Capítulo 4

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Na manhã seguinte, Elizabeth sentiu que Jane já estava suficientemente bem para ir para casa. Sentia-se muito ansiosa para deixar Netherfield e se ver livre do constante perigo de estar na presença do sr. Darcy. As duas irmãs concordaram que já haviam ficado tempo demais e deviam estar ultrapassando o limite da hospitalidade. Por esse motivo, Elizabeth escreveu um bilhete para sua mãe pedindo-lhe que enviasse a carruagem para buscá-las. A senhora Bennet, no entanto, estava convencida de que Jane deveria permanecer a semana toda em Netherfield e escreveu, em resposta à Elizabeth, que a carruagem não poderia ser cedida e que ela e Jane deveriam ficar mais tempo, se convidadas para isso. Contudo, Elizabeth estava determinada a voltar e por fim convenceu Jane a pedir a carruagem do sr. Bingley emprestada. Ao receber tal solicitação, no entanto, a srta.Bingley insistiu, por pura educação, para que elas ficassem mais um dia. Ela se arrependeu de ter feito tal convite assim que este foi aceito, pois seus ciúmes e aversão por uma das irmãs ultrapassava em muito a afeição que sentia pela outra, e estava ansiosa para que Elizabeth partisse. Assim, ficou decidido que Jane e Elizabeth deixariam Netherfield na manhã seguinte. Tanto o sr. Bingley quanto o sr. Darcy estavam desapontados que elas tivessem que ir embora, mas somente o sr. Bingley expressou tal sentimento.

Mr. Darcy ficou ainda mais desapontado por Elizabeth não ter descido para o café da manhã. Obviamente não lhe ocorreu que ela estivesse tentando evitá-lo. Na verdade, ela pretendia passar o dia inteiro nos aposentos de Jane, não se atrevendo nem mesmo a sair ao corredor com receio de encontrá-lo. Naturalmente, esta situação era muito desagradável para ela, que tanto apreciava ficar ao ar livre, e que estava habituada a caminhar ao menos uma vez ao dia. Elizabeth convenceu Jane, sem muito esforço, de que seria melhor ela não se cansar muito esta noite, descendo após o jantar, para que ela estivesse bem descansada pela manhã para a viagem. Embora Elizabeth quisesse evitar mais uma noite silenciosa e constrangedora, sua preocupação com a irmã era real e não queria arriscar que seu estado piorasse. Até mesmo solicitou que suas refeições fossem servidas no quarto. Assim, tudo foi arranjado para que ela permanecesse recolhida o dia todo.

Ao passar o dia encerrada e ociosa, Elizabeth teve tempo de refletir a respeito dos recentes acontecimentos que dominavam seus pensamentos. A princípio ela não teve dúvidas, a partir do momento em que o sr. Darcy se declarara, de que teria que recusar seu iminente pedido de casamento quando fosse manifestado. Porém, depois de pensar mais a respeito, não conseguiu decidir por que o faria. Era verdade, ela não o amava e não se casaria sem amor, mas dispensá-lo tão prontamente depois de suas ternas confissões não parecia certo. Deu-se conta de que passara muito pouco tempo em sua companhia, e conversara menos ainda, e que não sabia nada sobre ele. Pelo menos, não o suficiente com o que se embasar para uma decisão como esta. De fato, tudo o que sabia dele era que ele era rico e reservado, e que era dono de uma grande propriedade em Derbyshire. Sim, Derbyshire, Elizabeth teve uma idéia! Ela ganhou alguns momentos de privacidade enquanto Jane descansava e resolveu escrever uma carta à tia, sra. Gardiner, que já vivera muitos anos em Derbyshire. Ela já havia escrito à tia com as novidades sobre os habitantes de Netherfield, e em resposta a sra. Gardiner havia declarado que, embora conhecesse a família Darcy de nome e sua propriedade Pemberley, ela não os conhecia pessoalmente e sabia muito pouco a respeito deles. Assim, Elizabeth escreveu,

Minha querida tia,

Sei que posso confiar-lhe um assunto que exige total segredo. Não tenho dúvidas de que posso confiar em sua discrição. Inteirei-me por mero acaso de informações referentes aos sentimentos de um certo cavalheiro por mim. Querida tia, da mesma forma que havia decidido odiar o sr. Darcy por causa de seu jeito orgulhoso, fiquei sabendo por mero acaso, mas da fonte mais confiável possível, que ele me admira e pretende pedir minha mão. Ele não sabe que estou ciente disso. Sei que a senhora deve estar curiosa, mas prefiro guardar minhas explicações até que eu a encontre pessoalmente, mesmo assim tenho que lhe fazer esta solicitação que, eu espero, seja atendida mesmo sem maiores detalhes de minha parte.

Como meu futuro (e também o de minha família) pode depender do pronunciamento deste homem, achei que não seria prudente recusá-lo com base nas informações deveras limitadas que tenho sobre seu caráter. Embora eu pretenda conhecer mais sobre ele aqui, nas oportunidades que se apresentarem, o propósito de minha carta é implorar-lhe que procure se informar com seus conhecidos de Derbyshire sobre a reputação e o caráter deste homem. Admito que não o amo, tia, e não poderia aceitá-lo a não ser que o amasse, portanto tento saber se eu poderia amá-lo. Na verdade, sinto que posso tê-lo julgado de maneira precipitada e espero que minha dúvida recentemente descoberta quanto à validade da minha opinião a respeito dele não seja apenas o resultado de minha própria vaidade por saber dos sentimentos dele por mim. E mesmo sabendo que a resposta que procuro virá principalmente de minha própria interação com ele aqui, me sentiria melhor se soubesse mais a seu respeito. Obrigada, tia, por sua generosa ajuda nesta questão. Por favor, escreva-me tão logo tenha alguma informação a comunicar.

Sua sobrinha, com amor

Elizabeth Bennet

Elizabeth confiou a carta a um criado com instruções de postá-la no expresso daquele mesmo dia. Agora ela só teria que esperar por notícias. Considerou a forma como a revelação do sr. Darcy a levara a questionar a opinião negativa que formara a respeito dele, quando anteriormente ela não tivera escrúpulos em formar tal opinião baseada em informações demasiado limitadas.

O sr. Darcy também se vira afetado pelo encontro com uma adormecida Elizabeth na biblioteca. Ele fora levado a se entregar aos próprios sentimentos por ela e sua resolução não fora abalada ao deixar o lugar. Ao contrário, ele havia definido seu curso de ação e, assim, interrompeu seus esforços de uma maneira muito agradável. Uma vez decidido a propor casamento a Elizabeth, ele começou, pela primeira vez, a contemplar as reações dela e percebeu que sempre dera por certo de que ela o aceitaria. Agora já não tinha tanta certeza. Decidiu se entregar à onerosa tarefa de desvendar os sentimentos dela em relação a ele, e se fossem desfavoráveis, de tentar conquistar seu amor. Portanto, ele não poderia se declarar prematuramente. Decidiu sensatamente que não a pediria em casamento enquanto não estivesse relativamente certo de que ela assentiria. Com tal resolução e um plano de ação definido, ele já antecipava com prazer a corte que faria à mulher que amava.

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