Carry on my wayward son

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"[...]seria inútil discutir com  ele."

   — Sente-se Mikhael Linnyker — Disse Phil apontando para um dos sofás, ele se senta no oposto.

   Ele me levou até seu escritório que fica no terceiro andar do prédio principal. É basicamente uma sala de estar bem grande, no meio dele há dois sofás de couro marrom colocados um em frente ao outro. Entre eles há uma mesa de centro esculpida em madeira de carvalho. Mais ao fundo sua mesa e cadeira, logo atrás cobrindo toda parede, uma estante lotada de livros.

   — Prefiro ficar em pé, se me permite. — Digo arrogantemente e olhando no fundo de seus olhos.

   — Como queira... — Phil passa a mão no rosto, mostrando-se sem paciência — Apenas me diga: por que eu te coloquei aqui? O que você significa para os outros?

   — Aparentemente para servir de exemplo aos outros... — Dou um sorriso no canto da boca devido à ironia da frase pela minha atitude.

   — Exatamente — Phil faz um sinal positivo com a cabeça, ele se levanta e vem lentamente em minha direção com postura reta e com os braços nas costas.

   Eu observo essa cena, aparentemente calmo por fora, mas suando frio por dentro. Agora ele está cara a cara comigo. Mesmo sendo um pouco mais alto que eu, Phil me olha sem deixar sua postura e nem inclinar sua cabeça.

   — E tenho certeza que você sabe o que acontece com aqueles que não dão exemplo... — Diz erguendo a sobrancelha direita — Não é mesmo?

   — Por que tenho que ficar preso aqui? Eu também quero uma vida!— A cada palavra, um passo para trás — Eu não sou como os outros! — Sem mais espaço, minhas pernas batem no sofá e automaticamente me sento. Estou tenso, mas não posso deixar isso transparecer, tento manter para uma feição séria e firme, mas meu corpo é invadido por medo.

    Tenho alguns traumas de infância, um deles se deve pelo fato de que certa vez, eu tinha chegado muito tarde em casa e Phil amarrou meus braços no portão de casa até o outro dia, eu tinha 11 anos na época. E essa foi uma das poucas  vezes que ele foi um pouco brando em seus castigos.

   — Você me desobedeceu. EU, seu pai e superior. — Ele segura a gola da minha camisa com força e agressividade, e me puxa me fazendo levantar. — Vamos ver como te castigo dessa vez.

   Phil sai com passos largos e rápidos me puxando pela camisa, sem ao menos se importar comigo, como se fosse uma sacola de lixo sendo arrastada.

   Por estar em horário de aula, não havia ninguém nos corredores do prédio, apenas se ouvia os passos de Phil e o som do meu corpo sendo arrastado, tentando fútilmente ficar em pé. Eu tentava desesperadamente me soltar, até que minha camisa rasgou e caí no chão, nesse ponto já estava sem minha jaqueta, a qual havia saido do meu corpo alguns metros antes.

   Ainda meio atordoado, tento me levantar mas devido ao impacto e alguns arranhões solto um gemido baixo.

   — Levante-se Mikael! — Ele puxa meu braço da mesma forma que me tirou de seu escritório.

   Por sorte — ou a falta dela — alguns segundos depois chegamos a área de treinamento. É uma área bem grande e aberta com uma pista de corrida em volta dela, algumas paredes de madeira e cordas para escalar, em seu centro um lugar com arame farpado para passar em baixo, pneus, e outras coisas para testar resistência.

   — Pode começar dando dez voltas na pista. — Diz ao me soltar, quase caí no ato, pela tamanha agressividade.

Cat Oreille de L'amour 🔸 MITW (HIATO)Where stories live. Discover now