Whisky

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Seus lábios tocavam-se sem pena alguma, mas era apenas isso. Para eles, aquilo era um beijo, tão intenso como qualquer outro. Suas bocas estavam secas pelas respirações ofegantes de ambos. Ela o afastou e cobriu o rosto com as mãos.

– Eu vou precisar te deixar bêbada novamente para você ficar comigo? – Ele a olhou quase sério.

– Cala a merda dessa boca, German Castillo. – Ela respirou fundo. – Eu não quero ficar com você, não quero falar com você e nem estar com você. Portanto... Deixe-me em paz.

– Quanto tempo você demorou pra preparar esse discursinho?

Ela não respondeu e esperou as portas do elevador abrirem para sair quase correndo. Não via a hora daquela viagem acabar e se ver livre dele de uma vez por todas. Estava cansada de ficar fugindo daqueles beijos e da vontade que sentia de correr para os braços dele.

Angeles foi até o quarto e procurou qualquer bebida que fosse. Encontrou um whisky forte e mesmo sabendo que não simpatizava muito com esse tipo de bebida, acabou enchendo um copo inteiro. Nem precisou de muito tempo para ela começar a visualizar duas camas. E o problema era que no meio de tanto álcool, surgiu um desejo incontrolável de ter o amor da sua vida naquelas duas camas. Ela pegou o celular e ficou de pé, cambaleando pelo quarto. Procurou o contato e enviou uma mensagem breve para ele.

German estava lendo uns projetos que havia recebido de Ramallo mais cedo por e-mail, até escutar seu celular indicando que tinha uma nova mensagem. Pegou o aparelho e abriu a janela:

Ola myyy loviu, preciso do sua presenca aqui comigo no meeu quarto!!!!! bjssssss lovessss

Ele releu a mensagem algumas vezes e se certificou de que o contato estava certo. Levantou-se e tirou o pijama, para logo em seguida vestir uma calça jeans e uma camisa social azul.

Terminou de se arrumar e pegou o celular. Caminhou até o corredor onde ficava o quarto dela e tentou recordar o número. 169. Riu mentalmente e bateu na porta. Nada. Bateu mais uma vez. Nada. Girou a maçaneta e entrou, porque ela simplesmente tinha deixado a porta aberta. Olhou ao redor e pensou que o que estava vendo não era real. Ela estava cantando com uma garrafa de whisky na mão, fazendo-a de microfone. O único que cobria seu corpo era um roupão cor de rosa, que fazia conjunto com um par de pantufas do mesmo tom de cor, mas em forma de coelhinho. Ela continuo tentando cantar a letra de uma música que tocava no som e levantou o olhar.

– MY LOVESSSSSSS! – Ela chegou a gritar quase com emoção.

– Oi, meu coração.

Ela correu e pulou nos braços dele, jogando a garrafa seca de whisky no sofá. Agarrou o pescoço dele e ficou pulando. Ele não aguentou aquela cena e começou a rir enquanto a segurava pela cintura para tentar fazer com que ela se acalmasse.

– Vem cá, querido... Me dá uns beijos. – Ela sorriu animada e o beijou.

German correspondeu o beijo e parou depois de alguns segundos.

– Vamos pra cama, você precisa dormir. – Ele acariciou o rosto dela.

– Só vou pra cama se você for comigo e não vai ser pra dormir. – Ela cutucou a bochecha dele algumas vezes e riu sozinha.

– Tudo bem, meu amor. Mas vai antes, porque eu preciso ir ao banheiro. – Ele beijou o rosto dela e foi até o banheiro.

Não queria se aproveitar dela naquele estado e sabia que se a deixasse esperando por alguns minutos, ela terminaria dormindo. Observou as coisas dela espalhadas pela pia. Maquiagens, cremes, perfumes, esmaltes, algumas coisas para o cabelo e outros objetos que ele tinha certeza que ela não usaria e que era tudo efeito do jeito precavido dela. Sorriu lembrando de alguns momentos entre os dois e saiu do banheiro ao perceber que já tinham se passado 15 minutos.

Encontrou-a quase jogada na cama, com os cabelos cobrindo uma parte do rosto. Aproximou-se da cama e sentou na ponta, afastando uma mão dela que estava jogada também em seu rosto. Sorriu enquanto terminava de arruma-lá na cama e tirou as pantufas, colocando-as no chão.

Ficou um tempo observando a expressão serena em seu rosto e acariciou seus cabelos, com uma admiração que não tinha tamanho. Para ele, olhar aquela mulher daquela forma o encantava. Ele amava sentir o seu cheiro, tocar a pele, escutar a respiração leve e observar como seu corpo se relaxava enquanto ela dormia.

Pegou uma coberta e cobriu o corpo dela, aproximando-se para beijar sua testa. Deixou os lábios ali por alguns segundos e foi descansar o corpo na poltrona ao lado da cama. Observou o quarto um momento e sentiu os olhos pesarem, até o cômodo se tornar uma grande imagem escura.

...

Angeles sentia sua cabeça pesada e por mais que não lembrasse de quase nada, sabia que não tinha ido parar na cama sozinha. Abriu os olhos e olhou o teto, deslizando as mãos por toda cama, temendo tocar em algum corpo. Nada. Suspirou aliviada e levantou a cabeça do travesseiro. Estava com uma dor no pescoço insuportável e precisava tomar um banho pelo cheiro de álcool no corpo. Sentou-se na cama e gritou ao ver o homem forte dormindo na poltrona ao lado da cama. Ele abriu os olhos assustado e passou a mão pelo cabelo.

– O QUE? – Levantou-se da poltrona, achando que algo tinha acontecido com ela.

– O que você está fazendo aqui? – Ela assegurou que o roupão estava todo fechado e olhou nos olhos dele.

– Você me chamou. – Arrumou a camisa e colocou o celular no bolso da calça jeans.

– Eu o que? Você está ficando louco? – Ela riu irônica e balançou a cabeça.

– Olha a última mensagem que você me enviou.

Ela pegou o celular no móvel ao lado e leu a mensagem, quase que desacreditada.

– Você se aproveitou de mim? – Ela o olhou e sentiu que estava prestes a chorar.

– Eu não acredito que estou escutando isso, Angie. Caramba. Você me agarrou e tentou me levar pra cama. Eu não fiz nada, apenas te coloquei pra dormir.

– Sabia que eu não acredito? – Riu e suspirou, encostando o corpo na cabeceira da cama.

– E sabe o que eu acho? – Ele olhou ao redor e suspirou. – Eu acho que você está querendo formar uma imagem minha só para deixar de me amar.

– Acredite no que quiser. Eu mandei você me deixar em paz e não é isso que está fazendo.

– Porque eu te amo... E eu ia sim te deixar em paz até a viagem acabar, mas ontem você me chamou e eu percebi pela mensagem que estava bêbada. Mas eu não toquei em você com segundas opções. E se você não quer acreditar, o problema é seu.

Ele deu as costas para a cama e saiu do quarto batendo a porta quase de forma agressiva.

Angeles ficou na cama, sem saber o que pensar ou fazer, porque simplesmente não tinha mais ideia do que estava acontecendo. Ficou alguns minutos tentando achar uma maneira de resolver os problemas do seu coração e voltou um pouco no tempo. Sabia que não existia outra opção e que se continuasse perto dele, iria acabar se entregando e não era isso que queria. Definitivamente não queria ficar com ele.
Iria voltar para a Europa.

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