7.

52 5 0
                                    

A Vila de São Paulo de Piratininga foi um lugar modesto durante o século XVII. Apesar de toda a simplicidade, a jovem Frida era muito feliz lá, ao lado do marido e longe da vida na Europa, de onde abandonara uma vida de luxo e requinte para viver com discrição em uma casa simples. Não queria mais saber do legado mágico e perigoso de sua família, muito menos de sua irmã, Carlota. Uma mulher ciumenta, amarga e que utilizava seus poderes para obter o que queria até as últimas consequências.

A vida se tornou ainda mais doce quando a pequena Valquíria veio ao mundo. Uma linda e sorridente menina de olhos verdes e lábios carnudos. Mas à medida que a garota crescia, seus poderes passaram a aparecer, para o desespero da mãe, que a todo custo os escondia e repreendia a filha a cada demonstração de suas habilidades. Se fosse confirmada a existência de uma bruxa de verdade naquela vila, mesmo que uma criança, seu destino seria cruel.

Mas apesar das dificuldades, Frida permanecia feliz. Até o dia em que teria um duro encontro com o passado.

Os campos verdes ainda eram vastos e se misturavam ao céu azul na paisagem. Em uma calma manhã, Frida observava os campos com serenidade até que avistou uma carruagem ao longe. Devia se tratar de alguém muito importante ou de muitas posses para estar a bordo de um transporte daqueles. Conforme a carruagem se aproximava, os detalhes em seu exterior revelavam um símbolo que ela já conhecia - o Brasão de sua família. Frida estremeceu.

- Felipe, leve Valquíria daqui!

- O que houve? Nunca a vi assim tão transtornada.

- Por favor, só leve nossa filha daqui! Eu prometo que lhe explicarei depois.

Felipe, o marido de Frida desconhecia o passado de magia da esposa apesar de estranhar alguns dos comportamentos da filha. Felipe era um homem bom e devoto à família, e compreendendo o desespero da esposa, levou Valquíria.

A carruagem se aproximava, Frida aceitou que teria de rever a irmã. O veículo parou em frente à modesta casa e Carlota, em luxuosas vestes, desceu com a ajuda de um lacaio.

- Então, minha querida irmã, sentiu minha falta?

- Ora, ora, mas que pobreza! Justo a sempre tão exigente Frida! - Observou Carlota enojada com a simples casa da irmã.

- Antes viver em uma casa modesta longe de ti que em um palácio ao seu lado. E foi aqui que encontrei algo mais importante que posses.

- Ainda respondemos com grosseria? Apesar da pobreza não está mais humilde.

- Nem hipócrita, ao contrário de ti.

Apesar de parecer segura, Frida estava apreensiva com a possibilidade de Carlota descobrir sobre sua família.

- O que veio fazer aqui afinal, Carlota, aborrecer-me, matar-me, levar-me de volta? O que quer?

- Não se dê tanta importância Frida. Eu estou de mudança para o Brasil em nome do Santo Papa para fiscalizar essas terras e garantir que sua população siga fielmente os dogmas católicos e que os hereges sejam punidos.

- Não pode ser verdade. Como convenceu o Papa?

- Querida, não seja ingênua. Tu, eu e a Europa inteira sabemos muito bem o que se passa em Roma, além disso, temos outras habilidades além de simples lábia. - Disse Carlota sorrindo maliciosamente. - Ou seja, morarei nesta Vila fétida daqui em diante, assegurando a moral e os bons costumes, e é claro, caçando bruxas!

De fato, com seus imensos poderes, mesmo se fosse perseguida e condenada, ela jamais seria executada pelos fracos mortais, por mais que assumisse ser uma feiticeira, mas fingir ser católica a beneficiava muito, pois todo o sofrimento que causava em cada execução era como um fortificante para sua alma negra e ela poderia se livrar dos muitos desafetos que criava por onde passava de uma maneira que servisse como aviso aos outros.

Refúgio - Filha de ÁrtemisWhere stories live. Discover now