Capítulo 29

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Abro um sorriso acolhedor a Ryan, quando o mesmo se senta bem á minha frente, na mesa redonda de vidro onde todos estamos alojados a conversar e a desfrutar dos nossos saborosos gelados caseiros de Charlie, o dono do estabelecimento que, pelos vistos, é bastante frequentado por Zayn e pelos seus amigos.

-Não sabia que vinhas.- o rapaz de cabelos loiros diz com a sua típica voz melancólica.

-Pois, também não sabia que tu vinhas.- eu riu-me um pouco e apoio os meus cotovelos em cima da mesa.

-A minha irmã enviou-me uma mensagem a dizer para vir, tu sabes, espairecer um pouco e isso. Tenho ficado muito tempo fechado em casa.- ele explica-se com um pouco de angústia e eu aceno com a cabeça. Olho em meu redor, vendo Zayn jogar bilhar a meros metros de distância da nossa mesa, ele repara que o observo e sorri gentilmente, um sorriso que me aquece o coração de uma forma inexplicável. Volto a captar a minha atenção em Ryan, que me olha com um certo nervosismo e ansiedade.

-Queres ir dar uma volta? Honestamente, já me estou a passar aqui, está muito abafado...- ele diz e coça a sua nuca com desconforto e eu mordo o lábio indecisa.

Não queria lá muito abandonar o local e deixar o grupo, sinceramente, estava a gostar imenso dos amigos de Zayn. Todavia, não podia fazer essa desfeita a Ryan, por isso, aceitei o seu simpático convite e decidi acompanha-lo.

Levanto-me da minha cadeira e Ryan emita o meu ato, fazendo com que todos na mesa nos observem confusos.

-Vamos dar uma volta.- eu declaro com naturalidade e encolho os ombros. Amber lança-me um olhar reprovador e eu simplesmente ignoro-a.

-Por favor, avisem o Zayn, eu volto rapidamente.

Todos assentem e eu deixo um beijo na bochecha da minha melhor amiga, antes de abandonar o café bastante acolhedor, junto a Ryan. Ao sentir a brisa gelada desta noite, visto o meu casaco de ganga e aviso-me mentalmente de que preciso, urgentemente, de fazer compras para o Inverno, que já se encontra próximo. Embora este ano tenha havido sempre um calor insuportável durante um longo período de tempo, estes dias já se começa a notar o frio presente. E eu faço figas para que neve, este Inverno. Embora as probabilidades de isso acontecer sejam mínimas.

Ryan esboça um sorriso amoroso e totalmente adorável, que outrora, era bem mais triste e sem vida. Sorrio de volta e começo a caminhar lentamente pela rua iluminada e repleta de bares e restaurantes, Ryan está ao meu lado de cabeça baixa e mãos escondidas dentro dos bolsos das calças. Um silêncio agradável paira sobre nós.
Olho para cima, vendo o céu quase vazio. Poucas estrelas estão presentes esta noite, mas a lua cheia está belíssima, cheia de luz. Infelizmente, todas as luzes extravagantes e, na minha opinião, um tanto desnecessárias, da cidade, fazem com que a luz natural da lua e das estrelas percam o seu grandioso brilho.
Resolvo romper o silêncio e começo a falar.

-Sabes, quando era mais nova, a minha avó costumava dizer-me que cada estrelinha que víamos no céu, simbolizava uma pessoa que tinha partido.- digo isto com os olhos a brilhar, enquanto encaro o rapaz sossegado. Antigas memórias da minha querida avó retornam á minha mente e eu sorriu com grande saudade.- um dia, quando ela faleceu, deitei-me na relva do meu enorme jardim de barriga para cima e pus-me a observar as estrelas, com o rosto todo encharcado de lágrimas. Olhei para todos aqueles pequenos pontinhos luminosos com muita concentração e, depois, cheguei á conclusão que a minha avó era a maior delas todas. Era tão grande, cheguei a chamar-lhe de "a estrela mais gorda", a estrela que tinha engolido mais luz e tinha ficado realmente muito inchada. Não sei porquê, mas de qualquer forma aquilo reconfortou-me e todas as noites, sempre que me deitava ali a olhar para as estrelas, ela estava lá, comigo. Ficava a falar com ela, a contar-lhe todos os meus problemas. Isso fez com que não passasse tantos dias a chorar pela sua morte, fez com que sorrisse mais sobre o assunto. Comecei a levar a morte numa forma menos má, porque acreditava que depois todos iam para para o céu e todas as noites tinham a capacidade de contactar comigo. Era estúpido, mas resultava muito bem comigo.

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