Encontrada no beco

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- Acorda! Acorda!
Disse uma voz sussurrante ao meu ouvido.
Eu estava tonta e minha cabeça doía... Tudo em que eu podia pensar era "O que aconteceu comigo? Por que tudo dói?"

Eu tentei abrir meus olhos com imenso esforço, mas não conseguia ver nada além de borrões.
Abri e fechei os olhos algumas vezes até começar a distinguir melhor as coisas.
"Mas que droga! O que aconteceu comigo?"

Quando finalmente consegui recuperar minha visão, vi um garoto parado ao meu lado. Havia uma mistura de medo e preocupação em seu olhar, como se ele temesse algo que pudesse acontecer e estivesse preocupado comigo também.

Foi então que percebi o estado em que eu estava. Eu estava deitada em um beco. Onde? Eu não tinha a mínima ideia. Minhas roupas estavam rasgadas e havia arranhões nos meus braços e pernas. Eu podia sentí-los queimando a minha pele... Mas que merda é essa?
O caos se instalou em minha mente. Por que aquilo estava acontecendo? O que tinha acontecido comigo, afinal? Já estava começando a entrar em estado de pânico por não compreender a situação em que me encontrava. Onde eu estava? Como tinha chegado ali? Por que estava toda ferrada daquele jeito?...

"Calma, garota. Respire. Apenas respire. Tudo vai ficar bem" disse à mim mesma. Fechei os olhos e respirei bem fundo. Isso me fez ficar mais consciente.
Minha mãe me dizia exatamente essas palavras quando eu entrava em crise de pânico ou quando algo me atormentava. Fosse na escola, quando pequena, ou anos depois quando iniciei minha vida adulta, essas palavras nunca perdiam seu efeito em mim. Eu as repetia para mim mesma, todas as vezes que minha vida parecia fora de lugar e eu me encontrava sem esperança. Esse era, definitivamente, um desses momentos.
Falei as mesmas palavras uma vez e mais outra, como em um mantra...

Mais calma, tentei me mover um pouco, mas não consegui. Eu estava muito fraca e meus músculos teimavam em não obedecer, como se estivessem sem funcionar por décadas. Tudo queimava.
O menino, então, me pegou pelos braços com cuidado e me ajudou a sentar.

Olhei ao meu redor.
Eu estava em beco úmido e escuro. Não havia casas. Apenas muros altos e acinzentados. Pela luminosidade, acredito que se não fossem 4:00 hs da manhã, estava bem perto disso.
O céu ainda estava escuro, mas já havia pequenos feixos de luz se manifestando, tentando quebrar a barreira da escuridão.
Estava perto do amanhecer.

Olhei o garoto que estava de pé na minha frente. Ele devia ter 12 anos, pensei. Os olhos dele eram azuis e seu cabelo era composto por lindos cachinhos negros. Havia algumas manchas de sujeira em sua face, mas o que eu não conseguia parar de fitar eram os seus olhos.
Havia algo de errado ali. Seus olhos pareciam... vidrados.
Não sei se essa é a palavra que melhor define a expressão em seu rosto, mas é a única que consigo me lembrar agora.
Era como se aquele garotinho tivesse presenciado, talvez vivido, coisas terríveis e agora experimentava, pela primeira vez, a liberdade. Mas pelo seu olhar, era nítido que as lembranças, do que quer que seja que ela tenha vivido ou presenciado, ainda o assombravam.

Minha garganta estava extremamente seca, mas ainda assim tentei perguntar com minha voz trêmula :

- Quem é você?

O garoto chegou mais perto de mim e agitado, disse:

- Moça, eu não posso mais ficar. Preciso ir, antes que me levem. Você também precisa ir.

- "Eu não entendo". Eu disse, tentado falar de uma forma mais natural, mas com minha voz ainda partindo. "Qual o seu nome?"

- Não posso te responder isso, mas pegue.

Disse ele ao me entregar um colar. Tentei ler, com dificuldade, a frase transcrita no pingente. Tentei me lembrar o que aquilo significava, mas eu nem sabia que língua era aquela. Ainda assim, de alguma forma, aquelas palavras me soaram familiares... Tentei estabelecer algum tipo de conexão para entender aquilo, mas o esforço só fez a minha cabeça doer ainda mais.
Eu estava cada vez mais confusa...

- Tudo o que você precisa saber é que você sobreviveu. Disse o garoto. Você está viva! Mas você precisa ir embora, fugir para que eles nunca mais possam te machucar novamente.

- Quem são eles? O que eles fizeram comigo? Por favor, me diga!

O garoto começou a correr, me deixando apenas o colar com o pingente misterioso sobre o qual eu nada sabia.

Me vi sozinha...

Olhei ao meu redor. O frio, o medo e a incompreensão me abateram.

Meu corpo começou a se encher de angústia e lágrimas pesadas vieram aos meus olhos.
Tantas perguntas sem respostas...
Eu não sabia o que fazer.

"Calma, garota. Respire. Apenas respire. Tudo vai ficar bem." Continuei dizendo à mim mesma por um longo tempo.

Caçada Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt