Capítulo 16: Ficar na Terra.

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A ideia de voltar para casa no começo pareceu perfeita para Brya, mas aos poucos ela se assustava com essa ideia. Não sabia como sua mãe estava, ou sua família. Não sabia como seria ter que ver todos a julgarem como traidora se pensasse que ela havia dado continuidade no tal plano de rebelião dos pais. Sentia falta de sua mãe mais do que de qualquer um, e queria poder trazê-la para a Terra, onde se poderia respirar sem a incerteza de um dia não sobrar mais ar. Brya não considerava mais Pani como sua casa. Havia memórias que ela nunca se esqueceria da Terra, que ela considerava mais lar do que Pani.

Amanheceu e Brya acordou com a sensação de que o dia seria horrível. Quando foi para o refeitório todos estavam comendo.
– Aparentemente ninguém espera ninguém por aqui. – Ela murmurou para si mesma, puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Luna.
– Ei, fiquei sabendo que está sendo uma ótima professora. – Ela disse pra Luna.
– Obrigada. Fiquei sabendo que foi promovida á Segunda Suprema. Parabéns. – Brya pôde notar o tédio na voz de Luna. Ela não queria realmente ser professora ou falar com Brya. Ela suspeitava de que Luna sequer queria estar na Terra. Ela pensava se só ela havia se acostumado com a ideia não voltar para Pani.
Ela terminou a refeição e foi para a sala de reuniões ver os livros que seus colegas tanto gostavam. Havia ficado há muito tempo curiosa então tomou a iniciativa de ver, e quem sabe se encontrar com Calis e reunir forças o suficiente para conta-lo a verdade. Encontrou Raion sentado em uma das cadeiras, apoiado na mesa. Não pôde deixar de rir ao se lembrar dela e Dylan.
– Se eu fosse você, não tocaria nessa mesa. – Ela disse se aproximado da estante perto da janela. Ela olhou pela janela e viu a paisagem que estava tão acostumada, a imensa floresta cortada pelo rio. Sentiria falta disso em Pani, da natureza que não era artificial. E nem havia tempo de ver visto a neve, que sua mãe tanto lhe falara, que havia sonhado sobre.
Ela virou o rosto para Raion e viu que ele estava lendo um livro intitulado Wings com um anjo sorridente na capa. Não parecia simpático, parecia assustador.
– Você acredita em anjos? – Ela se sentou ao lado dele.
Ele havia deixado de ler desde que Brya o falara sobre a mesa, e apenas observava a capa, que o fascinava. A beleza retratada se proporcionava ao terror que o sorriso do anjo transmitia.
– Comecei a acreditar aqui na Terra. Sabia que eles derivam de religiões? Não são servidores da morte, como conhecemos em Pani.
– Aqui temos muitas coisas diferentes. Por isso eu não queria ir embora.
– Quer ficar aqui? Viver nessa vida primitiva onde não temos energia ou um sinal de celular?
– Achei que você não ligasse pra isso, vive enterrado em livros.
– Porque não tem energia nem sinal de celular.
Brya sorriu.
– Desculpe por te atrapalhar.
Ele sorriu de volta e ela se levantou. Não havia lido nem visto título de nenhum livro na estante, mas conversar com Raion foi bom. Ela tinha medo de que ele se tornasse recluso e não conversasse com mais ninguém. Foi para o dormitório colocar sua roupa para treinar. Quando estava saindo viu uma mão abrir a porta e reconheceu Dylan.
– Você me assustou. – Ela estava se levantado da pilha de roupas que havia caído quando se assustou.
– Isso é um tipo de camuflagem para autodefesa? – Dylan pegou na mão dela e a ajudou a levantar.
– O que você quer? – Ela disse, já de pé.
– Vim usar o banheiro.
– Então vá e saia do meu caminho, tenho que treinar.
– Você já foi mais gentil.
– E você já foi mais objetivo. O que realmente quer?
– Eu... Estava pensando. Não quero ir embora daqui.
– Não brinca. – Ela pareceu aliviada. – Eu estava assusta com a possibilidade de que eu seria a única que não queria ir.
– Você também não quer ir? – Ele sorriu.
– Não.
– Que ótimo. Não vou precisar te amarrar. Isso torna a próxima coisa mais fácil ainda.
– Que coisa? – Ela olhou nos olhos dele, assustada.
– Quero que fique aqui e viva comigo. Vamos fazer uma casa aqui na vila e viver juntos.
Brya procurou algo para se sentar. Ela ficou chocada, não teve tempo nem para balbuciar e dizer o quão louca era essa ideia quando Gotham entrou no quarto. Ele pareceu espantado quando viu que ela estava com Dylan. Queria conversar com Brya, e não iria permitir a presença de Dylan o fazer desistir da ideia que ele mesmo passara um ano reprovando e aprovando.
– Brya... Posso... Podemos conversar? – Ele olhou para Dylan – A sós?
– Estamos no meio de uma conversa importante. – Dylan rebateu.
– Dylan, vai, por favor. Mais tarde... Terminamos o que temos que terminar. – Brya disse com a mão na cabeça. Queria escapar do pedido louco de Dylan.
– Mas Brya... – Ele protestou.
– Por favor.
– Tudo bem. – Ele saiu batendo a porta atrás de si.
– Obrigada – Disse ela, para a porta já que Dylan havia saído. – Então? – Ela se virou para Gotham.
– Preciso perguntar algo pra você, algo muito sério.
– Mais coisa séria? Devo me sentar?
– Se você quiser.
Ela se sentou.
– Bem... É o seguinte... Eu... Não sei como... Juro que não...
– Fale de uma vez Gotham. – Ela estava nervosa
– Não dá. Tem que ser legal. Eu planejei muita coisa legal, e no final é no dormitório de soldados com os fantasmas deles nos assistindo. – Ele olhou para Brya confusa. – Ok. Brya, você quer se casar comigo?
Ela jogou seu corpo para trás e deitou na cama de forma brusca. Ela queria rir de si mesma, do próprio sortilégio, de ter dois garotos querendo uma vida com ela, e ela não saber escolher nem o sapato que iria calçar. Não sabia o que fazer.
– Eu sei que parece assustador – disse Gotham, deitando ao lado dela – Mas não é. Vamos ficar juntos. Dylan vai embora junto com os outros e ficamos aqui, vivemos na vila. Você conta para o seu pai a verdade e seremos muito felizes. O que me diz? – Ele tremia, mas escondeu as mãos para Brya não ver.
Ela pôs a mão no rosto e começou a rir. Rir de sua desgraça, como o desejara anteriormente.
– Preciso pensar Gotham. – Ela dizia, como se desse bronca em alguma criança por pintar uma parede.
– Tudo bem... Mas pense com carinho. – Ele deu um beijo na testa dela e saiu do dormitório.

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