A Próxima Grande Profecia

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-Ficamos sabendo da profecia na semana passada. -Começa Heitor que está sentado, educadamente no sofá azul da mãe de Joyce, ao lado da lareira apagada a pouco tempo, onde ainda é possível ver o que restou do carvão se desfazendo em brasas alaranjadas.

-E por que vieram atrás de nós? Temos alguma coisa a ver com ela?-indago.

-Para falar a verdade, acreditamos que sim. Em um determinado trecho dela, "uma filha do mar"-diz ele desenhando aspas com os dedos indicadores. - é citada e a única que conhecemos é a Joyce.

Joyce arregala os olhos para ele.

-Eu estou na profecia?!

-O que vai acontecer com ela?!-pergunto espantada.

-Não sabemos, por isso preferimos que ela esteja por perto, mais especificamente lá no acampamento, protegida e vigiada por todos.

-Pelos deuses! Parem de enrolar e falem logo a profecia completa! -diz Joyce impaciente e certamente pertubada com o fato de poder estar envolvida.

-Tudo bem... Vou dizer. -Heitor respira fundo antes de recitá-la. - "acampamento, em poucos dias, poderá  explodir;
E tudo que há nele, deixará de existir;
Os deuses, novamente, em guerra estarão;
E o motivo será o filho do trovão;
Mortais e campistas lutarão lado a lado;
E apenas pela filha do mar, o mal poderá ser exterminado."

Ele expira lentamente e nos encara, obviamente, esperando algum tipo de reação.

-Uau... -Solta Joyce agora com o olhar fitando o piso antigo e gasto de sua sala.

-Eu ouvi mortal? Quer dizer que poderei lutar com vocês? -Diz Kyle que parece ser o único animado com a notícia. Todos lançamos um olhar raivoso para ele, que abaixa a cabeça e fica quieto.

Contamos resumidamente para Kyle, o mundo em que vivemos, explicamos sobre o acampamento, o Olimpo, enfim tudo relacionado ao fato de mitologia ser real, ele simplesmente achou fantástico! Não nos contrariou em momento algum, ouviu a tudo como se tivesse esperado a vida inteira por essa confirmação do que já rondava seus pensamentos. E agora, está mais que entusiasmado para participar de qualquer coisa.

-O que? Como assim explodir? Como assim guerra? Que filho do trovão? Não estou entendo mais nada! -falo, me levanto bruscamente do sofá onde estava sentada, entre Kyle e Heitor e fico andando em círculos tentando compreender pelo menos um mísero trecho desta profecia. -O podemos fazer?

-Sinceramente, não faço ideia...- diz Heitor cabisbaixo. -A ordem que recebemos foi, reunir o maior número de campistas que pudermos e recrutar todos para fazer a proteção do acampamento enquanto aguardamos algum acontecimento.

Ninguém se atreveu a falar nada por um tempo, a tensão tomava conta do lugar, todos pensativos, com o olhar direcionado aos pés.

-"Mortais e campistas lutarão lado a lado", será que isso tem realmente alguma coisa a ver com Kyle? Quero dizer, não necessariamente ele, mas será que precisaremos recrutar mortais também? Ou seja, explanar tudo à todos para conseguir salvar o acampamento?- Pergunto, quebrando o silêncio.

-Talvez sim, talvez não, nunca se sabe.- Responde Joy. -Profecias são as piores charadas do universo!

- O acampamento inteiro está preocupado com o anúncio de uma nova guerra. Portanto, mais um motivo para vocês duas voltarem para lá. Precisamos nos prevenir e treinar bastante.- Fala Carl, que se mantinha  calado até o momento.

-Tudo bem.- digo por fim.- Vamos voltar hoje mesmo! Se vocês precisam de ajuda, vamos ajudar! Só vou em casa arrumar minhas coisas em uma mala e claro, falar com minha mãe. Já volto.

-Eu vou lá em cima arrumar minha mala também. Quando chegarmos lá mando uma mensagem de Íris para minha mãe.- Afirma Joyce. A mãe dela tinha viajado para o Colorado à trabalho.

-Bom, é melhor eu ir andando, pelo que me disseram, não posso ir com vocês né? - diz Kyle um pouco decepcionado- Por causa da barreira do acampamento e tal... vejo vocês depois, se precisarem é só dar um grito que eu apareço! Sei que é um assunto sério... mas confesso que adoraria participar de uma guerra sabe?! Derrotar uns monstros, usar armas de verdade, como espadas, adagas, facas, tem como arrumar uma dessas para mim?- ele aponta para a faca de bronze que está na cintura de Carl, a mesma que feriu Joyce anteriomente. Carl recua rapidamente como que por reflexo, antes mesmo de Kyle conseguir tocar o cabo da arma.

-Kyle, Kyle...- suspiro.- Só você para nos fazer rir em uma horas dessas!- Se precisarmos, chamamos sim, ok? Quer uma dessa?- Ele assente com a cabeça, como uma criança aceitando bala de um estranho.- Tudo bem. Nós vamos arrumar uma para você. Agora vá para casa e preciso que prometa que não vai contar nada para ninguém sobre tudo que você ouviu aqui, ok?

-Ok! Eu prometo! Boa sorte, Anne.- Ele me abraça antes de ir embora, os cachos loiros se misturando aos meus fios roxos,. Recua, me olha nos olhos por uma fração de segundo, como se fosse dizer algo, porém desiste, gira nos calcanhares e acena para meus amigos, logo em seguida se retirando do imóvel.

[...]

Ao chegar na minha casa, encontro minha mãe na sala, sentada no sofá, assistindo à um filme qualquer.

Nunca me imaginei em uma guerra. Os monstros que enfrentei ano passado não são nada comparados à uma guerra real, com vários monstros ao mesmo tempo, terei de lutar talvez até contra deuses! Existem chances enormes de eu morrer nessa guerra! Como irei contar isso para minha mãe? Ela vai surtar!

Ao ouvir o som da porta sendo fechada, ela levanta e vem me cumprimentar. Dou um bejo em sua testa mas não esboço sorriso, o que faz com que ela me encare séria.

-O que houve, Anne? Por que essa cara? Tirou quanto?! Eu disse para lagar aquele computador e ir estudar! MAS NAAAAO!!!... - Ela começa a tagarelar sem parar.

-Não é nada disso mãe !- falo mais alto cortando ela. - Preciso conversar com você. Algo bem mais sério do que minhas notas.

-O que foi, Anne?! Não estou gostando nada disso! Fala logo.

-Tenho que ir para o acampamento.

-O que? Como assim? Você não tem que ir para lá só nas férias?

-Eles precisam da nossa ajuda agora.

-O que está acontecendo lá Anne? É alguma coisa com seu pai? Ele está bem?

-Ele ta bem mãe. Eu acho. O que está em perigo é o acampamento. Vou te explicar, senta aqui.

Ela escuta tudo com calma. Considero minha mãe uma pessoa compreensiva. Até que não foi tão difícil convencê-la a me deixar ir. Claro que antes de dizer sim tiveram vários sermões de "cuidado com isso, cuidado com aquilo...", essas frases típicas de mãe. Mas no final ela concordou, sabe que é meu dever de semideusa estar sempre a postos quando precisam de mim, como um soldado, mas sem a parte do salário.

E agora estamos nós quatro, Eu, no banco do carona, e Joyce, Carl e Heitor no banco traseiro do carro da minha mãe em direção ao perigo, em direção a novas aventuras e talvez, em direção à morte.

A Nova Semideusa- Anne Collins                               Livro 2Där berättelser lever. Upptäck nu