Questões familiares

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Elizabeth ouviu atentamente o que Georgiana tinha para contar, sem interrompê-la. A jovem revelou todos os fatos ocorridos nos últimos dias, especialmente os que envolviam Richard.

— Quero que saibas que eu não agi movida apenas pelo desejo: eu o amo, Lizzy. Compreendes a minha situação? Aqueles poderiam ser os últimos instantes ao lado do homem que o meu coração escolheu. Posso ter sido insensata, mas jamais fui leviana. Agora, por favor, diga-me alguma coisa: teu silêncio me angustia. — a jovem pegou as mãos da cunhada, buscando apoio.

— Entendo muito mais do que imaginas... — Lizzy acariciou as mãos geladas de Georgiana — Eu também perdi a virgindade antes do casamento. Foi com Darcy, e também foi por amor. — Elizabeth confidenciou.

— Verdade?! Nunca pensei nessa possibilidade...

— Nunca fui apegada às convenções. Entretanto, o que difere entre a minha história de amor e a tua é que Will firmara compromisso comigo, não com outra. Mas não pense que estou repreendendo-a. Uma pessoa que, assim como eu, conhece a força de uma paixão, sabe o quanto é difícil controlar tal sentimento. Apenas torço para que não fiques assim, porque no teu caso, seria um grande problema. - Lizzy afirmou, enquanto apontava para a própria barriga.

- Isso não há de acontecer - Georgiana bateu três vezes na madeira do criado-mundo, supersticiosa — Quero ter muitos filhos com Richard, mas no momento certo. E lhe peço uma coisa: não comentes nada com Fitzwilliam, ele não precisa saber.

— Que assim, seja, minha querida. Não comentarei com o seu irmão sobre a nossa conversa, podes ficar tranquila. — Elizabeth deu um beijo no rosto da garota, erguendo-se em seguida — Agora descanse. Enviarei uma criada lhe avisar quando o jantar estiver pronto.

— Obrigada por tudo, Lizzy. — Georgiana agradeceu, recebendo um leve sorriso como resposta.

Pouco depois que a Sra. Darcy fechou a porta, Georgiana dormiu profundamente.

                                                                                         ***
O jantar em Pemberley foi tão agradável quanto o almoço. Ao término da refeição, porém, Darcy reservava uma surpresa para a irmã. Erguendo-se da cabeceira da mesa, ele discursou:

— Como sabes, nossa mãe deixou-me um colar para que eu lhe entregasse na ocasião dos seus 15 anos. Porém, foi nesta época que tu tivestes um envolvimento com Wickham, e eu desisti de presenteá-la por considerá-la indigna de tal homenagem. Após vários anos, presenteei Elizabeth com ele. Embora não me arrependa disto, percebi que fui injusto contigo. Tu és uma boa irmã, Georgiana, e tenho certeza de que serias um orgulho para nossa mãe, caso ela estivese aqui. Por tudo isso, mandei fazer uma outra jóia especialmente para ti, como um pedido de desculpas. — retirando do bolso do paletó uma pequena caixinha aveludada — Espero que seja do seu agrado.

— Ah, muito obrigada! — Georgiana estava emocionada — Posso pegar?

Darcy colocou a caixinha na mão da irmã, que a abriu. Era um lindo colar, com um pingente em forma de coração, cravejado de rubis.

— É realmente lindo. — Elizabeth constatou, acompanhando tudo de perto.

— Coloque-o em mim, por favor. — Georgiana pediu, ansiosa, e Darcy mais do que depressa atendeu ao apelo da jovem.

Ela procurou o espelho mais próximo, admirando a beleza do presente. Depois, correu de volta para os braços do irmão:

— Agradeço por tudo, Fitzwilliam. Isto representa muita coisa — passando a mão sobre o pingente - Tens dificuldade para demonstrar sentimentos, mas sei que me amas. Eu sei que este colar é mais uma prova.

