Capítulo 30 - ME ACEITA, VAI.

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Me aceitar não significa que irei sair todos os sábados à noite em busca de rapazes para beijar, nem tampouco trocaria um bom livro ou o episódio de alguma série por baladas com gente desesperada, dançando de todas as maneiras mais loucas possíveis, apesar de parecer divertido. Mas eu ainda sou aquele Arthur "diferentão" de sempre. O fato é que ser gay não implica em tornar-se uma pessoa específica. É menos sobre ser e mais sobre sentir. Somos pessoas normais que amam, sofrem, desejam, sonham, erram... Normais. Uma vez eu amei e tive medo, não aceitei, fugi. Quando quis me distanciar daquele sentimento vi que ficava cada vez mais longe de mim, regressei aos poucos. Não foi fácil vencer todas as etapas de uma auto-aceitação, o mundo, por mais que a gente tente negar, influencia nossos passos, atitudes e decisões e torna as coisas muito mais difíceis. Só que olhando bem, percebemos que a vida é bonita, e essa beleza consiste na maneira única que cada um tem de perceber as coisas boas ao seu redor. Dificilmente somos sortudos ao ponto de ganhar pessoas maravilhosas quanto as que encontrei.
Garotos são amáveis, difíceis e totalmente apaixonantes; acredito num futuro feliz ao lado de alguém que possa segurar minha mão e dividir uma música comigo, que me dê motivos para ficar acordado até tarde trocando mensagens. Amar não é a mesma experiência para todos, seja homem e mulher, homem e homem, mulher e mulher. O preconceito é como um óculos embaçado que você insiste em não limpar: Enxerga pela metade por decisão própria, mas sabe que há muito ainda para se ver. Talvez seja mais fácil assitir a cenas sanguinárias e de ódio na TV que demonstrações de amor.

Eu aceitei muitas coisas nessa: Aceitei meu padrasto, meu cabelo bagunçado- fruto do DNA de um pai desconhecido - mas a única coisa que eu resistia em aceitar era o fato de gostar do sorriso de alguns garotos. Nesse momento devem existir inúmeros "Arthurs" espalhados por aí, com medo da paixão que de repente passaram a sentir pelo melhor amigo ou colega de sala, uns vão querer fugir, outros enfrentar, precisarão de um colo onde possam chorar e de alguém para lhes dizer palavras amigas. Tantas vezes eu fui aquele passarinho que se chocou contra a parede e precisou ser recolhido e cuidado para poder voar outra vez. Mas voe, seus pais agirão de uma forma contrária no primeiro momento, tente entendê-los, eu também me revoltei quando minha mãe conheceu outro cara e passou a viver com ele, porém, depois de algum tempo, aceitei numa boa. A vida, como eu já disse, não é ruim, nao pense e, muito menos tente interrompê-la, algumas escolhas não deixam brechas e do outro lado pode não existir sua tábua de salvação. A pressa é inimiga da perfeição, não diria que ir com a maior calma do mundo garantiráum desfecho perfeito, mas possibilitará maior precisão na hora de rever os atos e identificar os erros, lembre-se: O erro nunca é você, mas alguns dirão que sim, tente não se abater com esse tipo de afirmação, pois está claro que essas são as que se incomodam com a sua fumaça.

"Você nunca encontrará paz até que ouça o seu coração" ; não cometa meus erros, não finja que seu Lucas mudou-se para longe, eu sei que é difícil lidar com isso e que mru conselho pode não ajudar a todos, conselhos são conselhos e, no fundo, expressam, claramente, o que o interlocutor não seguiria, olhem o meu exemplo!

Quando o cometa entra no sistema solar, o calor do sol começa a derreter o seu gelo, então ele ganha brilho. Nós gays, um dia, já fomos cometas gelados, até conhecermos as pessoas certas a quem chamamos de melhores amigos ou, neste caso, nosso sistema solar.

***

"Arthur: Arthur.
Arthur: Oi.
Arthur: Eu te aceito. "

Se aceita, vaiOnde histórias criam vida. Descubra agora