IV

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Não consigo me lembrar se foi uma decepção ou um alívio quando descobri a verdadeira identidade dela.

Não era Elizabeth, afinal. Elizabeth estava morta e enterrada.

Eu a havia matado.

Ela, por outro lado, era real. É real. De carne e osso. Viva e respirando. De pele quente e sangue correndo pelas veias. Ridiculamente, uma perfeita cópia de Elizabeth. O tipo de carma que sou obrigado a enfrentar por conta da minha natureza deturpada. Não sou capaz de dizer se as semelhanças são reais ou apenas fruto de minha imaginação, contudo obrigo minha mente a acreditar piamente que é verdade. Eu sofro, porém estou feliz, porque, de certa forma, Elizabeth está ali, ao meu lado. É um estranho e distorcido tipo de consolo. E é como se eu não tivesse feito o que meu lado mau me obrigou a fazer naquela noite fria de ano novo. Embora um lado ainda comemorasse o feito, não podia ser dominante de todo. Porque, afinal de contas, descobri que havia um estranho lado humano dentro de mim.

Elizabeth o despertou.

Elizabeth me arruinou.

Mas Ehlena me salvou.

Meu anjo e meu demônio. A salvação e a perdição.

Ainda não sei o que a motivou a falar comigo naquela noite, naquele pub, e também não me importo. Eu era um homem arruinado, não havia dúvidas quanto a isso. Ninguém se interessaria pela história de um bêbado jogado no canto de um bar. Mas Ehlena se interessou. Ehlena falou comigo. Ehlena se interessou sobre o que quer que tivesse acontecido em minha vida, e que havia me deixado naquele deplorável estado vegetativo.

"Minha mulher foi assassinada"

Foi o que eu lhe disse quando ela perguntou. Eu poderia tê-la ignorado, tê-la mandado sair e ir procurar alguém que necessitasse de sua piedade, todavia, não fui capaz. Porque eu precisava daquela estranha sensação de calmaria que sua presença me inundava. Precisava me sentir bem, embora atormentado por sua aparência.

Ehlena era um mistério a ser desvendado.

Ehlena é um mistério a ser desvendado.

E tal fato me excita de formas inimagináveis. Minha cabeça se distrai de todo o resto do mundo quando a enigmática Ehlena se aproxima. É um alívio. Uma bênção. Uma maldição.

Conversamos por horas naquele pub, e nada soube sobre sua vida. Ela soube tudo sobre a minha. Exceto a parte em que há um incontrolável e deprimido serial killer alojado em mim. Em minha cabeça. Uma voz em minha própria mente que não é a minha. Um coadjuvante me mandando fazer coisas pouco ortodoxas, bastante reprováveis. Um coadjuvante que com frequência toma a posição de protagonista. Descobri, naquela noite, que a bebida pode me tornar um ridículo carente que precisa de ajuda.

Ehlena entendeu e cuidou de mim naquela noite. E nas noites seguintes. Eu a beijei e a sensação foi a de estar em uma montanha-russa, em alta velocidade, o tempo todo. Estava tonto, enjoado, porém em êxtase. Eu a possuí e a sensação de tontura, enjoo e êxtase foi triplicada. Um paradoxo de sensações que passei a conviver a partir do momento em que Ehlena entrou naquele pub. Entrou em minha vida. E aceitou fazer parte dela.

Era estranho não sair à caça, observar uma mulher em sua rotina e odiá-la secretamente em meu coração negro. Era estranho não planejar a morte de uma mulher enquanto transava com ela. Era estranho me aproximar de uma mulher sem qualquer tipo de intenções assassinas borbulhando em minha cabeça. Mas eu não me aproximei de Ehlena. Ehlena se aproximou de mim. E, de certa forma, tal insignificante fato parecia ser o suficiente para me eximir da culpa de não ter vontade de mata-la. Não havia motivos, afinal, Ehlena não era infiel.

Ehlena não é infiel.

Ehlena é toda e completamente fiel a mim. O instinto assassino, portanto, estava, razoavelmente controlado. Está razoavelmente controlado.

E assim continuará, enquanto ela estiver aqui.

Elizabeth me arruinou.

Ehlena me salvou.

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Dark Knight 2 - RevengeOn viuen les histories. Descobreix ara