O dia da alta médica (parte 8)

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(...) Eu estava ali. E permaneceria quanto tempo fosse necessário, afinal, era um pedaço da minha história, da melhor história, que estava deitada ali. Liguei pra mãe dela, que morava em outra cidade, e rapidamente iria para o hospital, mas avisou que chegaria pela manhã. Ela poderia demorar 2 semanas pra chegar, dali eu só sairia com a Camila.

Olhei no celular, tinha 11 mensagens e 3 chamadas perdidas da Juh, o que será que aconteceu naquela festa?! Minha cabeça estava a mil, e a última coisa que eu queria ler naquele momento era uma justificativa descabida de alguém que ainda gosta do ex, como ela demonstrava gostar. Liguei pra Fer, pra saber se ela tinha chegado bem em casa e contar o que havia acontecido com Camila. Apesar das duas se odiarem, Fer ficou triste com o ocorrido e também se propôs a ajudar no que precisassem, ela sempre foi fofa e não era de se duvidar que essa seria a postura dela.

A mãe dela ainda não tinha chegado e Camila já estava acordando. Eu nunca fui bom em dar notícias, principalmente deste tipo, era o pai dela quem havia morrido no acidente. Como falar isso?!
Já estava preparando meu psicológico, quando ela apertou minha mão bem forte:
"__ O que eu tô fazendo aqui?" Ela me perguntou, querendo sentar na cama, assustada.
"__ Calma, você só tava me testando, pra ver se eu tinha problema de coração". Respondi, tentando descontrair o momento.
"__ Rafa, cadê meu pai? Chama ele pra mim".
"__ Calma, ele tá no outro quarto. Mas vou lá avisar que você acordou". Respondi gaguejando, e sai imediatamente do quarto, pra pensar em como dar a notícia.

No corredor, encontrei a mãe dela, que me abraçou chorando. Se ela entrasse naquele estado no quarto, além de assustar a Camila, ia passar mal também. Expliquei tudo pra ela, e pedi pra ela se acalmar, antes de entrar. A psicóloga do hospital orientou para que não falássemos nada ainda, ela mesma, no momento oportuno daria a notícia. Menos mal.

Andei mais um pouco e vi a Fernanda na sala de espera. O que ela estava fazendo ali?! Abri a porta e fui em sua direção:

"__ O que você está fazendo aqui Fer?"
"__ Vim trazer algo pra você comer, afinal, você passou a noite inteira aqui". Me respondeu ela, com o sorriso de sempre, me entregando uma tapoer com um lanche natural e uma fruta.
"__ Eu não quero Fer. Tô sem fome". Respondi com a voz serena, e sem pensar duas vezes, abracei ela e desmontei. Era uma mistura de sentimentos, tensão e impotência, por não poder fazer nada naquela situação, não poder ajudar e, acima de tudo, ver Camila daquele jeito. Fer pediu para que eu sentasse e, com todo o cuidado que sempre teve, tratou logo de me consolar. Era engraçado, eu cuidando da Camila, e a Fernanda cuidando de mim. Os carinhos dela eram tão bons, e eu nunca havia reparado nisso.

Peguei o celular, tentando distrair a cabeça, e fui ler as mensagens da Juh. Eram textos enormes, pedindo desculpas por ontem, falando que ela agiu como uma idiota comigo. Realmente ela estava certa. Por fim, queria falar comigo pessoalmente. Respondi a mensagem falando que depois falaria com ela, no momento estava resolvendo algumas coisas. A mensagem nem foi enviada, e quem eu vejo chegando?! Juh! Era de se esperar que as amigas da Camila, assim que soubessem do ocorrido, fossem ao Hospital. E chegaram!
"__ O que você está fazendo aqui Rafael? Algum parente?" Perguntou Juh, após me cumprimentar.
"__ Não, estou aqui com a Camila". Respondi.
"__ Mas vocês se conheceram ontem né, não foi?" Me perguntou assustada, e com razão. A situação estava meio confusa mesmo.
"__ Eu já conhecia ela Juh, longa história. Uma hora te conto." Respondi
"__ E como minha amiga está?"
Eu expliquei sobre o acidente e a situação de saúde da Camila.

Fomos interrompidos pelos gritos vindos do quarto de Camila. Era certo que a psicóloga já havia dado a notícia. Todos estavam tristes, e as meninas também começaram a chorar. Deixei todos ali e fui correndo para o quarto. Nunca vou esquecer aquela cena, parecia que a vida tinha acabado pra Camila. Ela chorava de soluçar, perguntando cadê o pai. Eu não sabia o que fazer. Abracei ela e disse que eu estaria com ela pra tudo! Camila adormeceu em pouco tempo, segurando minhas mãos. Limpei o rosto dela, que estava coberto de lágrimas, dei um beijo na testa dela e ficamos ali.

3 longos dias se passaram, e em cada um deles, eu me reaproximava de Camila. Vale lembrar que Fernanda esteve presente todos os dias, cuidando de mim, nos mínimos detalhes. Juh, naquela altura já sabia que Camila era minha ex, mas ainda insistia em querer falar comigo pessoalmente. Mantivemos contato durante todo esse tempo. Confesso que, por vezes, ainda lembrava do cheiro dela, e daquele sorriso encantador na padaria. Já até tinha esquecido o ocorrido na balada. Eu estava cercado das 3 mulheres que me fascinavam.

Era dia de alta da Camila, faltei da faculdade pra poder acompanhar ela até a casa. Agora, ela iria morar com a mãe. No caminho, especificamente na choperia da esquina, olhei pro lado, enquanto o semáforo não abria, e vi Fernanda com alguém. Tentei ver quem era, mas as buzinas atrás me interromperam, o sinal estava aberto. Pensei em voltar, mas já estava atrasado. Apesar de parecer estranho, aquela situação me deixou com uma sensação estranha.

Se apega, sim!Where stories live. Discover now