Aluna Exemplar

Dez

Acordei às 05:30 em ponto, como sempre. Me alonguei, enquanto meu cérebro despertava de fato, e depois peguei o celular. Reparei que tinham algumas mensagens para mim: Letícia dizendo que iria faltar aula e pedindo que eu passasse as lições depois; uma de Bruna pedindo que eu ajudasse Carol com a matéria de química, que ela não estava entendendo; e, para minha surpresa, uma de Rafael, que dizia:

Júlia, infelizmente só pude mandar mensagem agora, minhas tardes de domingo são um pouco ocupadas e, mesmo assim, só pensava em falar com você o dia todo. Espero que a gente possa se ver em breve. Caso também queira me ver também, é só me mandar um sinal.

Beijos, tenha uma boa noite, e sonhe com os anjos, pois, se eu tiver sorte, sonharei com o meu.

Não pude evitar suspirar. E depois me repreendi, eu não tinha tempo para aquilo. Joguei o celular na cama sem responder nenhuma das mensagens. Fui tomar meu banho frio. Era sempre água gelada pela manhã e quente de noite, por causa dos benefícios de ambas.

Enquanto tomava banho, pensava. Primeiro em Rafael e como ele me deixava relaxada, ele me fazia... bem. É, não havia outra palavra para descrever. Eu me sentia muito bem perto dele; leve, tranquila, em paz, e algo mais, algo... cortei meus pensamentos, não queria, nem podia, ir por esse caminho. Mas quase me arrependi, pois lembrei do prof. Lúcio, do jeito que ficou quando Isabela apareceu. Era tudo tão estranho.

Voltei meus pensamentos para coisas úteis. Como o fato de que não faltava muito tempo para o início das provas. Me sentia preparada, já tinha estudado a matéria de todo o semestre, esperando as aulas para tirar algumas dúvidas que ficaram com os professores. Com o semestre já programado, só precisaria reorganizar minha tabela de estudos, assim dando mais tempo para as aulas de inglês e para praticar o SAT. Ainda não estava satisfeita com o tempo no qual estava terminando a prova.

Terminei o banho, me arrumei e fui tomar o café da manhã. Meu pai já saíra, para minha tristeza. Meu desjejum estava posto na mesa. Salada de frutas, uma pera, três torradas, um copinho de iogurte e um copo de suco. Estava cheia ao terminar de comer.

— Júlia, tá pronta a garrafa de café que você pediu ontem, — falou Tereza, nossa empregada.

— Ah, obrigada, Tereza. Já tinha até esquecido dela. — Ri, pegando a garrafa e levando para o quarto. Um novo hábito que começaria a praticar: tomar café durante as aulas, para que ficasse mais desperta e aprendesse mais.

Reorganizei mochila e desci. Ainda era seis e cinquenta, tinha bastante tempo para chegar na escola. Geralmente ia com meu pai, aproveitando que ele estava saindo para pegar carona, mas às vezes ele tinha emergências e eu ia com o motorista. Me lembrei do dia que fiquei atrasada e acabei pegando Bortoluzzi na escadaria. Me arrepiei e fiz uma careta, não deveria pensar nisso. Nunca mais, de preferência.

Cheguei na escola animada. A primeira aula da segunda-feira era minha favorita: matemática. Apesar da maioria das pessoas não gostar muito, eu adorava. Não era à toa que queria trabalhar com finanças. Queria ter um banco de investimentos no Brasil, aqui os bancos de investimento são poucos e pequenos. Só que eu tinha metas, foco e determinação. Nada iria me parar.

Ao chegar, me sentei no lugar de sempre: o primeiro em frente à mesa do professor. Arrumei minhas coisas na mesa enquanto os outros alunos chegavam e botei um pouco de café para despertar de fato antes que a aula começasse. A aula foi maravilhosa e me senti mesmo mais disposta. Não sabia se era pelo café ou não, o que importava era que estava funcionando.

O dia transcorreu com muita normalidade até que, na aula que deveria ser de Lúcio, depois do intervalo, o diretor da escola apareceu para dizer que ele não viria, pois estava muito ocupado. Todo mundo se dividiu entre chocado e feliz. Chocados porque, bem, Bortoluzzi nunca faltava e felizes porque Bortoluzzi era um carrasco e as pessoas amavam aula vaga, na qual viria um professor substituto (que seria o mesmo que nada).