Relato

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Eu sempre escrevi e falei sobre feminismo. O comprimento da minha saia não deveria ser um convite para piadinhas sem graça, e o fato de que sou do sexo feminino não deveria significar que sou indefesa.

Hoje, porém, não temos texto feminista, e sim um relato. Antes de qualquer coisa, eu não fui abordada por um homem. Isso tudo não aconteceu num beco e nem pode parecer chocante.

Porque, afinal, duas garotas usando vestidinhos leves e meigos, com traços asiáticos e andando aleatoriamente pelo shopping parecem deveras indefesas — por que não aproveitar a oportunidade, não é mesmo? Ninguém liga se elas cursam o Ensino Médio ou não, até o Fundamental já bastaria.

Uma mulher pareceria mais confiável? Então, que seja uma mulher; ainda que pareça ter sofrido algum tipo de acidente, com o ombro e boca ralados e a mão enfaixada devido à uma queimadura.

Não sei o que você acha de pedidos por dez reais na praça de alimentação, muito menos de empréstimos rápidos de celular, ou, quem sabe, alguém te acompanhando enquanto você não vai embora.
Você acabou de conhecer essa mulher, mas ela parece tão simpática e confiável, elogiando seu vestido e perguntando se você saiu do cinema — caso a resposta for afirmativa, a qual filme você assistiu. Será que realmente estão vindo te buscar?

E aí vem o questionamento. Será que se eu estivesse acompanhada de um garoto isso iria acontecer? Porque a cara de boba já foi comprovada.

Ana Aleatória Where stories live. Discover now