Capítulo 4

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Eu assistia Attina revirar um dos meus baús de vestidos como uma criança na manhã de natal.

"Eu não acredito que você não guardou nada durante todos esses anos!" Exclamei, juntando os vestidos que a guardiã insistia em jogar na minha cama. "Você viveu por séculos, suas roupas mais antigas poderiam ser vendidas por milhares de dólares."

"Não preciso, se guardasse tudo eu nunca conseguiria me mudar." Ela falou enquanto segurava um dos meus vestidos curtos de paetês pretos. "Porque você guarda essas coisas? Nós duas sabemos que você não tem intenção nenhuma de usá-los novamente".

Arranquei o vestido de sua mão e o recoloquei no baú. "Nunca se sabe! E guardo boas lembranças dessas roupas... Da maioria delas, pelo menos. É importante pra mim."

"Ok então, mas como você faz para levar tudo? Não é como se você colocasse em uma canoa ou alguma coisa assim."

"Não sei se você conhece o FedEx, Attina?" Ri enquanto ela me respondia com um olhar torto. "Sempre pesquiso onde quero ir em seguida, e envio minhas coisas para lá. Normalmente chego a tempo de pegá-las."

Conversamos por mais alguns minutos até encontrarmos dois vestidos para sairmos esta noite, um azul marinho para mim e um verde água para ela. Era divertido ter Attina em casa. Com a vida que levamos, os dias podem ser muito sozinhos, ter alguém que entende e passa pelo mesmo é no mínimo reconfortante. Ás vezes podia ouvir ela cantar quando estava no banho ou conversar com Olivia na biblioteca enquanto eu organizava as prateleiras. Sua presença era mais que bem vinda, mas Atargatis não parecia estar feliz. Attina na mesma cidade que eu representava uma das guardiãs não fazendo seu trabalho, o que deixava a deusa extremamente irritadiça.

"Siena, quanto tempo você acha que eu posso ficar até Atargatis fazer um tsunami para me buscar e levar a cidade inteira junto?" Attina comentava enquanto cacheava seu cabelo com um modelador.

"Não sei, mas você realmente quer testar a paciência da deusa?" Respondi enquanto aplicava delineador. 


  • •• ••••• 


Estávamos nos arrumando para ir a um bar que ficava no píer de Avalon, e se tornara um marco na cidade por atrair os mais diversos públicos. Nos dias úteis era conhecido por ser o lar de marinheiros bebuns que paravam na cidade, mas nos sábados era noite de karaokê, e o pessoal mais novo era obcecado com a vibe "vintage" do lugar, por mais falsa que parecesse.

"O mascote deles é uma sereia?" Attina cobria a boca com a mão para não rir da enorme sereia de madeira esculpida acima da porta do bar. "Ela nem é tão bonita assim".

"Culpe o escultor, não a sereia" brinquei enquanto entrelaçava meu baraço no dela e entrávamos no lugar. Mal eram onze horas da noite e as mesas estavam quase todas lotadas. Jovens que vinham da faculdade para visitar a família, adolescentes aproveitando o final de semana, alguns homens de meia idade aproveitando a folga do serviço... E nós. Cochichei no ouvido de um dos garçons e ele nos arrumou uma mesa em um lugar privilegiado, perto do palco do karaokê, e Attina me olhou como se dissesse "você não devia fazer essas coisas".

"Ah, dane-se, não é como se eu estivesse torturando o cara", ela respondeu me olhando sarcasticamente e apontando o dedo para onde o garçom estava, e o mesmo tinha os olhos fixos em mim, abrindo um sorriso e orelha a orelha quando viu que eu o observava. "Droga."

A guardiã riu e acariciou meu ombro "Acontece, Si. Ih, olha lá o garoto do café no palco!"

Olhei e lá estava: Caleb e um amigo gordinho de cabelos bem escuros, que reconheci também ser da cafeteria, subindo no palco. Caleb usava um jeans escuro e uma camiseta cinza por baixo de um casaco de moletom vermelho, seu cabelo acabei-de-acordar brilhava por conta das luzes fortes no palco minúsculo, assim como seus olhos castanho claros. O observei segurar o microfone enquanto tentava parar de rir da situação, e seus olhos encontraram os meus, sorri e abaixei o olhar timidamente quando ele começou a cochichar com seu amigo e em seguida anunciar seu... número.

SirenaWhere stories live. Discover now