Prólogo

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30.09.2014
  Islândia

Frio e contínuo, sibilou o vento forte sob a meia-luz da lua cheia, empurrando desde as árvores mais altas, - que rangiam em protesto. - se estendendo pela única estrada que serpenteava sobre o chão úmido daquele estranho lugar.

O fogo surgiu rápido e sem aviso. O mar de labaredas amarelas abriu caminho pela trilha encoberta por um amontoado de galhos e trepadeiras espinhosas, e das chamas saiu uma estranha silhueta.Um corpo magro, alto e definido. Era um rapaz que dominava as chamas como se fosse dono delas, realmente ele era, pois com apenas um movimento de seus braços, todas aquelas chamas que consumiam a madeira das árvores se desfez em um segundo, deixando em seu rastro um manto e uma chuva de cinzas.

Logo o viajante supôs que sua jornada acabara, pois o longo bosque de pinheiros que parecia infinito deu lugar a um enorme campo esverdeado ainda ocupado pelas ruinas de um castelo. - marcado e destruído pelas lembranças inesquecíveis de uma batalha sombria travada a anos e anos atrás. Ele lembrava vagamente daquele dia, um dia triste que trouxe apenas desespero para criaturas mágicas que habitam na terra.

Decidido a continuar ele ajustou o terno elegante de cores negras e voltou a andar graciosamente. Seus cabelos grandes estremeciam com o sopro do vento cortante e em seu rosto branco emoldurado com uma barba bem feita, estampava-se uma caracteristica que só os de sua espécie possuiam. - íris de um tom amarelo alaranjado que chegavam até mesmo brilhar na escuridão como fogo dentro de bolas de vidro.

O rapaz passou por uma entrada arqueada destruída. O corredor que a precedia exalava um xeiro de umidade que era acompanhado por um sibilo grave como o próprio uivo do vento contínuo. Ele sussurrou para si, algo baixinho em uma linguagem extranha, - sua voz grave e melódica era como o canto de um anjo celeste que deixava qualquer um arrepiado. - e novamente fogo frizou sobre a propria mão enluvada. Com luz e calor, os passos firmes voltaram a ir em frente na profunda escuridão do túnel. Ele pôde escutar discretamente o barulho de chamas, - não da que tinha em mãos. - e uma risada engraçada tão familiar advinda do final do túnel o fez acelerar o passo. O corredor deu lugar à um enorme salão destruído. - as paredes parecidas com as de uma igreja não atingiam nove metros de altura. Havia algumas colunas de pé, duas escadas no final levavam ao segundo andar que havia sumido, e o resto dos pilares redondos decoravam o chão repleto de musgo e insetos. Numa parte onde a escada crescia, um bando de morcegos fugia das chamas enormes que eram lançadas consecutivamente por uma garota magra.

- Então ainda odeia morcegos? - gritou o viajante.

A garota magra virou assustada. Quando os pares de íris amarelas finalmente se encontraram, ela correu e ele apagou a chama que tinha em mãos. Ela usava um vestido preto e leve que esvoaçava a cada passo rápido, seus cabelos loiros, longos e lisos voavam com a velocidade em que ela corria. Entao finalmente o abraço aconteceu. - um abraço que demonstrava o tempo que eles haviam tido um longe do outro, e que deixava claro o afeto não só de amizade, mais de algo que eles sempre consideraram um laço forte de fraternidade mesmo não sendo irmãos.

- Alec! - sussurrou ela com alívio e ao mesmo tempo felicidade expressos na voz melancólica.

- Faz muito tempo não é velha amiga...?

- ...e respondendo sua pergunta: " Sim, eu ainda odeio morcegos!"

Os dois riram e o abraço ficou mais apertado. Mas não era para aquilo que os dois estavam naquele lugar, Alec pôde ver por cima do ombro da amiga o grupo de pessoas encapuzadas que conversavam em volta de uma fogeira. Ele soltou-se de vagar do abraço com uma expressão de seriedade e disse:

- Lucy, a quanto tempo estão esperando?

- Chegamos aqui antes do crepúsculo.

Ela também ficou séria, até mais do que ele. Logo os dois caminharam em direção do Conselhos dos Anciãos, e quanto mais se aproximavam dos velhos, percebiam a escuridão e a tristeza que emanava do rosto de cada um deles.

- Tantos lugares e o senhor marca uma reunião aqui?

Um velho senhor mais alto que os outros baixou o capuz revelando uma face branca cheia de sinais e olhos amarelos como os de todos presentes. Comprimentou Alec com um aceno de cabeça e um sorriso triste, abrindo os braços ele disse:

- Aqui viveram os primeiros de nós, por dois longos séculos. Nada melhor do que voltar as origens!

Fez-se silêncio por um segundo, mas Alec fez questão de cortá-lo.

- Sei o motivo dessa reunião...

- Se sabe, meu jovem. Então deve estar ciente de que estamos sem tempo. - ele fechou os olhos enquanto sua expressão ficava cada vez mais sombria ( o que parecia ímpossivel), e quando os abriu novamente os olhos pareciam apagados em comparação aos de Alec. - Iremos atacar os descendentes de Erin na passagem da Jóia. E queremos que se junte à nós novamente em uma ultima batalha. Você é um dos poucos que faz transgressão da marca. Nossa raça se sente imcompleta com um dos membros mais poderosos afastado.

Fez-se silêncio novamente mas Alec sessou-o novamente:

- Isso é loucura Ancião Mestre! - ele viu a expressão de cada um dos velhos que dizia " que petulância", mas continuou. - Haverá muitos deles nesse dia, e todas as criaturas mágicas que são aliadas deles também estarão lá! - ele respirou fundo. - Como disse sou um dos poucos que transgride a marca Dorven. Sería um suicídio fazer esse ataque!

- Alec... - o velho parecida desesperado e ao mesmo tempo cansado.

- A profecia... - pronunciou-se um velho gordo e carrancudo que segurava uma bengala na mão esquerda. Sua voz era extremamente áspera e rôca. - ... A profecia diz que a Jóia ensinará a sua portadora como levar todas as criaturas mágicas de volta ao mundo de origem, ou seja, eles mesmos: Os bruxos de luz; as fadas; feiticeiras d'água; espectros brancos e todos o resto dos aliados. Nós os Dorvens fomos excluídos desse grupo de aliados quando roubamos a Jóia e tentamos tirar à força a chave dos portões de Alva, o que por mencionar causou a destruição desse castelo, nossa antiga casa. Ou fazemos o ataque ou passaremos a eternidade com os humanos!

O Ancião Mestre segurou Alec pelos ombros e disse:

- Temos uma legião!

- A magia pura deles e a força dos aliados destruiría nossa legião em dez minutos!

- Então me diga...- ele fitou Alec com ainda mais desespero. - Diga o que podemos fazer. Não quero passar a eternidade com a prole humana inferior!

- Posso falar!?- Lucy se pronunciou com a mão acima do ombro. - Podemos ter a chave sem ter que atacar os Deraborn no ritual e sem causar mortes. Bem pelo menos nem um dos nossos morreria. - ela fitou Alec por um segundo e voltou a falar. - Eu e Alec podemos nos infiltrar na vida da portadora e sequestrá-la na hora em que achar que pode confiar em nós. Então a obrigamos a abrir os portais de Alva, vamos para casa e eles que passem a eternidade aqui!

O Ancião Mestre admirou a ideia, finalmente algum sentimento alegre pulou dentro de seus olhos que instantaneamente voltaram a vida. Ele abriu um sorriso que ainda assim parecia cansado.

- O que me diz Alec?

Alec fitou o chão empoeirado, pensando cautelosamente naquele plano, e envolvendo de uma vez o coração numa neblina densa de dúvida e tristeza, mas após tantos devaneios seu rosto levantou decidido a dar uma resposta definitiva. A resposta que definirá o futuro de sua raça dali em diante.

- Sim...

Jóia Das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora