Prólogo

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(Por Analice)

Minha história não começa com um "era uma vez", na realidade começa com uma frase porca, que me causou uma crise existencial enorme, mesmo quando criança.

— Você não pode fazer isto, Lice! — Meu irmão murmurou. — Você é uma princesa, os nossos pais não vão gostar disso! Então, não faça!

Foi o que eu escutei quando, aos 7 anos de idade, vesti as roupas de um dos meus irmãos e disse que queria lutar contra dragões.

Desesperados, eles me esconderam dentro de um armário, e enquanto um conversava comigo, outro se embrenhava pelo castelo em busca de um vestido para que eu trocasse de roupa. Não entendia o que havia feito de tão ruim, e não entendia o porquê de estarem tão constrangidos. Só queria brincar.

O ato foi puramente inocente. Depois de ouvir aqueles contos de fadas, onde a princesa indefesa esperava para ser salva pelo príncipe-herói que batalhava com dragões, vilões, ogros e outros seres mitológicos; me entediei.

Por que os meninos ficavam com toda a diversão? E se eu quiser lutar, atravessar os sete mares, e voar como os garotos das histórias? Qual o problema disso?

— O problema disso disse Nathan — é que as pessoas não acham que uma menina seria capaz de derrubar um dragão, eu acho.

— Você acha que eu não consigo acabar com um dragão, Nate? — Acusei-o. — É claro que consigo!

— Claro que consegue! — Força um sorriso. — Mas que tal você lutar com o seu dragão com suas roupas?

Eu ponderei.

— De vestido? Mas você acabou de dizer que meninas não...

— Podem sim! — Interrompe-me. — Você pode ser a primeira princesa guerreira de todo o universo! É uma boa ideia, mas você não pode simplesmente sair por ai lutando até a morte, Lice. Você vai ter que treinar primeiro para poder ajudar as pessoas.

Meu espírito de criança se animou ao escutar aquilo. Então quando Bernard voltou com um vestido em mãos, não apresentei nenhuma resistência, eles me ajudaram a me vestir e a calçar as sapatilhas. Nós demos as mãos, e saímos do armário, sem dizer uma palavra.

Até hoje ninguém comenta o que aconteceu lá dentro, às vezes acho que eles esqueceram totalmente disso.

Com o tempo descobri que seres mitológicos não existem, que eu não posso simplesmente sair guerreando até a morte por aí. Descobri que não queria ser um menino, que só queria ter a liberdade que eles tinham. Descobri muitas coisas, a maioria delas eram ruins.

Meus "dragões" eram outros.

No meu próprio castelo, encontrei preconceito, injustiça, e terríveis violações dos direitos humanos. Os servos eram maltratados, mesmo que estivessem apenas fazendo o seu trabalho. A nobreza era arrogante, e mesquinha, sempre fazia a vida deles um inferno, e isso me indignou.

Quando meu irmão completou idade suficiente para tomar decisões, que mesmo regradas, tinham grande influência, eu o implorei. Implorei que essas pessoas tivessem o que é de seu direito, e como sempre, ele foi o único que me deu ouvidos.

Princeless [EM REVISÃO] Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora