IX

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Benjamin teve que sair em viagem no outro dia, e só depois de uma semana consegui retomar a minha rotina de todos os dias. Ou quase isso, se ele não tivesse ligado para o meu pai ficar comigo na sua ausência.
Benjamin foi visitar um clientes antigos da empresa, segundo ele o casal queria fazer o inventário de tudo o que possuíam, passando para o neto mais velho. Só que isso teria que durar três dias, e se não fosse a chuva ele já estaria em casa.
Acabei não fazendo caminhada com o James, aliás eu nem vi mais ele, o cara parecia ter tomado chá de sumiço.
Quanto ao meu pai, a gente nem se via direito, não quer dizer que fiquei todo dia sem alguém. James fez questão de garantir minha segurança, me deixando com um homem a minha disposição.

-Então tá. -Olhei para a tela do computador. - Vamos nessa.

Abri os arquivos que ela deixou gravado em um pen drive. Uma pasta continha os nomes de clientes poderosos, tanto para drogas como para garotas. Na outra tinha dezena de vídeos. Fiz a pior besteira abrindo um. Uma garota estava sendo drogada, logo um homem pegava ela pelo braço e a vazia fazer coisas.

- Vamos Camile, você é mais que isso. -O dono da voz ficou na escuridão, mas aquela voz era conhecida.

-Meu deixa ir embora tá? Depois eu te pago tudo. Meus pais são ricos sabia. -Moça loira de olhos fundos e maquiagem borrada tentou levantar, mas levou um belo soco na barriga e caiu na cama outra vez.

Era isso. Eu estava vendo como funcionava o mercado negro, e o pior foi logo após, quando eu estava mexendo e achei um arquivo contendo os nomes de todas as garotas, com data de coleta e algumas o dia da morte. Foi chocante ver que lá em  baixo, estava escrito. "Advogada ", o dia da coleta estava em branco.
Eu poderia estar sendo uma delas agora, se não fosse pelo Benjamin. Senti uma vontade horrível de gritar, me esconder em algum lugar e nunca mais sair. Minha respiração saia entre cortada, me joguei para trás e quase caí levando a mesa comigo. Meu estomago embrulhou só de pensar que eu poderia estar com aquele velho imundo.

-Eu te avisei.

-Aí. Merda, mas que susto. -Meu coração até doía. - Não sabe bater?

-Sei, mas estava contemplando a visão maravilhosa daqui. -Ele apontou para as minhas pernas.

Eu estava usando meus pijamas, nada mais do quê uma camiseta velha de alça e um short preto, eu tinha doze anos quando ganhei da minha tia, como era de cordão sempre me servia.

-Pode se virar por favor? Ou sair do quarto. Se quiser. - Ele me deixava desconfortável.

-Vou ficar bem aqui. Mexendo nos arquivos. Prometo não olhar pela tela. -James passou por mim..

O cheiro dele era tão bom, quente e suave, fiquei respirando fundo enquanto ia atrás de uma roupa descente. James pegou uma caneta e um papel e começou a anotar os nomes.

-Então vamos lá. Eu vou fazer umas coisas hoje, enquanto você liga pro seu namorado e ...

- Amigo. - Me joguei na outra cadeira.

-Que seja. Aliás, nunca mais o vi.

-Ele está viajando. - Ele abriu um pequeno sorriso. -À  trabalho.

-Sei. Como eu estava dizendo, vou usar esses contatos para saber o quê realmente aconteceu, e de onde eram essas garotas. E quanto você dá um jeito de descobrir quem são os clientes. Porque aqui só tem os números das contas, e não confio em terceiros agora.

James rabiscou mais um endereço. Era um parque não muito longe de casa. Ele fora construído em volta de uma lagoa, é  muito bonito, e funciona de noite também.
Ele queria os nomes dos clientes, mas as quantias eram muito baixas, ou as contas foram encerradas ou eram falsas. Revirei tudo, quando reparei que no verso de uma folha havia um número de celular e um valor na frente, também tinha um nome, era francês, devia ser alguma garota.
Não fui muito longe, nem procurei registros em sites, apenas puxei o celular e olhei na minha agenda. Pronto, meu mundo desabou outra vez.

*****
A noite estava caindo e o frio aumentando. Nessa horas eu sentia uma saudade louca do Brasil. Sentei no banco perto do lago e observei um casal que se beijava, era tão bonito e estranho.
Disse pra mim mesma que não iria mais chorar, tinha que aceitar a realidade, mesmo sendo difícil quando o homem que ajudou a te criar, te ajudou a chegar onde está, faz esse tipo de coisa.
Se James não aparecesse talvez eu desse um jeito de esconder, até pelo menos averiguar os fatos.

-Está noite está um pouco fria não acha? -James sentou do meu lado.

-Estou começando a achar. -Me virei a tempo de ver o cachorro enorme dele sentar na outra ponta do banco. -Vai matar seu animal.

-Ele é forte. Agora me diga, conseguiu? -Mostrei o papel. -Ótimo, porque eu também consegui, e acho que a garota não morreu.

- Como tem certeza disso?

-Porque quando elas morrem, são entregues aos familiares, acho que deixada em algum lugar,  ou onde desapareceu. Dos três nomes que anotei, duas já morreram, agora só falta uma. A mãe está esperando pela chegada da filha até hoje. -James encarava o mesmo casal que eu.

-Sabe que ele gosta de você né? - Ele dava tapinhas no cachorro.

-  Deus me livre despertar o amor de um bicho desses. - Cheguei até me afastar deles.

-Não. Estou falando do seu amigo.

-Como sabe?

-Noto muitas cosias quando estou sentado na cadeira do tribunal. Você também gosta dele?

-Não. Eu, eu, gosto dele, mas como amigos. Nós somos diferentes, ou éramos. - Senti um nó na garganta.

-  De repente se der a chance dele te beijar, ou dizer o quê  sente.

-Não rola. Já demos um beijo, a gente estava na festa da faculdade, dançamos em volta da fogueira e acabou rolando um beijo, não foi rápido, foi Beijo mesmo. Daí ele me perguntou se eu senti algo, eu disse que não,  aí o Ben respirou aliviado e disse que foi estranho,  foi como beijar a própria irmã, depois disso nunca mais tentamos.

- Talvez naquela época não,  mas agora, eu vejo como ele te olha,  a forma que te protege de tudo e todos. No tribunal ele praticamente te escoltou até o acento e depois sentou ao seu lado, e cada movimento seu era a atenção dele.

- Benjamin é muito atencioso comigo, mas ele sabe que não estou aberta à  relacionamentos. -Ele estava me deixando ansiosa com toda aquela conversa.

-Bem, o que você achou? -Mostrei os papeis pra ele.- como achou todas essas informações sobre ele? E essa foto, - Ele examinou com mais atenção.

-Porque o Senhor Orlando é o meu padrinho, e patrão do meu pai....

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora