eu vim ver se você está pronta para a cerimônia. Será na praça central. – Vermo disse olhando para outro lugar ao perceber que Brya estava só de toalha.
– Tudo bem, só vou me vestir... Com licença...
– Tudo bem.
Vermo saiu e fechou a porta. Em minutos Brya saiu e viu que um grupo estava saindo do castelo e indo para a ponte a caminho da praça. Ela decidiu seguir esse grupo e avistou Dylan e Maureen.
Eles parecem estar bem, pensou ela sozinha.
A caminhada foi agradável. Brya tentou não pensar em muita coisa, então foi caminhando com passos largos até chegar à praça que estava decorada com luzes laranja e azuis. Logo a anunciaram, ela sorriu e acenou para as pessoas a sua frente e não pôde deixar de procurar Dylan. Quando o achou ele estava sozinho sem Maureen, que logo chegou ao seu lado com algo na mão, que parecia comida. Ela sorriu, pois Dylan parecia feliz. Mas só Deus sabia como ela ainda o queria.

O dia amanheceu, e Brya havia sonhado com Dylan. Ela sentia falta dele em cada segundo. Lembrava como ele a acordava com um beijo pela manhã e como era ruim não ser acordada por ninguém. Animou-se, pois percebeu que hoje era seu primeiro dia como Patrulheira, e ela iria com Calis. Teria a chance de conhecê-lo melhor.
Vestiu-se rapidamente foi até o pátio esperar Calis, haviam combinado de se encontrar lá.
Calis a estava esperando com uma roupa parecida com a dela. O uniforme da patrulha se ajustava a seu corpo.
– Pronta pra aventura?
Ela sorriu.
– Geralmente não sou eu quem acompanha os novatos, mas você é uma exceção.
Os dois saíram pela ponte e Brya pôde ver Maureen e Dylan saindo abraçados do refeitório. Quando Dylan a viu, transformou o sorriso numa cara séria, de pesar. Ela virou o rosto e seguiu o caminho da vila calada. Quando saíram pelos portões, Calis empunhou a espada.
– Viu algo? – Brya ficou em posição de defesa.
– Não, não se preocupe. Eu só gosto de estar preparado.
Ela deu de ombros e os dois seguiram pela estrada que Brya se lembrava, mas ao chegarem à trilha com os caminhos de direita e esquerda que ela havia passado anteriormente, seguiram pela direita.
– Mas aqui não é o lugar dos canibais? – Brya questionou.
– Sim, mas aqui é onde achamos mais gente e animais perdidos. Além de ter uma das maiores reservas de frutas. Mas sabemos que corremos o risco de sermos invadidos por eles também, só esperamos que nunca aconteça.
Ficaram andando e colhendo todas as coisas que cresciam em árvores e os colocaram dentro de sacos que havia trago.
– Então, é só isso? – Brya perguntou.
– Isso o que?
– Só andar por ai pegando coisas?
– Ás vezes você corre se vir algum perigo, mas tirando isso, puro tédio. – Calis soava divertido.
– Tédio... – Brya disse quase que cinicamente. – Não tínhamos isso de Patrulha em Pani.
– É verdade, na minha época não se importavam tanto com mais nada além de si mesmos no Conselho.
– Ah, me conte mais sobre porque saiu de lá.
Eles pararam de andar e se sentaram em baixo de uma árvore enorme. Calis a olhou nos olhos e ela viu que ele era um homem de trinta e poucos anos que levava um cansaço de séculos. Seus olhos eram pesados e não brilhavam. Ela quase sentira dó dele.
– Eu saí de lá com vinte anos, deixei uma mulher e filha pra explorar um mundo completamente desconhecido. Eu sou um maluco, mas fui recebido como herói pelas pessoas daqui. Tentei me comunicar com minha mulher para dar um jeito de trazê-la aqui, mas sabia que isso a encrencaria. Então, aqui estou eu, sozinho e infeliz.
– Achei que você fosse feliz... Quero dizer, você é general supremo e coisa e tal. Quase um rei.
– Como se pode ser feliz sem as pessoas que você ama com você? Poder não vale nada sem amor.
Brya olhou nos olhos de Calis e sentiu uma dor imensa. Uma culpa por ter odiado ele.