— Nestas últimas semanas, além de recordar tudo o que vivemos, pude perceber o quanto fazes falta nesta casa. — ele hesitou por um instante, mas conseguiu dizer, olhando no fundo dos belos olhos da irmã — Eu te amo, minha menina.

— Eu também te amo, meu irmão. — intensificando o abraço e encostando a cabeça em seu peito.

Elizabeth, pensativa, torcia que aquele clima de harmonia fosse tão eterna quanto o brilho daquela jóia.

                                                                                                ***
Alguns meses depois

Para o alívio de todos os que sabiam o que havia acontecido entre Richard e Georgiana na mansão dos Bingley, após tanto tempo, já era possível afirmar que ela não estava grávida.

Elizabeth não precisaria dizer nada ao marido. Não gostava de ter que esconder alguma informação de Fitzwilliam, principalmente quando era algo relacionado à Georgiana, mas se escondera sobre o envolvimento dela com Richard fora justamente para poupar Darcy de um novo transtorno, e também porque havia prometido à cunhada não revelar seu segredo. Como a jovem não engravidara, o assunto morria ali.

Richard, por sua vez, sempre recebia mensagens frequentes do primo, e foi por meio de uma delas que descobrira este fato. Enfim estava em paz com sua consciência, pois amava a irmã de Darcy e seu remorso seria imenso caso a reputação dela fosse manchada por um momento de paixão inconsequente que tivera, afinal, casara-se com Lorelei e permaneceria ao lado dela até que a morte os separasse.

                                                                                        ***

Durante uma manhã chuvosa, típica do inverno europeu, um homem muito bem trajado com botas e sobretudo preto surgiu às portas de Pemberley.

Era o Sr. Holmes, que tivera dificuldades para encontrar os Wickham e geralmente comunicava-se com Darcy através de correspondências. Entretanto, as novidades que ele trazia agora eram dignas de serem expostas pessoalmente.

Fitzwilliam recebeu-o atenciosamente. Ao lado do marido estava Elizabeth, com sua aparente barriga de quase nove meses. Lizzy fizera questão de estar presente, afinal, era sobre a sua irmã caçula que falariam.

O investigador entregou aos clientes os dados atuais do casal sumido, recebeu um excelente pagamento por seu trabalho. O homem partiu tão discretamente quanto chegou, habilidade certamente adquirida após anos numa profissão que exigia a máxima discrição.

Ao perceberem-se novamente sozinhos, Fitzwilliam e Elizabeth confabularam entre si:

— Meu amor, finalmente sabemos onde Lydia está: isso é maravilhoso! Mal posso esperar para contar à Jane. — Lizzy comemorava, abraçada ao marido.

— Também estou aliviado. Enfim temos o endereço de sua irmã em mãos. Mandarei avisar à Charles imediatamente.

Darcy escreveu algumas breves linhas e lacrou o recado num envelope. Depois, tocou a sineta, e um criado apareceu prontamente.

A mensagem foi entregue nas mãos de Bingley, que na tarde daquele mesmo dia apareceu no palacete do amigo.

Os dois conversavam dentro do escritório sobre a visita do Sr. Holmes, quando Elizabeth apareceu. Ela não havia dormido naquela tarde, aguardando a presença do cunhado.

— Senhores. - após bater à porta, colocou a cabeça para dentro do cômodo — Posso entrar?

Os amigos, embora surpresos, permitiram a sua participação na conversa.

— Falávamos sobre nossa cunhada e combinávamos a melhor data para que possamos salvá-la de Wickham. — explicou Fitzwilliam, olhando de Charles para a esposa.

O visitante balançou a cabeça, concordando. Lizzy impacientou-se:

— E falavam sobre isso sem a minha presença?! — cruzando os braços, irritada.

— Não compreendo o motivo de sua queixa, minha querida. — Darcy olhava para ela, verdadeiramente confuso.

— Como não? Eu patirei com vocês dois e trarei Lydia para junto de nós novamente. — ela falou, resoluta.

Bingley e Darcy fitaram-na, incrédulos.

Algo em seu olhar (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora