Capítulo 1

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Louren

Acendo um cigarro e me encosto contra a parede do lado de fora da lanchonete. Jona me pediu para colocar o lixo para fora e aproveitei a oportunidade para relaxar. A fumaça que sai da minha boca é bonita e me encanta, e gosto de fazer truques com ela. Aprendi como tragar de várias maneiras, mas a minha preferida é a que a boca fica meio aberta. Fecho os olhos e repasso os últimos anos patéticos da minha vida, não vai demorar muito para que eu dê o fora dessa cidade. Já tenho um pouco de dinheiro escondido do meu tio Marcus e posso usá-lo para me manter por alguns dias longe daqui.

Dou mais algumas tragadas e quando apago a ponta do cigarro contra a parede velha escuto a voz de Carla me chamando.

- Louren? Cadê você? - a porta dos fundos do Jona's é aberta e a garota magra com cabelo loiro preso em um coque mal feito, me encara com as mãos na cintura. - Fumando de novo?

- Virou minha mãe agora, Car? - jogo o cigarro apagado no chão e sorrio.

- Não. Mas eu sou sua amiga e me preocupo com você. Quando vai largar o vício em cigarro?

- Não vou largar nada porque não sou viciada em nada. - digo passando por ela e entrando na cozinha da lanchonete. - Fumo quando quero e posso parar quando quiser. - Lavo minhas mãos e as enxugo no avental.

- Tá. Você já disse isso. - ela revira os olhos. - Mas eu preciso que cubra meu turno hoje.

- Ah, por quê?

- Vou jantar com a família do Coll.

Coll é o namorado dela.

- Ele vai me apresentar para os pais e eu quero ficar bonita. - sorri tirando o avental e o guardando em seu armário. - Pode me cobrir?

- Claro. Preciso de uma grana extra. - dou de ombros.

- Obrigada. Eu te vejo amanhã.

Ela me abraça e sai da cozinha enquanto Jona aparece logo em seguida e cruza os braços.

- Vai cobrir o turno da Carla?

- Vou. Preciso de dinheiro.

- Não é para seu tio, é?

Jona e Carla sempre foram os únicos a se preocuparem comigo de verdade. Eles sabem sobre todas as ameaças e chantagens que Marcus me faz e sempre me confortaram quando as surras que meu tio me dava passavam dos limites.

- Não. Marcus não pega mais meu dinheiro. - minto. - Estou juntando para uma coisa.

- Humm... - ele se aproxima e bagunça meus cabelos. - Não faça nenhuma loucura.

Assinto com a cabeça.

- Vai atender as mesas. Hoje é só você.

Faço o que ele pede e vou até a mesa ocupada por um cara usando uma jaqueta de couro. Suas orelhas têm alargadores, há uma argola fininha em sua sobrancelha direita e posso ver algumas tatuagens aparecendo pela gola da camisa surrada e nas costas das mãos.

- O que vai querer? - pergunto pegando o bloco de notas e a caneta em meu bolso.

- Café. Preto. Sem açúcar. - ele me encara quando responde.

- Tá legal. - vou até o balcão para pegar a garrafa térmica de café e uma xícara e volto para perto da mesa.

Encho a xícara com café e ele a segura pela alça, levando-a até os lábios.

- Valeu - toma um gole.

- Mais alguma coisa?

- Não. - sua voz não tem expressão nenhuma.

Dou de ombros e vou atender outros clientes. Quando volto à mesa do cara tatuado, ele já foi e me deixou uma boa gorjeta, o que não é nada mal.

A noite chega rápido e antes que eu vá embora, Jona me entrega o envelope com meu pagamento do mês.

- Não deixe que Marcus pegue seu dinheiro. - Jona põe a mão em meu ombro. - Se estiver com qualquer problema sabe que pode contar comigo.

- Sei. - afirmo e coloco o envelope no fundo do bolso do meu jeans.

- Ótimo. Vá para casa e cuidado.

- Pode deixar, Jona. - Caminho até a saída.

- Boa noite, Louren.

- Boa noite. - saio da lanchonete e enfio as mãos nos bolsos da jaqueta.

Caminho pela rua quase deserta e finalmente chego a minha casa. Se bem que não posso chamar essa casa de "minha", já que Marcus me obriga a dormir no sótão e me faz cozinhar e limpar como uma empregada. Me sinto como uma versão barata da Cinderela. 

- Hoje foi dia de pagamento. - Marcus diz assistindo ao jogo de futebol na TV. - Cadê o dinheiro?

- Jona atrasou o pagamento. - minto e fecho a porta para correr até a escada.

- Não minta pra mim, Louren... - ele levanta e se aproxima bem rápido, segurando meu pulso com força e me trazendo para perto do seu corpo nojento. - Onde está o dinheiro?

- No mesmo lugar de sempre! - rosno.

Ele enfia a mão no meu bolso de trás e retira o envelope. Marcus o abre e conta o dinheiro na minha frente. 400 pratas. 400 pratas que me ajudariam a dar o fora daqui mais rápido.

- Bom. - ele coloca toda a grana em seu jeans e vai até a cozinha para pegar uma cerveja. - Peça um aumento para aquele mané. Isso não é nada.

Subo as escadas e vou para o meu sótão. Fecho a porta e passo a chave. Me aproximo da cômoda ao lado da cama e a afasto. Seguro a madeira do piso e puxo uma das vigas revelando a lata de biscoitos escondida. Pego a lata e a abro. Ainda tem pouco, mas as gorjetas de hoje ajudaram, principalmente a do cara tatuado. Tiro minhas botas e retiro o dinheiro escondido em minhas meias.

Se eu continuar assim, fazendo tudo com cuidado logo terei o suficiente, então meu pesadelo vai acabar.


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Oi, pessoal! Espero que tenham gostado do primeiro capítulo de Foras da Lei. Deixem seus comentários para que eu possa ler suas opiniões. Logo logo tem capítulo novo!

Por hoje é só! Um beijo no coração de vcs e tudo de bom!

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