– Não olhe muito fundo, por fora meus olhos são azuis, mas minha alma é escura. Nada além de vazio... – Calis dizia pesaroso, mas com um sorriso no rosto.
– Você dizia que queria falar com sua mulher, mas iria prejudica-la. O que quis dizer? – Brya tentou mudar de assunto antes que contasse logo tudo.
– Quando saí de lá, havia um boato. Um boato de que minha mulher e eu estávamos planejando derrubar o governo e bolávamos uma missão secreta para descobrir se a Terra era habitável para trazer todos para cá e dominarmos eles. Isso é em parte verdade. Vim para cá para ver se era habitável e queria dar um futuro melhor para os cidadãos, para minha família. Pani vai falhar a qualquer minuto, nada é garantido num planeta mantido por cientistas. Eu estava preocupado. Então vim e descobri essa maravilha que é a Terra, e por um tempo quis trazer todos para cá, mas após saber a história do que aconteceu, decidi simplesmente deixar como estava. Criei um grupo que me ajudou a colher, plantar, cozinhar, recolher coisas. Até que construímos a vila e tudo que há nela. E eu pensei várias vezes em contactar minha mulher, mas se eu o fizesse iriam pensar que o boato era verdade e ela seria tratada como uma traidora. Você certamente deve saber o que acontece com traidores. Mas eu ainda sinto tanta falta dela. Eu a amo... – Calis olhou para Brya que estava olhando para frente e ao mesmo tempo para lugar nenhum, parecia perdida, mergulhada em seus pensamentos. – Mas enfim – Ele levantou e deu a mão para ajuda-la a levantar. – Chega de histórias de amor de um velho. E suas histórias de amor? O amor motiva a gente a fazer coisas impressionantes. Eu estou aqui porque amava minha família e queria o melhor deles. E você está aqui por quê?
Brya levantou e caminhou ao lado de Calis. Ela ficou em silêncio um bom tempo antes de responder.
– Porque amo alguém demais.
E sorriu sem explicar. Foram o resto do caminho em silêncio. Ao chegarem à vila, Brya viu Dylan sentado e um dos bancos da praça sozinho, com o que parecia um livro. Decidiu se aproximar dele e se sentou ao seu lado.
– O que está lendo? – Ela disse, sorrindo.
– Romeu e Julieta. Preservado há mais de mil anos. É uma relíquia.
– Lembro-me de ouvir falar na aula de artes.
Ficaram em silencio o bastante para Dylan fingir que lia e se cansar. Voltou-se para Brya.
– O que você está fazendo aqui?
– Como assim?
– Aqui do meu lado.
– Não posso? – Brya se sentiu ofendida. – Tudo bem, eu vou embora.
– Não é isso. Quer dizer, é quase isso. Eu tento me manter afastado e você se aproxima...
– Dylan você sabe muito bem que quem pediu para acabar com tudo foi você.
– Eu não ia ficar sentado esperando você decidir com quem iria brincar Brya. Também não ia ficar te segurando sabendo que você não estaria feliz comigo.
– Dylan...
– Não vamos começar de novo, por favor...
– Dylan...
– Eu te amo, ok? Ainda te amo. Sim, sou um idiota por você. Talvez você seja boa demais pra mim e eu aceite a Maureen. Sim, eu gosto dela. Mas nada que se compare ao que sinto por você. – Dylan falou rápido e se arrependeu em seguida.
– Dylan... – Brya soou surpresa.
– Brya, me escute...
– Me escute você. – Ela o interrompeu. – Eu também te amo... Ainda. Mas não dá pra continuar. Você precisa ver o quão Maureen é feliz com você. Não aceite ela porque não tem nada melhor, faça dela a melhor coisa que você já teve, porque você com certeza é a dela. Não quero tirar isso dela. Não vou. Só queria conversar com você, mas... Não dá né. – Brya pegou na mão dele e olhou pesarosa.
– Você disse que me ama. – Dylan sorriu. – Não acredito. – Dylan foi dar um beijo em Brya, mas ela desviou o rosto.
– Não vou tirar isso dela.
Brya saiu sutilmente até o castelo, foi ao quarto, trancou a porta, tirou sua roupa e entrou no banheiro. Quando abriu a cortina se deu conta de que tinha alguém desmaiado sobre a agua corrente do chuveiro. Gotham.

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