Capítulo 31 - Vinicius Souza

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 Acordei antes que Robson despertasse, aquela história de preocupação dele quanto a quem daria o telefone de Jú, tinha me deixado completamente cheio de dúvidas, principalmente o que tinha acontecido com a Jú para ele está protegendo-a dessa maneira.

Posso não ter a mesma cabeça que ele quando o assunto é dinheiro, prefiro mil vezes morar embaixo de um viaduto ao lado da pessoa que gosto, do que viver ao lado de alguém que não suporto, apenas para viver bem para a sociedade e ter dinheiro no bolso. Quem dera Robson fosse assim, na realidade, eu o conheci antes dele fazer tudo isso.

Quando nos conhecemos no meu local de trabalho, ele me conquistou por todos os valores que tinha e ainda me aproximou com todas as dúvidas que tinha sobre a própria sexualidade, enquanto que eu, já tinha assumido tudo, sem me importar com o que as pessoas pensam, queria ser feliz e se escolhi ser diferente dos padrões, não quero ser aceito por ninguém, mas quero respeito.

Acabamos nos conhecendo e passamos a ficar juntos, foi quando um dia descobri que ele tinha uma namorada, foi um momento difícil e constrangedor, não poderia aceitar nunca essa história, mas o amor faz a gente mudar e agir com o coração, aceitei toda aquela história, desde que ele se livrasse logo da tal, Magda. Mas, as desculpas começaram a vir e isso sempre me irritou.

Se ele realmente me amava como dizia, já deveria ter desfeito todo aquele namoro de fachada, aquilo não era bom pra ele, não deveria ser pra ela, tampouco para mim. Com o tempo, percebi que o que ligava ele a Magda era o dinheiro e a carreira promissora que ela tinha e ele queria isso, dinheiro, poder, prestígio e ganância.

Então, tudo isso foi se juntando como uma bola de neve e eu estava correndo na frente daquilo tudo, quando soube do seu pedido de casamento, quase morri, não é fácil você já ter que ser julgado por ser homossexual, ainda teria que dividir um homem e para acabar de completar, me fazer do outro nessa relação. Mas por amor, aceitei tudo isso em silêncio, mas a realidade é que por dentro, me culpo todos os dias por aceitar isso. Eu deveria ser homem de dizer a Robson que não aceitava mais isso, que chega e colocar um ponto final, mas esse tal amor, não deixa que eu faça isso e eu acabo me desgastando psicologicamente com isso.

Mas, estou tomando uma atitude que sei que se ele souber, não será fácil de me perdoar, mas algo aqui dentro, me manda pegar esse celular, já estou com ele nas mãos, reviro a agenda a procura do nome que tanto preciso, passo o dedo calmamente, enquanto encaro Robson deitado na cama, num sono profundo. Encontrei, era a tal Jú, anotei o número em um papel e enfiei rapidamente dentro do bolso, voltei a desligar o aparelho e colocar sobre a cama.

Tomei um banho e parti para o trabalho, como tinha trocado de horário com uma colega, teria que chegar cedo, assim que cheguei, comecei o meu dia corrido, Robson me ligou várias vezes avisando que estava próximo e que quando o rapaz que viesse pegar o número chegasse, eu ligaria para ele, mas o que ele não sabia era que já tinha o número. Aquela era uma decisão minha, por tudo que vinha aguentando, estava chegando a hora de abandonar toda aquela história, quem sabe tendo uma briga com Robson, eu não desistisse dele para sempre.

Liguei disfarçadamente para o tal número, ele ainda tentou pegar pelo telefone, mas solicitei que ele viesse no horário de almoço e ele aceitou, precisava saber seu nome. As horas pareciam estar paralisadas, eu gostaria que aquela hora chegasse logo. Estava com a faca e o queijo na mão e estava pronto para uma cortada triunfal.

Estava atendendo uma mesa quando o som da porta sendo aberta, chamou minha atenção. O homem moreno de dreads passou por ela, se sentando numa mesa no canto. Ele me chamou e assim que terminei de anotar o pedido, caminhei na direção dele.

- Boa tarde - sorri.

- Boa tarde, então você conseguiu o número? - ele perguntou rapidamente.

- Vamos por parte, primeiro gostaria de saber seu nome.

- Pietro Vargas - o nome dele veio como um soco em meu estômago, agora entendia.

- E qual seria o seu verdadeiro interesse em Jú?

- Não estou entendendo a quantidade de perguntas que você está me fazendo, já te disse que quero o número dela, porque tivemos uma noite e ela saiu sem falar nada.

- Vou te passar esse número, mas se você estiver planejando qualquer coisa, saiba que eu sei seu nome e lanço na mídia.

- Meu caro, jamais me sugaria com qualquer coisa desse tipo, lembre-se que você está falando com Pietro Vargas Albuquerque, filho do dono de uma das maiores empresas de Arquitetura.

- Então está certo - passei o papel escondido para ele.

- Muito obrigado.

- E deseja mais alguma coisa?

- Traz um lanche completo como no último dia - ele solicitou, sorri e caminhei de volta para o caixa.

Estava com o celular na mão e precisava ter certeza do que estava prestes a fazer, disquei os números de Robson e ele atendeu rapidamente.

- Ele está aqui - comentei, e ele desligou a ligação.

Mas, o que eu não tinha certeza era que ele mesmo longe tinha ouvido minha ligação, me olhava de uma forma estranha. Sorri e peguei o lanche dele para entregar. Robson chegou rapidamente, entrando com um touro na lanchonete. Conseguiu chamar a atenção de todos. Pietro sorriu com a presença dele.

- Então como está? - ele se sentou na mesa, fiquei assustado.

- Eu vou bem e já estou de saída - Pietro se levantou.

- Não gostaria de conversar um pouco - ele rebateu com um tom irônico.

- Já disse que estou de saída - Pietro saiu dando as costas.

Robson parecia estar transtornado e acompanhou Pietro, puxando-o pelo braço, com um empurrão Pietro fez com que ele caísse no meio do estabelecimento. Tentei ajudá-lo e pelo olhar de Pietro, ele tinha percebido que já nos conhecíamos.

- Ah, então você são farinha do mesmo saco - ele soltou saindo da lanchonete.

- O que ele disse? - Robson perguntou com raiva.

- Que somos farinha do mesmo saco - repeti.

- Antes que me esqueça, muito obrigado - ele lançou antes de fechar a porta.

- Obrigado? - Robson me encarou.

- Deve ter sido pelo atendimento.

- Vinicius?

- Robson não posso conversar agora, mais tarde conversaremos.

Ele saiu com raiva, mas se tinha algo que eu nunca assumiria, era que tinha dado aquele número a Pietro, e agora era a vez de Pietro consegui dar a volta por cima e desbancar tudo que Robson estava fazendo com Magda. Há males que vem para o bem.

FE-LI-CI-DA-DE

Rendidos de Amor 1Where stories live. Discover now